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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A passos largos


A obra adventista iniciada em Gaspar Alto e quase simultaneamente em outras partes do Brasil avançou a passos largos. Na Igreja de Gaspar Alto foi estabelecida, em 1897, a primeira escola missionária adventista brasileira, dirigida inicialmente por Guilherme Stein Jr. Dela saíram colportores, professores e alguns pastores que, “unidos no mesmo ideal, trabalharam em regiões diversas espalhando a mensagem adventista pelo Brasil afora”.[1]

Por volta de 1900 – cinco anos depois da sua organização – a Igreja de Gaspar Alto já tinha mais de cem membros. O aumento crescente de interessados e novos conversos, principalmente nos estados sulinos, no Espírito Santo e Rio de Janeiro, levou a Associação Geral a providenciar um pastor efetivo para o Brasil: Huldreich F. Graf.

Natural da Alemanha, Graf foi morar nos Estados Unidos, onde aceitou a mensagem adventista, sendo ordenado pastor em 1891. Foi enviado ao Brasil pela Associação Geral, chegando ao Rio de Janeiro em quatro de outubro de 1895. Durante 12 anos trabalhou como evangelista, assumindo depois a presidência da Missão Brasileira e da Associação Rio-Grandense.[2] Em maio de 1902, a Missão Brasileira passou a ser Associação Brasileira, então com 900 membros, e o pastor Graf continuou como presidente. Em 1906 foi organizada a União Sul-Americana, e a Associação Brasileira foi dividida em três áreas:

1. Associação Rio Grande do Sul (com mais de 300 membros), com o pastor Graf como presidente.

2. Associação Santa Catarina-Paraná (com cerca de 400 membros), com Waldemar Ehlers como presidente.

3. Missão de São Paulo, com sede em Rio Claro (com 20 membros), tendo como presidente Frederick W. Spies.

Graf foi um grande exemplo de pioneiro. Seus trabalhos como pastor lhe custavam longas e contínuas viagens. Os caminhos naquele tempo eram pouco conhecidos e difíceis, e os meios de locomoção mais rápidos e seguros eram o cavalo, a mula ou o burro. Sobre sua viagem mais longa escreveu um livro chamado Cem Dias no Lombo de Uma Mula. Foi nessa viagem que o pastor Graf encontrou a família Kümpel, na região de Passo Fundo, RS. Ali ficou durante 11 dias e batizou 40 pessoas, dentre as quais os cinco filhos do casal Guilherme e Helena Kümpel, pioneiros da obra adventista no Rio Grande do Sul. Calcula-se que o pastor Graf tenha viajado, durante seus 12 anos de ministério, cerca de 25 mil quilômetros em cima de burro. Mais que meia volta ao mundo pela linha do Equador!

Em certa ocasião, viajava pela região de Taquari em busca de alguns crentes. À tarde percorria uma trilha aberta em um bosque, quando a mula desviou para a esquerda por um caminho estreito. O pastor Graf tentou fazer o animal voltar ao caminho principal, sem sucesso. Conformado, disse ao animal:

– Eu não quero ser como Balaão. Vá por onde Deus te guiar.

Depois de mais ou menos uma hora, chega à casa de um colono.

– Vim aqui por que a mula me indicou este caminho. Sou um missionário adventista e penso que Deus me guiou à tua casa com algum propósito.

– Graças a Deus! – responde o colono entusiasmado. – Faz quase dois anos que estamos pedindo ao Senhor que nos envie um missionário adventista!

O pastor Graf ficou três dias naquela casa, ao final dos quais realizou o batismo da família. Mais tarde, organizou-se ali uma igreja.

Noutra ocasião – relata Héctor Peverini – Graf viajava perto da cidade de Cachoeira do Sul, acompanhado por outro missionário. De repente, começou uma tormenta que obrigou os dois a se refugiarem num bar. Os homens que estavam bebendo, ao notar que os dois eram missionários, começaram a caçoar de Deus e da religião. O pastor Graf os repreendeu suavemente:

– Meus amigos, vocês não deviam falar assim do Deus dos Céus.

– Se há um Deus no Céu – diz arrogantemente um homem com uma garrafa de cachaça numa das mãos e um cigarro de palha apagado na outra, – quero ver Ele acender o meu cigarro.

Dizendo isso, estende a mão para fora da casa, no mesmo instante em que um raio o fulmina completamente.

Anos mais tarde, quando o pastor Ernesto Roth dirigia uma série de conferências em Picada do Rio, muitas pessoas ainda recordavam do trágico incidente que inspirou respeito a Deus e a Seus ministros. Mas as perseguições continuaram em outras regiões.

Certa ocasião, o pastor Graf, auxiliado pelo pastor Ernesto Schwantes, dirigia reuniões em uma tenda, próxima à cidade de Rolante. Mas um caboclo da região não estava contente com o grande número de pessoas que participavam dos encontros. Empenhou-se em impedir o avanço da mensagem adventista. Numa quinta-feira à noite, quis impedir a entrada do povo à tenda dizendo, aos gritos, que amarraria os missionários protestantes à cauda de um burro e os arrastaria pela colônia até acabar com eles. 

Na noite do sábado seguinte, o homem foi a um baile. De repente, começou uma briga. Um tiroteio. E o caboclo acabou sendo atingido por várias balas no ventre. No hospital, antes de morrer, sussurrou: “Eu blasfemei contra Deus e contra os adventistas, por isso tenho que morrer tão miseravelmente.”

“Foi exatamente em Rolante (Fazenda Passos) que surgiu uma das mais fortes igrejas, que produziu cerca de duas centenas de obreiros que ajudaram a levar a mensagem para todas as fronteiras do Brasil.”[3] 

Huldreich Graf batizou mais de 1400 conversos e organizou mais de vinte igrejas durante seus 12 anos de trabalho no Brasil. Pôs em marcha várias escolas, uma das quais foi a base do Instituto Adventista de Ensino (hoje Unasp, campus São Paulo) e contribuiu, também, para a criação da primeira casa editora do Brasil. Depois de retirar-se do trabalho por motivos de saúde e regressar aos EUA por algum tempo, voltou ao Brasil para passar aqui seus últimos anos de vida.

