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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Como folhas de outono

Carlos Dreefke e os outros colonos que assistiram à abertura do pacote na venda de Davi Hort levaram suas revistas para casa.

Helmut – um dos colonos – e a esposa Herta, ambos fiéis luteranos, resolveram conferir o conteúdo daquela publicação. Em 1884 não havia muito o que se ler naquela região, ainda mais na língua alemã.

– Helmut, escute isto: “A segunda vinda de Cristo é a bendita esperança da Igreja, o grande ponto culminante do Evangelho. A vinda do Salvador será literal, pessoal, visível e universal. Quando Ele voltar, os justos falecidos serão ressuscitados e, juntamente com os justos que estiverem vivos, serão glorificados e levados para o Céu. Foi o próprio Jesus quem prometeu: ‘Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, credes também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas... vou preparar-vos um lugar... virei outra vez’ (João 14:1-3). E a Bíblia traz vários sinais que apontam para a proximidade desse grande dia. A maior parte desses sinais já se cumpriu ou está se cumprindo, o que significa que Jesus logo voltará. E o que você está fazendo? Ser neutro é impossível. Resta a alternativa: estar preparado para a volta de Jesus ou não. Prepare-se, então, pois agora você já está sabendo que muito em breve nosso amado Salvador e Amigo Jesus virá outra vez.” 

– Herta... Como pode uma coisa dessas? – admira-se Helmut. – Como nunca ouvimos falar disso?

– Helmut, tenho a impressão de que estas revistas têm preciosas verdades a nos revelar.

Naquela noite, Helmut e Herta foram dormir pensativos. A intenção do casal era conseguir mais publicações adventistas, pois seu interesse havia sido despertado. 

Davi Hort não deu muita atenção à revista que lhe coube; entretanto, sua esposa Anna Dorothea não se esqueceu da leitura. As chuvas de alguns anos atrás haviam feito transbordar o Itajaí-Mirim a ponto de destruir muitas plantações e propriedades. Aquilo deixara uma impressão profunda em sua mente, mas ela só aceitaria a mensagem adventista anos mais tarde, juntamente com o filho Adolfo. 

Dez famílias acabaram se interessando pelas publicações adventistas e continuaram a pedir mais literatura, usando o nome do Sr. Dreefke que, com medo de que algum dia lhe mandassem a conta de todas as revistas, acabou cancelando os pedidos futuros.

A frustração foi geral. Quem poderia assumir agora a responsabilidade pelas revistas? Um polonês de nome Chikiwidowski chegou a se responsabilizar pelos pedidos, mas seu entusiasmo durou pouco. Foi então que uma terceira pessoa entrou na história: Frederich Dressler.

Dressler era filho de um pastor luterano na Alemanha. Foi expulso de seu país por ser alcoólatra. Aproveitando as correntes migratórias para o Brasil, veio parar em Brusque. Trabalhou como professor, mas toda a sua renda era gasta em bebida. Quando Dressler ouviu falar das tais revistas adventistas que eram enviadas de graça, resolveu fazer um pedido, com a intenção de vendê-las para alimentar o vício que o destruía.

As revistas (como a Hausfreund, “Amigos do Lar”) chegaram e, com elas, alguns livros. Entre eles, um muito especial: Gedanken Über das Buch Daniel(Comentário Sobre o Livro de Daniel). Após a leitura desse livro, Guilherme Belz se tornaria – anos mais tarde – o primeiro no Brasil a reconhecer o sábado como dia de descanso.

Em certas ocasiões, enquanto Dressler caminhava pelas ruas em busca de compradores, os folhetos caíam-lhe das mãos trêmulas. Como não havia muito papel espalhado pelo chão naquela época, as pessoas, curiosas, apanhavam os folhetos e os liam. Sem saber, Dressler prestou grande contribuição à causa adventista que ensaiava seus primeiros passos em terras brasileiras.

A Sociedade Internacional de Tratados dos Estados Unidos enviou centenas de dólares em literatura, que Dressler transformou em cachaça. Na venda de Davi Hort, Dressler trocava as revistas e folhetos diretamente por bebida. O Sr. Davi as usava como papel de embrulho. E foi dessa forma que a mensagem adventista conseguiu se espalhar mais e mais, como folhas de outono, alcançando famílias e corações nos quais a “semente da verdade” começara a germinar.