Huldreich F. Graf foi o primeiro ministro designado para trabalhar no Brasil 

Outro homem que contribuiu grandemente para a consolidação da obra adventista no Brasil foi Frederick Weber Spies. Spies chegou ao Brasil em 1896, um ano depois de Graf. Era norte-americano de origem alemã. Aceitou a fé adventista em 1888, aos 22 anos, e trabalhou quatro como colportor (vendedor de literatura religiosa). Foi enviado à Alemanha para dirigir a obra de colportagem naquele país, de onde foi chamado à América do Sul.

Trabalhou os primeiros anos como pastor nos estados do Espírito Santo e Minas Gerais. Em 1900 foi transferido para Santa Catarina. Viajou, às vezes acompanhado por sua esposa, milhares de quilômetros nesse Estado, como também no Paraná e Rio Grande do Sul. Em 1903 foi para o Rio de Janeiro. De 1917 até 1923, foi presidente da União Sul-Brasileira. O território foi dividido, então, em duas grandes unidades administrativas. Dirigiu também a União Este do ano de 1923 a 1927. De 1927 a 1932 foi gerente da Casa Publicadora Brasileira.

Spies foi um dos principais dirigentes do movimento adventista no Brasil durante suas três primeiras décadas. Foi também um dos pastores adventistas que mais viajaram pelo País nos tempos em que os meios de locomoção eram precários. Em um período de quatro anos percorreu 950 quilômetros por água, 800 de trem e 2.700 em lombo de burro.

“Aqueles dias primitivos” – escreveu Spies na Revista Mensal de setembro de 1924 – “requeriam sacrifícios de toda espécie: longas e penosas viagens em lombo de burro ou a cavalo, e a ausência de casa de dois a seis meses cada vez. Eram poucas as semanas passadas em casa em cada ano; porém, o trabalho não foi inútil... podemos exclamar: Quantas coisas tem feito Deus!”

Frederick Weber Spies foi um dos principais dirigentes da Igreja Adventista durante suas três primeiras décadas no Brasil

A Mensagem Impressa

No Brasil, a obra adventista deve seu início e expansão, sem dúvida, à página impressa e ao trabalho dos colportores. Além do pioneiro Albert B. Stauffer, dois irmãos colportores – Alberto e Frederico J. Berger – iniciaram no Rio Grande do Sul, em 6 de agosto de 1895, o seu plano de vendas de literatura nas colônias alemãs. Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Espírito Santo também foram trabalhados por esses dois homens.

Segundo o Dr. Gideon de Oliveira, em artigo publicado no livro História de Nossa Igreja, “esses pioneiros da colportagem eram verdadeiros heróis que rasgavam o sertão em suas montarias, levando seus livros, vivendo intrepidamente cada dia as surpresas e os percalços da jornada aventureira – calor, fome, frio, chuva torrencial, lama, ventania. Muitas vezes dormindo ao relento e expostos a animais perigosos, mas não desanimavam em sua nobre missão”.

Nas pegadas desses pioneiros, seguiram Henrique Tonjes, Germano Conrado, Emílio Froeming, Hans Mayr, Saturnino Mendes de Oliveira, Antônio L. Penha, José Negrão, Hermínio Sarli, André Gedrath e muitos outros que propagaram a mensagem adventista nos diversos cantos brasileiros.

A colportagem no Brasil começou a se desenvolver mais a partir do momento em que se passou a publicar literatura em português. Inicialmente, foi impresso o Arauto da Verdade, periódico editado de 1900 a 1913; foi substituído depois pela revista Sinais dos Tempos, até 1918, quando passou a ser publicada a revista O Atalaia e, depois, novamente Sinais dos Tempos.


Grande impulso foi dado à evangelização com a publicação de revistas em português. Na foto, o primeiro número de O Arauto da Verdade, que se tornou posteriormente O Atalaia e depois, novamente, Sinais dos Tempos

Para melhor atender à obra de publicações, foi decidido o estabelecimento de uma editora denominacional no Brasil. Por sugestão do pastor Graf, foi instalada junto à Escola Missionária de Taquari, no Rio Grande do Sul. Assim, conseguiu-se economia de locação e proporcionou-se trabalho aos alunos do colégio.

A fim de conseguir dinheiro e um prelo para dar início às publicações, o pastor John Lipke viajou aos Estados Unidos e, em várias igrejas daquele País, falou sobre as necessidades da Obra no Brasil. Seu apelo foi atendido: recebeu 1.500 dólares em donativos, e o Emmanuel Missionary College, de Barrien Springs, doou um prelo manual para a imprensa a ser fundada em Taquari.


Editora adventista em Taquari e a réplica do primeiro prelo, doado pelo Emmanuel Missionary College 

George Sabeff, que fora aos Estados Unidos estudar Medicina, ganhava seu sustento trabalhando na Sociedade Internacional de Tratados. Ouvindo o apelo de John Lipke, veio ao Brasil trazendo consigo o material necessário ao funcionamento da editora. Com sua experiência em tipografia, Sabeff montou o prelo, as instalações correspondentes e passou a fazer a composição das primeiras publicações, tendo Augusto Preuss como ajudante. Augusto Pages foi convidado para ser o gerente da Sociedade Internacional de Tratados do Brasil.

A editora de Taquari produziu a primeira edição do Arauto da Verdade em 10 de maio de 1905. Outros periódicos se seguiram: o Advent Arbeiter,Rundschau der Adventisten, para os adventistas alemães e, a partir de 1906, a Revista Trimensal, precursora da Revista Mensal (1908). A Revista Adventista começou a ser publicada em 1931. Um opúsculo de trinta e duas páginas, A Segunda Vinda de Cristo, foi a primeira obra impressa; o primeiro livro foi A Vinda Gloriosa de Cristo.

No fim de 1907, a tipografia mudou-se para São Bernardo (hoje Santo André, SP), num local onde viria a funcionar a Casa Publicadora Brasileira, até ser transferida para Tatuí (em 1985), onde se encontra até hoje. São Bernardo, por ser mais central, facilitava o transporte e a divulgação da literatura nos vários Estados. Em 1908, chegaram dois prelos movidos com motor a gasolina, acelerando a produção. Mas, mesmo assim, o trabalho não era nada fácil pois “cada um tinha que, além de redigir, incumbir-se de traduzir e providenciar as colaborações, também arrumar as ilustrações e incumbir-se de outras tarefas, hoje ao encargo do departamento de arte e diagramação, cuja ausência naquele tempo fazia muita falta, aumentando e dificultando muito nosso trabalho”[4], escreveu o pastor Luiz Waldvogel.


Casa Publicadora Brasileira em Santo André (de 1907 a 1985) e em Tatuí

Hoje a igreja na Divisão Sul-Americana conta com os serviços de duas publicadoras. A Editora Sudamericana, em Buenos Aires, Argentina, é responsável pela literatura para os sete países de língua hispânica no continente. A Casa Publicadora Brasileira, em Tatuí, SP, atende o Brasil e outros países de fala portuguesa. 

A Obra Educacional

Onde chega a mensagem adventista logo surgem escolas e colégios. No Brasil não foi diferente. Já no ano de 1896, em Curitiba, PR, passou a funcionar o primeiro Educandário Adventista dirigido pelo professor Guilherme Stein Jr., auxiliado por Vicente Schmidt, chegando a alcançar uma matrícula de 120 alunos logo no primeiro ano de existência.


Escola Internacional de Curitiba, 1896

Em 15 de outubro de 1897, foi fundada a primeira Escola Missionária no Brasil, em Gaspar Alto, sob a direção do professor Guilherme Stein Jr., substituído em 1900 por John Lipke, a convite dos pastores Spies e Thurston.

O pastor Renato E. Oberg, juntamente com os pastores R. R. Figuhr e Rodolfo Belz, visitou Gaspar Alto em fevereiro de 1944 – “a mais antiga comunidade adventista no Brasil”, escreveu ele na Revista Adventista de setembro de 1944, página 23. Na ocasião, conta o pastor Oberg, eles tiveram o “prazer imenso de conversar com alguns daqueles irmãos que viram os alvores da mensagem angélica em nosso torrão nacional”. 

Bernardo Loeschner, um dos pioneiros ainda vivo na época, mostrou aos pastores um caderno bastante antigo, cujas páginas amareladas revelaram um conteúdo bastante precioso: era o livro de registros que continha a ata da primeira reunião da Junta Escolar da primeira escola paroquial adventista no Brasil. Abaixo, um trecho da ata:

“História da fundação da Escola Adventista de Brusque. 

“‘Pois a sabedoria entrará no teu coração, e a ciência será suave à tua alma; o bom siso te guardará e a inteligência te conservará.’ Prov. 2:10 e 11.

“No dia 15 de outubro de 1897 esteve reunida a igreja dos adventistas do sétimo dia, em Brusque, na casa do irmão Augusto Olm, a fim de tratar da fundação de uma escola. Assistiram a esta reunião os seguintes membros: Augusto Olm, ancião; Reinoldo Belz, diácono; Francisco Belz, secretário; Guilherme Belz; Guilherme Belz Filho; Guilherme Wagner; Francisco Peggau; Bernardo Loeschner; Ludovico Log; Frederico Peggau; H. F. Graf, superintendente do campo missionário brasileiro; A. L. Stauffer, missionário; e G. Stein, professor.” 

Na escola de Gaspar Alto o ensino era ministrado em alemão. De manhã funcionava o nível primário e à tarde, o secundário. O edifício escolar estava dividido em duas partes, uma para a igreja e outra para as atividades do colégio. Em 1900, já dispunha de um dormitório para alunos internos. Funcionava como escola agroindustrial, como os demais colégios adventistas que posteriormente foram estabelecidos no Brasil. Os alunos trabalhavam 26 horas semanais e conseguiam assim pagar seus estipêndios incluindo alojamento, pensão e estudo.[6]

William H. Thurston apresentou à Conferência Geral, em 1900, um relatório sobre a escola de Gaspar Alto: “Nossa Escola Missionária está localizada a cerca de 13 quilômetros da cidade mais próxima, em um belo vale, pelo qual escoa um cristalino regato, e está circundada pela influência celestial de uma grande igreja. ...Temos 60 acres de terra, um dormitório para alojar adequadamente 40 alunos, e um edifício escolar, tudo já totalmente de nossa propriedade.”[7]


Primeira Escola Missionária do Brasil, 1897

A segunda Escola Missionária foi fundada em Taquari, RS, em agosto de 1903, tendo como diretor o professor Emílio Schenk. Posteriormente foi transferida para São Paulo, por sua melhor localização. Entre os alunos que estudaram nessa escola missionária estavam Leopoldo Preuss, Saturnino Mendes de Oliveira e José Amador dos Reis, o primeiro pastor brasileiro a ser ordenado ao ministério. 

Em 1915 foi estabelecido o Seminário Adventista, conhecido depois como Colégio Adventista Brasileiro (CAB), Instituto Adventista de Ensino (IAE) e, atualmente, Centro Universitário Adventista, campus São Paulo. Seus fundadores foram John Lipke e John Boehm. O primeiro professor foi Paulo Henning, que no dia 4 de agosto de 1915 ministrou a primeira aula a 12 alunos.

Hoje são três campi (São Paulo, Engenheiro Coelho e Hortolândia) que compõem o Centro Universitário Adventista, aprovado pelo Governo Federal, cujo decreto foi publicado no Diário Oficial da União, no dia 10 de setembro de 1999.


Colégio Adventista Brasileiro e o atual Unasp, campus Engenheiro Coelho

Hoje a igreja no Brasil possui centenas de instituições de educação, entre escolas primárias, secundárias e universidades, que se somam às milhares de escolas e universidades adventistas espalhadas pelo mundo.

A Obra Médico-Missionária

Paralelamente à pregação do evangelho e ao estabelecimento de escolas, o adventismo procura ensinar ao povo os princípios de uma vida mais sadia, à base de alimentos naturais e abstenção de tudo que seja prejudicial ao corpo.