Acesso Teológico
Naldo JB

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Recebendo a mensagem


O ano novo não começara nada bem. As chuvas constantes ameaçavam as plantações e tornavam desgraçadamente previsível uma nova cheia do rio Itajaí-Mirim.

Na Kaufläden (venda) do Sr. Davi Hort – um típico casarão colonial de dois pavimentos, a cerca de oito quilômetros do centro atual de Brusque – o comerciante conversa com alguns colonos.

– Sr. Hort, o senhor sabe como as chuvas têm dificultado as colheitas neste ano. Não temos muita mercadoria excedente para trocarmos, mas precisamos de novas ferramentas e alguns mantimentos...

A venda facilitava o comércio em pequenas quantidades. O colono vendia ou trocava seus produtos agrícolas e voltava para sua propriedade levando bens de consumo para uso da família. Servia, ao mesmo tempo, como local de armazenagem de produtos agrícolas e como ponto de distribuição de mercadorias não produzidas na área. O colono deixava na venda uma parte da produção agrícola do seu lote e levava sal, toucinho, ferramentas, óleo, tecidos e armas. Os colonos chamavam a isto de trok (adaptação do termo português “troca”), pelo fato de que não entrava dinheiro na transação.

– Bem, não posso fazer muito por vocês – diz Davi Hort, coçando a barba, enquanto se apóia com os dois cotovelos sobre o balcão de madeira. – Os produtos tiveram um aumento de preço na Vila de Itajaí e eu não posso sair em prejuízo. Mas me digam: vocês não trouxeram fumo ou banha?

– Muito pouco, Sr. Hort. Como lhe dissemos, a colheita neste ano não tem sido como esperávamos.

Dentro das pequenas propriedades, os colonos também se dedicavam a um cultivo puramente comercial: o fumo, que se destinava ao mercado, sendo apenas uma pequena parte consumida no local. Por outro lado, parte da produção agrícola chegava às vendas indiretamente. Milho, inhames e aipim eram utilizados para alimentar os porcos que, transformados em banha, constituíam uma das mais importantes fontes de renda do colono. Os verdadeiros excedentes da produção camponesa estavam, pois, reduzidos a dois artigos: o fumo e a banha. O cultivo do fumo, contudo, não foi nunca atividade agrícola mais importante do que as outras. O colono não deixava de cultivar milho, mandioca e outros produtos necessários à sua subsistência para se dedicar à agricultura comercial, embora essa significasse, muitas vezes, dinheiro vivo. O fumo era praticamente o único artigo que os vendeiros pagavam em dinheiro.

As vendas principais ficavam na sede da colônia. Outras, de importância secundária, localizavam-se nos entroncamentos de picadas e tinham mais características de entreposto de trocas. Na prática, esses vendeiros eram intermediários dos vendeiros da sede mais do que comerciantes independentes; também colonos, tinham, como atividade suplementar, pequenas vendas. Nelas se encontravam alguns produtos de maior necessidade (alimentos e pequenas ferramentas); para qualquer transação comercial maior, era necessário ir à vila.

Bem ou mal, o colono dependia do vendeiro. A colônia estava isolada, longe de qualquer centro urbano. Qualquer deslocamento, mesmo para um centro comercial mais próximo (no caso, o porto de Itajaí), demorava de uma semana a 15 dias. O colono não tinha condições de se afastar tanto tempo de suas plantações, ainda mais pelo fato de dedicar todo o tempo que restava aos “serviços acessórios” (como o corte de árvores). Por outro lado, para levar a mercadoria pessoalmente até Itajaí necessitava ter pelo menos bons animais de carga, sujeitando-se a viajar numa picada em péssimas condições, ou dispor de uma embarcação. Praticamente nenhum pequeno proprietário da região colonial tinha condições para isso. Deste modo, os comerciantes é que ditavam as regras.

– O que eu posso fazer – continua o Sr. Davi – é vender fiado o que vocês precisam. Depois a gente negocia a melhor forma de pagar a dívida.

Georg Friedrich Adolfo Hort, de 11 anos, filho mais novo do casal Davi e Anna Dorothea Elizabeth Stalenburg Hort, acompanha a conversa com muita atenção, sentado sobre algumas sacas de feijão. Apesar da pouca idade, Adolfo sabe que a dívida daqueles homens dificilmente poderá ser paga. Os colonos também sabem. Mas era um círculo vicioso do qual dificilmente podiam escapar. Como o excedente da produção de cada família era pequeno, ao ser saldada uma dívida, uma nova era contraída.