Quando o pastor Huldreich Graf chegou ao Brasil – em 1895 – procurou ensinar a importância dos tratamentos naturais, chegou mesmo a ministrá-los, quando não havia outros recursos disponíveis.

Foi em 1900 que o Dr. Abel Gregory, médico e dentista norte-americano, veio ao Brasil como missionário voluntário, para auxiliar no desenvolvimento da Obra no Rio Grande do Sul. Graças a seus serviços foram derrubados muitos preconceitos contra a Igreja Adventista.

Ernesto Bergold, impressionado com os princípios de saúde adventistas, converteu-se ao adventismo e decidiu manter por conta própria um hospital para administração de hidroterapia e tratamentos naturais, em Taquara, RS. O estabelecimento funcionou até 1928, no local onde hoje se encontra o Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS). (Os filhos de Ernesto – Adolfo e Ernesto – desempenharam importante papel no início das atividades da empresa denominacional que viria a ser conhecida como Superbom, produtos alimentícios naturais.)

O trabalho de assistência social aos povos do sertão e aos índios Carajás, na Missão do Rio Araguaia, foi prestado em parte pelo Pastor A. N. Allen, em 1928. Maior impulso, contudo, foi dado a este setor a partir do ano de 1953, quando foi inaugurada a lancha Pioneira, pilotada pelo enfermeiro-missionário Lair Montebelo. Só no setor de Araguacema, em quatro anos de atividade, foram atendidas mais de 23 mil pessoas com tratamentos, instruções e medicamentos.

No vasto Amazonas, a lancha médico-missionária Luzeiro I, pilotada pelo missionário Leo B. Halliwell e sua esposa Jessie, possibilitou também a execução de grande trabalho filantrópico na região banhada pelo Rio Amazonas e seus afluentes. O pastor Halliwel e sua esposa, a partir de 1931, dedicaram 25 anos ao trabalho entre os habitantes carentes do Vale do Amazonas. Atenderam 250 mil pessoas, muitas das quais se converteram ao adventismo. Ainda hoje o trabalho dos Halliwel é lembrado pelo povo da região.

Não havia ainda Igreja Adventista quando Leo e Jessie foram trabalhar no Rio Amazonas. Em 1956, porém, já havia 22 igrejas, 56 escolas sabatinas, três mil membros batizados, 15 escolas elementares, 15 professores que ensinavam cerca de mil alunos, um hospital, dois médicos e enfermeiras, 15 pastores e evangelistas.

Em 1959 já eram quatro Luzeiro servindo no Vale do Amazonas e outra lancha atendendo aos habitantes próximos ao Rio Parnaíba, na divisa do Maranhão com o Piauí.

Em 1946, no Rio São Francisco, a lancha Luminar, por dez anos pilotada pelo pastor Paulo Seidl, prestou assistência a cerca de 46 mil doentes nos Estados da Bahia e Minas Gerais. Quase na mesma época, Benito Ribeira atendia as populações pobres e doentes do Vale do Rio Ribeira, em São Paulo, com a lancha Samaritana.

Leo e Jessie Halliwel, os missionários do Amazonas

Em 1994, a Igreja Adventista contava com 25 instituições de saúde, 1.004 leitos e 3.862 obreiros e funcionários. Em quatro anos (90-94) foram atendidos mais de 200 mil pacientes, que tomaram conhecimento dos princípios de saúde adventistas.

Por mais de duas décadas a igreja promove o Dia Sem Fumar e Sem Beber. Esse programa foi iniciado no Chile, pelos jovens adventistas, tendo se espalhado por toda a América do Sul. Milhares de jovens, desbravadores e alunos das escolas adventistas saem às ruas nesse dia convidando o povo a não fumar e não beber, expondo os males desses vícios.

Além disso, as Escolas de Recuperação de Alcoólatras, os Cursos Como Deixar de Fumar e Beber, palestras sobre saúde e outras “tem ajudado milhares de pessoas a vencerem o vício ... e aceitarem a Cristo como seu Salvador Pessoal”.[8] 

*****

“Por alguns anos, os cientistas têm-se interessado em estudar a saúde dos adventistas... Por mais de cem anos os adventistas têm insistido na importância da saúde e da dieta, e da necessidade de moderação na ingestão de alimentos ricos em açúcar e gordura saturada... Em quase todas as doenças de importância, os adventistas estão muito abaixo da média no que diz respeito ao risco. Algumas diferenças são surpreendentes, como por exemplo, na enorme redução do risco do infarto do miocárdio para homens, que cuidadosamente seguem as idéias de saúde de sua Igreja... Nas informações obtidas... podemos observar que um homem adventista, cuja idade esteja entre 35 e 40 anos, na Califórnia, pode esperar viver seis anos mais do que seu companheiro mediano. E ele não apenas vai viver mais, provavelmente vai viver melhor durante esse período... Essa melhora, em expectativa de vida, é maior do que todos os esforços em saúde pública conseguiram junto à população nos últimos setenta anos.”[9]

*****

“Ao recapitular a nossa história passada, havendo revisado cada passo do progresso até ao nosso nível atual, posso dizer: louvado seja Deus! Ao ver o que Deus tem obrado, encho-me de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos para recear quanto ao futuro, a menos que nos esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 443).

Referências:

1. História de Nossa Igreja. Departamento de Educação da Associação Geral da IASD, 1959, p. 312.
2. Seventh-Day Adventist Encyclopedia, verbete Graf, Huldreich F., p. 473 – citado por Ruy Carlos de Camargo Vieira em Vida e Obra de Guilherme Stein Jr. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995, p. 142.
3. Moróz, David. “Origem e História dos Adventistas no Rio Grande do Sul”,Revista Adventista, janeiro/94, p. 35.
4. Waldvogel, Luiz. Memórias do Tio Luiz, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988, p. 142, 143.
5. Dados obtidos do relatório do pastor João Wolff sobre as atividades da Divisão Sul-Americana da IASD no qüinqüênio 1990-94, Revista Adventista, junho/95, p. 7, 8.
6. Peverine, Héctor J. En Las Huellas de La Providencia, Argentina: Associacion Casa Editora Sudamericana, 1988, p. 108.
7. General Conference Bulletin, v. IV, extra número 5, 1st quarter, 1901, p. 121 – citado por Ruy Carlos de Camargo Vieira, op. cit., p. 155. 
8. Relatório do pastor João Wolff sobre as atividades da Divisão Sul-Americana da IASD no qüinqüênio 1990-94, Revista Adventista, junho/95, p. 9.
9. Seis Anos a Mais. Instituto Adventista de Estudos em Saúde, São Paulo: 1988, p. 4-6.


Acesso Teológico
Naldo JB

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Das colônias alemãs para o Brasil


São Leopoldo, no Vale dos Sinos gaúcho, foi o ponto de partida de uma saga iniciada em 1824 com a fundação da primeira colônia de imigrantes alemães no país, então recém-emancipado de Portugal. Por influência de José Bonifácio, dom Pedro I decidiu inaugurar com eles um programa de imigração para o sul movido não apenas por questões de segurança nacional, diante das sucessivas disputas territoriais naquela então erma região fronteiriça, como também por um casamento de interesses políticos, literalmente – filha de Francisco I, da Áustria, a imperatriz Leopoldina tinha sangue germânico. A Alemanha de então era muito diferente da atual. Havia dezenas de reinados, principados, ducados, todos independentes, mas unidos precariamente pelo idioma, que viriam a ser unificados por Bismarck, em 1871. Bem antes disso começou o êxodo, impulsionado pela escassez de terras que apenas garantia sua posse ao primogênito de cada família.


Desde a fundação de São Leopoldo, aproximadamente 300 mil alemães se instalaram no Brasil, mas nem sempre fixaram raízes num único lugar. Depois de colonizar o Rio Grande do Sul, ainda no século 19 eles subiram para Santa catarina, hoje o Estado com a maior população de descendência alemã – mais de 20% do total –, e rumaram para o Espírito Santo, marcando também presença no Paraná e, em menor escala, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Pelo caminho foram semeando descendentes e expressivas lideranças em todas as áreas da vida nacional. Firmaram seu nome nessa galeria, entre outros, o ex-presidente Ernesto Geisel, Lauro Müller, ex-ministro da Viação do presidente Rodrigues Alves, e João Henrique Böhm, chefe do Exército de dom José I no Brasil.



Mas o mais importante: foi entre os alemães que a mensagem adventista inicialmente encontrou guarida e fincou raízes no Brasil. Gradualmente, o adventismo começou a se expandir alcançando os brasileiros de origem latina. Fundamental para isso foi o início da publicação de O Arauto da Verdade, em 1900, na língua portuguesa. Tanto que E. H. Meyers chegou a considerar esse fato como “uma nova era para nossa obra na região de fala portuguesa da América do Sul”.[1]



José Lourenço Mendes, comerciante e rizicultor em Campestre, Santo Antônio da Patrulha, RS, foi o personagem que marcou essa transição. Ele tinha cinco irmãs casadas: Maria José e Clara moravam na Fazenda Nova, a seis quilômetros de distância de Campestre, Ludovina e Sofia residiam em Rolante, no mesmo município de Santo Antônio, e Isabel, que além de não aceitar o adventismo, mudou-se para longe dos irmãos. Certamente por influência dos pais, esses irmãos conheciam a Bíblia e a amavam. Eram, portanto, terreno fértil à pregação do evangelho.



Em Taquara, mais ou menos a uns 20 quilômetros de Campestre, os adventistas já se haviam estabelecido. Não se sabe como se deu o primeiro contato deles com José Lourenço Mendes, mas possivelmente tenha se dado por meio de colportores ou de algum membro da igreja de Taquara. De qualquer forma, o nome e o endereço do comerciante de um jeito ou de outro chegaram às mãos dos líderes da Obra.



Em 1904, o pastor Ernesto Schwantes foi a Campestre visitar José L. Mendes, que aceitou prontamente a mensagem adventista. José, acompanhado pelo pastor e desejoso de levar a boa-nova a suas irmãs, dirigiu-se à casa de Saturnino Rabello de Oliveira, casado com Maria José, que igualmente abraçaram a fé adventista. Clara uniu-se a eles, embora o esposo discordasse. 



José L. Mendes era um homem inteligente e comunicativo. Logo transformou sua casa num verdadeiro centro evangelístico e passou a pregar ardorosamente para seus fregueses, convidando-os também para participar das reuniões que o pastor Schwantes passou a dirigir numa das dependências da casa do comerciante. Muitos se interessaram, entre os quais Maria Joana do Lago, cujo esposo, João Ferreira do Lago, vulgo João Bonito, fora carrasco de uma das facções políticas que lutavam entre si, no passado. Dizem que, após degolar os vencidos – adultos e crianças –, ele lambia o sangue deles na lâmina da faca. 



Certa noite, Maria Joana do Lago convidou o esposo para acompanhá-la a uma reunião na casa de José L. Mendes. Os dois se assentaram nos primeiros lugares da frente, ao lado do corredor. De repente, um perigoso desordeiro, deixando os capangas à entrada, foi à frente e desferiu uma punhalada no pastor Ernesto Schwantes, que conseguiu se esquivar. João Bonito deu um salto instintivo, ficando entre o bandido e o pregador. Apontou uma faca em direção ao ventre do agressor que resolveu bater em retirada, juntamente com seus capangas. O pastor Schwantes continuou o sermão.



Tão logo o adventismo penetrou em Campestre, Dalila Mendes de Souza (sobrinha de João Lourenço) e o esposo visitaram a prima e amiga Maria Emília dos Passos (também sobrinha de José), em Rolante, para falar-lhe sobre a nova religião de seu tio. Os Passos resolveram ir até Campestre para ouvir a mensagem e a aceitaram. Ao regressar, contaram tudo o que haviam aprendido a seus familiares. Como resultado, Adolfo Amador dos Reis, irmão de Maria Emília, também se converteu, tornando-se o líder espiritual de Rolante. A essa altura, o pastor Ernesto Schwantes tinha dois locais de trabalho exclusivamente com brasileiros de origem latina – em Campestre, com José L. Mendes, duas irmãs, os familiares e outros interessados; e em Rolante, com as duas outras irmãs de José, os esposos e filhos, e outras famílias. 