Os colonos ainda discutem as condições do acordo, quando entra um garoto, vestindo uma velha capa de chuva e tendo nos braços um pacote de forma retangular. Por um momento, todos ficam quietos, aguardando as palavras do rapaz.

– “Seu” Davi, mandaram-me trazer esta encomenda para cá. É para o Sr. Dreefke.

Carlos Dreefke (padrasto do fugitivo Borchardt), como quase todos os colonos daquela época, tinha a sua pequena propriedade da qual vivia. Providencialmente, encontrava-se na vila naquela manhã chuvosa de verão, fazendo negócios com os vendeiros da região. O Sr. Davi Hort já o havia visto passar em frente ao seu estabelecimento e, curioso para conhecer o conteúdo do pacote, diz ao garoto:

– Faça-me um favor, rapaz: procure o Sr. Dreefke, ele deve estar aqui por perto.

O garoto, satisfeito pela nova “missão” e, talvez, esperando alguma pequena gratificação, recoloca o capuz de couro e sai às ruas enlameadas. Minutos depois, volta à loja acompanhado de Carlos Dreefke. Além de Hort e seu filho, havia mais uns oito homens na casa; todos aguardando ansiosos.

– Guten tag, Sr. Hort. Como vão vocês? – pergunta Dreefke educadamente – Mandou-me chamar?

– Sim. Chegou uma encomenda para o senhor. O selo diz que é dos Estados Unidos... – o Sr. Davi aponta o dedo para o pacote a um canto do balcão – Ali está.

– Encomenda para mim?! Dos Estados Unidos?! Creio que há um engano aqui. Não fiz nenhuma encomenda!

– Mas não existem dois Carlos Dreefke nesta região! – diz um dos colonos.

– Desculpem-me, mas não posso abrir este pacote. E se eu tiver de pagar? E se for uma cilada...

– Cilada?! – interrompe o Sr. Davi. – Ora, homem! O que pode haver de mal num simples pacote? Além do mais, o selo já está pago. O que você tem a perder?

Relutante, o Sr. Dreefke se aproxima do embrulho. Os homens o animam a abri-lo. O pequeno Adolfo também se aproxima, com os olhos brilhando de curiosidade. Dreefke começa a rasgar o papel lentamente, faltando pouco para um dos homens tomar a frente e terminar o serviço. A curiosidade domina a todos.

Instantes depois, o conteúdo do pacote vem à luz: dez belas revistas com a inscrição de capa Stimme der Warheit (A Voz da Verdade). Dreefke espanta-se mais ainda. “Quem poderia ter-me enviado estas publicações? Quem saberia o meu endereço e meu nome?” As dúvidas se multiplicavam.

Pegando uma das revistas para si, Dreefke distribui as demais aos outros homens. Meio decepcionados, os colonos guardam o presente – as páginas que mais tarde dariam início a uma verdadeira transformação de mentes e corações.












Casa comercial onde foi aberto o primeiro pacote de literatura adventista no Brasil, em 1884


Acesso Teológico
Naldo JB

sábado, 15 de dezembro de 2012

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Em Terras Tupiniquins

Enquanto, em 1860, os pioneiros adventistas na América do Norte entendiam que a mensagem do advento devia somente ser pregada nos Estados Unidos – pois aquele país era composto de gente de quase todas as nações – no Brasil era fundada a Colônia de Brusque. A maioria dos imigrantes que se estabeleceram nessa região de Santa Catarina vieram da Alemanha (de Baden, Holstein, Oldenburg e Prússia), posteriormente, chegaram colonos italianos e poloneses.


A imigração de alemães em grande escala, no século 19, coincidiu com o período de grandes crises que antecederam à unificação da Alemanha sob a hegemonia da Prússia, a partir de 1871. As causas dessa imigração foram tanto políticas quanto econômicas. Além do mais, intensa propaganda era feita pelas Companhias de Colonização de alguns países interessados em atrair imigrantes.