A nova religião surgida em Campestre e Rolante, entre os brasileiros propriamente ditos, distinguia-se das outras existentes, dentre outras coisas, pela guarda do sábado, crença na mortalidade da alma, batismo por imersão de pessoas com idade suficiente para entender o que estavam fazendo e abstenção de certos alimentos considerados impróprios para comer (imundos). Além disso, combatiam o álcool, o fumo, os jogos de azar e ensinavam o afastamento dos bailes. Consequentemente, surgiram muitos opositores que começaram a perseguir esses novos crentes, considerando-os fanáticos e esquisitos.



Já no primeiro batismo, que deveria ser realizado no Rio dos Sinos, atrás do morro do Barreiro, no Campestre, a situação ficou complicada. Como o ambiente estivesse muito tenso, o delegado de polícia, a pedido de José Lourenço Mendes, mandou um tenente e seis soldados para manterem a ordem. Reuniram-se no local do batismo uns 80 homens armados de revólveres e facões para matar o oficiante e espancar os batizandos e demais adventistas. Como medida de prudência, a cerimônia foi suspensa e o pastor saiu protegido pelos policiais, voltando para Porto Alegre. Dias depois, entretanto, o batismo foi realizado discretamente. Mas as perseguições continuaram.



A dependência da casa de José L. Mendes, onde as reuniões eram realizadas, ficava a 15 metros da estrada pública. Os desordeiros jogavam foguetes, da estrada, para explodirem o mais próximo possível da sala de cultos. Mas os irmãos continuaram firmes, suportando com fé e paciência todas as injúrias. E a igreja crescia cada vez mais.





José Lourenço Mendes e esposa. A conversão dos Mendes, em 1904, marcou o início da transição do adventismo das colônias alemãs para os brasileiros de origem latina 



A ênfase na educação cristã e o espírito missionário das igrejas de Campestre e Rolante produziram muitos líderes dedicados à obra adventista. Em 1925, os irmãos da igreja de Campestre se uniram e cada um contribuiu com um pouco a fim de mandar para o colégio em São Paulo um jovem humilde mas promissor, chamado Roberto Mendes Rabello, filho dos conversos do local, e com 16 anos de idade na época. Anos depois, em 1943, Roberto se tornaria o fundador de A Voz da Profecia, primeiro programa religioso de âmbito nacional, transmitido no Brasil pelo rádio. Como escreveu o Pastor Léo Ranzolin (Revista Adventista, novembro de 1996, p. 7), “a Voz, no Brasil, era a Voz da Profecia. Mas tinha igualmente um duplo significado, pois aquela ‘voz’ era a voz suave, penetrante, que cativou adventistas e evangélicos por quase 50 anos”, a voz de Robeto Rabello. O Pastor Rabello faleceu no dia 16 de agosto de 1996, com 86 anos. 



Roberto Rabello, fundador de A Voz da Profecia no Brasil 





Da comunidade de Rolante, Irineu Amador dos Reis, Rodrigo Amador dos Reis Filho e José Amador dos Reis saíram para colportar. Os dois primeiros logo voltaram às atividades agrícolas, mas José continuou colportando. O filho de Rodrigo e Ludovina tinha habilidade especial não só para colportar como também para explicar a Bíblia e pregar, por isso convidaram-no para trabalhar como obreiro bíblico, recebendo a credencial em 1914, conforme o relatório da 9ª sessão da Conferência do Rio Grande do Sul, publicado em março daquele ano. No dia 10 de abril de 1920, foi ordenado ao ministério, no fim da memorável 14ª assembléia da Conferência do Rio Grande do Sul. Tornou-se, assim, o primeiro pastor adventista ordenado no Brasil. 



“Os esforços longamente expedidos nos primeiros anos de trabalho como colportor e obreiro na campanha gaúcha, muitas vezes exposto aos rigores do clima de inverno, apanhando chuva, dormindo em ambientes precários e se alimentando frugalmente, cobravam agora um pesado tributo.”[2] José Amador dos Reis faleceu no dia 23 de maio de 1935, com 43 anos incompletos, vítima de tuberculose. O valente soldado de Cristo tombou onde começou seu ministério: em Rolante, RS. 



José Amador dos Reis, primeiro pastor ordenado no Brasil





Depois das lutas, a vitória



“Só em parte se pode apreciar quão amargos eram esses primeiros acontecimentos [relativos ao início da Obra] naquela época, sendo que os isolados mensageiros, que trabalhavam em lugares muito distantes uns dos outros, dificilmente podiam inteirar-se do progresso feito ou apreciar o significado de tais princípios.”[3] 



E as dificuldades e lutas enfrentadas pelos pioneiros ficam evidentes quando investigamos as publicações e relatórios missionários da época. Relatos como estes eram típicos:



“Na manhã de Páscoa, quando eu e minha mulher estávamos de volta de uma visita a uma família interessada, fomos de caminho agredidos a pedras por um grupo de sete pessoas. Entretanto, o Senhor não permitiu que aqueles nos atingissem... Algumas dessas pedras eram de tamanho considerável... Parece às vezes que Satanás tomou posse completa deste povo. Quando passamos pela estrada, fazem uma algazarra, dirigindo-nos de dentro de suas casas chufas e palavras injuriosas... Oxalá o Senhor nos ajude a permanecer fiéis e fazermos a Sua vontade” (Pastor Henrique Haefft.Revista Mensal, junho de 1916, p. 8 e 9).



“Posto que ainda não inteiramente restabelecido da minha enfermidade, empreendi todavia fazer uma visita aos irmãos no município de Blumenau, sendo acompanhado nessa viagem por minha mulher, que desejava conhecer os irmãos daquela região. Partimos a 6 de junho, confiando num tempo sofrível que então fazia, mas que mudou completamente, chovendo durante os dez dias que gastamos para chegar a Benedito Novo. As estradas tornaram-se praticamente intransitáveis, sendo muitas vezes necessário caminhar a pé, visto os animais conseguirem tirar apenas o carro vazio” (Pastor Augusto Rockel. Revista Mensal, setembro de 1916, p. 9).



“Ao partir [de Lençol] deparamos com obstáculos ocasionados pela incessante chuva. Devido a um desmoronamento de barrancos ficou obstruída a linha da estrada de ferro, razão porque enfim vimo-nos na conjectura de continuar nossa viagem a pé até Hansa. Passamos mal de viagem – e não era para menos –, mas alcançamos o nosso destino, onde encontramos todos os irmãos alegres” (Pastor Francisco Belz. Relatório de viagem na Revista Mensal, junho de 1918, p. 8).



“Uma noite ao voltar para casa, fui inesperadamente assaltado por um jovem que, com mais três outros, me vedava o caminho. Pondo-me a faca a distância de duas polegadas do peito, mandou que lhe desse a minha palavra de não continuar com as conferências. Felizmente escapei com vida. Mais tarde veio este mesmo moço acompanhado do inspetor a fim de pedir desculpa, e prometer que nunca mais haveria de estorvar as nossas conferências” (Pastor Francisco Belz, depois de dirigir uma palestra (conferência) em Jacu-Assu, SC. Revista Mensal, junho de 1919, p. 9).



Poderíamos prosseguir com relatos de outrora, mas já é o suficiente para perceber as lutas que nossos antepassados enfrentaram. “Línguas desconhecidas, solidão, isolamento, chegada de literatura com atraso, falta de dinheiro, matas intransitáveis, planícies desertas, lodo, chuva, frio, calor, fome, doenças, açoites, furtos, prisão e a necessidade de ganhar o próprio sustento, são palavras que, juntamente com muitas outras semelhantes, deveríamos usar para nos referir à história dos primeiros esforços.”[4]



“A existência de igrejas e grupos alemães de Muçuri e Teófilo Otoni, norte de Minas Gerais, ao Rio Grande do Sul, a partir de 1895, o contato do pastor Ernesto Schwantes, em 1904, com José Lourenço Mendes, do qual surgiram as igrejas de Campestre e Rolante (cujos membros eram todos de procedência latina), o funcionamento de uma escola paroquial em cada congregação, grande ou pequena, para inculcar nas crianças os princípios cristãos e os ideais missionários, a publicação do Arauto da Verdade em português e a mudança da Casa Publicadora Brasileira para São Paulo, em 1907, em condições de fornecer a literatura necessária, criaram condições para a pregação do adventismo de leste a oeste e de norte a sul do vasto território nacional.”[5] 




Referências:



1. Meyers, E. H. Reseña de los Comienzos de la Obra en Sudamerica, Buenos Aires: Casa Editora Sudamericana, p. 19.
2. Schmidt, Ivan. José Amador dos Reis, Pastor e Pioneiro, Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1980, p. 106.
3. Spicer, W. A. Our Story of Missions for Colleges and Academies, p. 265, citado por E. H. Meyers, op. cit, p. 6.
4. Rebello, João. John Boehm, Educador Pioneiro, São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1990, p. 63 e 64.

Acesso Teológico
Naldo JB

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um exemplo de fé


Mãos firmes nas rédeas. Os chicotes golpeiam os cavalos já ofegantes com a subida do morro que leva a Gaspar Alto. É noite e os dois cavaleiros mal conseguem ver o estreito caminho. Mesmo assim, avançam determinados.


Georg Friedrich Adolfo Hort sempre teve fama de valentão. Desde que ouvira falar que um grupo de famílias havia formado uma nova “seita” em Braunchweig (Gaspar Alto), tomara a decisão de acabar com aquilo. Afinal, “religião de alemão é só a Luterana” – dizia.



Convidou um amigo e cavalgaram até o local onde ficava a pequena igreja. Apearam dos cavalos e, de chicote em punho, estavam dispostos a invadir o templo e causar a maior confusão. De repente, Adolfo se detém.



– Espere um pouco... Ouça o que o pregador está dizendo!



No momento em que os dois espiam pela janela, alguém lê as palavras do livro de 1 João, capítulo um, verso sete: “Mas se andarmos na luz como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.”



Adolfo olha para o colega e diz:



– Isso me impressionou. Vamos embora.



Adolfo Hort era apenas um garotinho quando o pacote de revistas adventistas procedente dos Estados Unidos foi aberto diante de seus olhos curiosos. Seu pai, Davi Hort, não se interessou pelo conteúdo da revista que ganhara de Carlos Dreefke e deu-a à esposa Anna Dorothéa. Aparentemente, a Mensagem Adventista não havia chamado a atenção da família Hort. Dorothéa ficara impressionada com a grande enchente do início da década de 1880, interpretando-a como um dos sinais do fim do mundo. Mas isso fora tudo.



Adolfo agora tinha 27 anos e estava casado com Emma Kräft Hort. Ema era filha de August e Caroline Wiedenhöft Kräft, imigrantes alemães muito pobres. Para sobreviver, trabalhou como doméstica para os Hort. Ali conheceu Adolfo. Apaixonaram-se e casaram em 25 de junho de 1891.



Depois do incidente em Gaspar Alto, Adolfo começou a pensar mais seriamente nas coisas que ouvira falar sobre os adventistas. Dirigiu-se até o pastor luterano de Brusque e pediu explicações, recebendo a promessa de que no domingo, durante o culto, seria explicada a questão do sábado.



Adolfo e Emma sentaram-se na primeira fileira de bancos da igreja luterana, especialmente atentos naquela manhã de domingo. Após alguns cânticos, o pastor dirigiu-se ao púlpito e começou a falar:



– Prezados irmãos, têm surgido em nosso meio algumas dúvidas doutrinárias, devido a existência dos tais adventistas do sétimo dia em nossa região. Primeiramente, é preciso deixar claro que a Bíblia realmente apresenta o sábado como dia santificado por Deus. Só que nós já estamos tão acostumados com o domingo, que continuaremos a observá-lo.



Adolfo inquietou-se. Mal conseguiu prestar atenção ao resto do sermão. Ao voltarem para casa, comentou com a esposa:



– Emma, você escutou bem o que o pastor disse?



– Sim, escutei.



– Pois então. Se o domingo é apenas uma tradição, creio que devemos guardar o sábado como os adventistas.