As grandes levas de imigrantes alemães entraram no Brasil entre 1850 e o final do século (São Leopoldo, no Vale dos Sinos gaúcho, foi o ponto de partida dessa saga iniciada em 1824, com a fundação da primeira colônia de imigrantes alemães no país, então recém-emancipado de Portugal). Mas foi só em quatro de agosto de 1860 que a Colônia de Brusque iniciou sua história, com o desembarque dos primeiros colonos às margens do Itajaí-Mirim. O rio se tornaria uma testemunha muda do início de uma nova vida para os colonos alemães, assim como, 35 anos mais tarde, seria palco de um “novo nascimento” para os primeiros conversos ao adventismo em Santa Catarina.


Os colonos vieram iludidos. A propaganda na Alemanha não lhes dava a mínima informação das reais condições de seu novo “lar”. Dizia, sim, que eles encontrariam um paraíso subtropical onde todos seriam proprietários de terras. Estavam totalmente despreparados para explorar um lote de terras coberto de floresta e isolado em ampla área despovoada. Esse despreparo dizia respeito a tudo: nada sabiam das técnicas agrícolas adequadas, do equipamento necessário ao desmatamento e plantio, dos tipos de roupas adequadas à região ou mesmo da inexistência de animais domésticos. Na administração da Colônia é que recebiam um machado, uma enxada e um facão ou uma foice.


Com muita coragem e determinação, foram transformando o ambiente. “É o burburinho do trabalho humano que enche o silêncio da mata. É o ruído das ferramentas que levantam ranchos para os povoadores. É o grito dos homens na animação do trabalho, a voz das mulheres que se ajudam e discutem os problemas comuns, são o choro e o riso das crianças que invadem o ritmo musical da natureza. A face da terra se transforma – apenas o rio continua a correr, embora as suas águas devessem ser, daí por diante, cortadas mais freqüentemente pelas canoas, pois continuaria a ser, por longo tempo ainda, a única via de comunicação do núcleo que iniciava a sua vida com o resto do mundo, a única estrada aberta pela natureza, para o contato com o centro, representado pela Vila do Santíssimo Sacramento do Itajaí”, escreveu Oswaldo R. Cabral, no livro Brusque – Subsídios para a história de uma colônia nos tempos do Império, nas páginas 8 e 9 (1958).


Nos anos seguintes, o ritmo do trabalho não mais cessaria. O horizonte seria alargado com a derrubada das matas. As colinas mostrariam as feridas abertas pelas ferramentas humanas e as plantações pouco a pouco surgiriam.


A Vila de Brusque é importante para caracterizar a comunidade camponesa do Vale do Itajaí-Mirim, no fim do século 19. Basicamente era um aglomerado com aparência semi-urbana, inserido na área colonial. Não se assemelhava nem um pouco às aldeias camponesas alemãs do século 19, mas, a exemplo delas, um forte laço de coesão social unia as propriedades individuais num grupo territorial muito bem definido – a Colônia. E, se havia lugares em que os colonos mantinham suas atividades sociais e econômicas com outras pessoas, eram as vendas.


Esses estabelecimentos comerciais ocupavam posição de destaque, não tanto pelo volume do comércio, mas pelo fato de serem pontos de reunião para os vizinhos, o local das conversas, da vida social, da venda e troca de mercadorias e da entrega de correspondência.


Nessa Stadtplatz (como os colonos chamavam a Vila de Brusque), havia uma venda que se tornaria muito especial. Pertencia ao Sr. Davi Hort, comerciante vindo da Alemanha. Nela, no início do ano de 1884, a mensagem adventista chegaria pela primeira vez ao Brasil. 




Vila de Brusque no início do século 20


** OS PRIMEIROS IMPRESSOS


A poeira que se eleva quase impossibilita a identificação do par de brigões. Um grupo de homens já forma um círculo em torno dos dois corpos suarentos que se contorcem no chão. Afinal, era o tipo de acontecimento que servia para quebrar a monotonia da Vila de Brusque.


– Vai lá! Quebra a cara dele! – animam alguns.


Borchardt, o mais jovem, leva vantagem sobre o oponente. Num giro rápido de corpo, coloca-se sobre o adversário imobilizando-lhe os braços. Grossas gotas de suor escorrem-lhe da testa, molhando a face avermelhada de raiva. Os olhos parecem-lhe saltar das órbitas.


– Deixa pra lá, Borchardt... Não vale a pena brigar por isso! – diz um senhor de meia-idade, tentando acalmar os ânimos.