Adolfo e Emma, dali em diante, tornaram-se observadores do sábado, embora ainda não se reunissem com os adventistas. Estudavam a Bíblia até altas horas da noite, à luz de lampiões de querosene. Foi então que começaram as perseguições por parte da família.



Os irmãos de Adolfo atiravam pedras nas vidraças da casa enquanto ele estudava a Bíblia. Uma cunhada chegou a dizer que preferia criar criminosos a viver com adventistas. Anos mais tarde, ironicamente, os filhos dessa mesma cunhada assassinaram uma pessoa.



Como nessa época Davi Hort já havia falecido, Anna Dorothea foi morar com o filho Adolfo. Não suportando mais a pressão dos familiares, Adolfo, esposa e mãe mudaram-se para Blumenau. Naquela cidade, Anna se converteu e os três foram batizados.



Adolfo Hort tinha 11 anos quando presenciou a abertura do pacote contendo dez revistas Arauto da Verdade





Viveram cerca de 20 anos em Blumenau. Por volta de 1915, mudaram-se para Jaraguá do Sul. Com os filhos Carlos, Germano, Bertoldo, Elizabeth, Leonida, Arthur, Carolina, Erica e Augusta, mais algumas outras pessoas, o casal Hort fundou a primeira igreja adventista em Jaraguá do Sul, fechada alguns anos depois devido à mudança da família para Corupá. No dia 28 de novembro de 1918, Anna Dorothea morreu.



Em Corupá (distante uns 35 quilômetros de Jaraguá), Adolfo trabalhava como carpinteiro e ajudou a construir, na década de 1930, a primeira igreja adventista da cidade. Sobre essa época, sua neta Marta N. Hort Rocha, filha de Arthur Hort, conta muitas histórias.



Certa ocasião, Adolfo estava trabalhando sobre o telhado de um paiol. Pediu água à sua neta Marta que, instantes depois, já estava com uma caneca cheia nas mãos. Adolfo pediu que a menina lhe alcançasse a caneca. Vendo o esforço da filha, erguendo os bracinhos para cima com a água, Arthur diz:



– Ah, mas assim, nem que nós te ergamos, tu não consegues alcançar!



– Então me ajuda, papai.



– Não, netinha. Quero que tu tragas a água para mim. Sobe nessa escada – diz Adolfo, apontando para uma escada de madeira que, do ponto de vista da pequena Marta, era enorme.



Como sempre teve medo de altura, Marta sobe a escada com todo cuidado, sob o olhar do pai Arthur.



– Estás com medo, netinha? – pergunta Adolfo sorrindo. – A menina diz que sim, balançando a cabeça, sem olhar para baixo.



– É, mas é bom tu aprenderes a não ter medo de almejar as alturas, pois para irmos para o Céu, temos que subir de degrau em degrau na escada da santificação.



Tirar lições espirituais de coisas do cotidiano era prática comum para Adolfo. Em outras ocasiões, escondia uma das bonecas de sua neta Marta, ajudando-a, depois, a procurá-la. Minutos depois, graças às pequenas pistas do avô, os dois encontravam o brinquedo e Adolfo fazia uma “festa”. Em seguida, colocando a criança no colo, dizia:



– Assim é com a Palavra de Deus. Temos que procurar, procurar e procurar sempre mais. E sempre encontraremos coisas novas para nos ajudar no preparo para a volta de Jesus.



A fé de Adolfo era surpreendente. Certa vez, enquanto visitava os parentes em Brusque, conversou com uma de suas sobrinhas que estava grávida. Ema era filha de Carlos Hort e disse a Adolfo que uma benzedeira “profetizara” que ela não sobreviveria ao parto. Adolfo convidou-a a fazer uma oração e disse que “em nome de Jesus, Ema não morreria”. Ema passou bem e nasceram-lhe duas gêmeas perfeitamente saudáveis: Elvira e Milita. Posteriormente, as duas tornaram-se adventistas. Elvira casou-se com Arthur Sartotti e tiveram um filho, o pastor Orlando Sartotti.



Sentindo o peso da idade e tendo todos os filhos já casados, Adolfo voltou com a esposa para Jaraguá do Sul. Ali morou com o filho Bertoldo até falecer no dia 9 de fevereiro de 1944. Sua esposa Emma faleceu dois anos e meio depois.



Enquanto morou em Jaraguá, Adolfo Hort ajudou a cuidar da marcenaria de seu filho. Nas horas vagas, tratava das doenças de alguns vizinhos, pois adquirira um bom conhecimento de tratamentos naturais por meio de livros em alemão. Chegou até a realizar uma cirurgia de raspagem de osso infeccionado no pé de sua nora. Ela ficou, depois disso, completamente curada.



Nos últimos momentos, antes de falecer, Adolfo pediu que chamassem seus filhos Bertoldo e Carlos para que tocassem um hino ao violino. Os dois e alguns outros parentes circundaram a cama do velho pai. Adolfo sabia que estava morrendo. Deu a mão para cada filho e se despediu deles. Ao chegar a vez de Emma, disse ternamente:



– Não chores, querida. Eu vou dormir* só um pouquinho, porque logo Jesus vai voltar e estaremos juntos novamente.



Dizendo isso, Adolfo ergueu uma das mãos e pediu que sua esposa juntasse a mão esquerda, paralisada, à direita, para que ele pudesse orar. Terminada a oração, Adolfo fechou os olhos. E morreu serenamente.



“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. ... Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a Minha salvação.” (Versos do Salmo 91, o preferido de Adolfo Hort.) 





Adolfo Hort ajudou a construir o templo adventista de Corupá, SC



(*) Baseados em textos como João 11:11-14, 43, 44; Marcos 5:39; Eclesiastes 9:5-6; Salmo 146:4; Jó 14:1, 2, 7, 10-12; João 6:40; 1 Coríntios 15:20-23; 1 Tessalonicenses 4:12-17 e outros, os adventistas crêem que os “mortos em Cristo” aguardam como que dormindo, inconscientes, a segunda vinda de Jesus à Terra, quando serão, então, ressuscitados para a vida eterna.

Acesso Teológico
Naldo JB