Borchardt levanta o punho, hesita por um momento, mas, não dando ouvidos ao conselho, dá um forte soco no rosto do adversário.


Não havendo reação por parte do homem, Borchardt se levanta com alguma dificuldade, sacode a poeira da roupa e arruma os cabelos despenteados. O círculo fecha-se mais, enquanto o grupo de homens observa o corpo imóvel no chão. De repente, quebrando o silêncio, alguém comenta:


– Acho que ele está morto.


Um calafrio percorre a espinha do jovem alemão que, sem dizer uma palavra, sai correndo em direção à casa do padrasto Carlos Dreefke. Temendo que a polícia pudesse persegui-lo, Borchardt evita a picada principal, e toma um atalho não muito utilizado.


Uns cinco quilômetros depois, o jovem ofegante chega à rústica casa do Sr. Dreefke. Àquela hora ninguém se encontrava em casa; estavam todos na roça ou talvez no engenho. Não havia tempo para comunicar ao Sr. Dreefke. Assim, Borchardt apanha alguns mantimentos e roupas para dirigir-se ao porto de Itajaí, distante 40 quilômetros. Seria dura e longa a caminhada.


Sem nenhum dinheiro no bolso (naquele tempo – fim do século 19 – as transações comerciais com os vendeiros eram feitas na base da permuta), Borchardt inicia a viagem mata adentro. Os únicos caminhos até a Vila de Itajaí eram uma pequena estrada aberta pelos arrastadores de madeira para as serrarias ou através do rio, em pequenas embarcações. Borchardt opta pela estrada pois não quer arriscar contato com alguém que possa reconhecê-lo.


Dias depois, transpondo montanhas e dormindo na mata, chega ao seu destino, totalmente exausto e faminto. No porto, Borchardt fica sabendo da partida de um navio rumo à Alemanha. Sem pensar duas vezes, entra sorrateiramente na embarcação, escondendo-se entre a carga.


Quando o verde vale do Itajaí já havia desaparecido no horizonte, o capitão encontra Borchardt dormindo entre algumas caixas. Depois de alimentado, o jovem explica sua situação ao capitão que, sem outra alternativa, obriga-o a trabalhar para pagar a passagem.


Os dias transcorrem calmamente. Certa manhã, no fim da viagem, Borchardt percebe a aproximação de dois senhores bem vestidos e sorridentes.


– Bom dia, senhor! Você vem do Brasil, não? – pergunta um deles, em alemão.


– Sim... da província de Santa Catarina – responde Borchardt, desconfiado.


O outro senhor estende-lhe a mão e diz:


– Nós somos missionários adventistas. Gostaríamos de saber se há algum evangélico em sua terra.


Vendo que não há o que temer, Borchardt prossegue.


– Bem, o meu tio é luterano.


– Ótimo. Você poderia nos fornecer o endereço dele? Temos interesse em mandar literatura religiosa para o Brasil.


Alguns meses depois, uma pequena embarcação vinda de Itajaí deixa seu carregamento em Brusque: algumas caixas com utensílios de agricultura, correspondência para a administração da vila e um pequeno pacote endereçado ao Sr. Carlos Dreefke, com selo de Battle Creek, Michigan, Estados Unidos.
















Porto de Itajaí, Santa Catarina: portão de entrada da mensagem adventista no Brasil

Acesso Teológico
Naldo JB

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Colportagem Missão Alagoas 2012 e 2013 Equipe Focus

Existem pessoas habilitadas para diferentes ministérios, conforme os dons do Espírito distribuídos na comunidade de fé. Um dos ministérios mais desafiadores, mas, de grande importância, é a Colportagem Evangelística. Portanto, valorize e reconheça os Ministros da Página Impressa.

Eles impactam vidas e fincam a bandeira do evangelho em lugares ainda não alcançados. Dedique um espaço no programa de sua igreja para homenagear seus colportores. Aproveite para divulgar a atividade da venda de livros da Casa Publicadora Brasileira, que é uma ferramenta missionária e ao mesmo tempo empregadora, sendo fonte do sustento para muitas famílias.

Nos meses de Dezembro e Janeiro estarei em Maceió, trabalhando com a colportagem estudantil.
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COLPORTAGEM


Colportagem é o nome dado ao trabalho que um adepto de uma fé faz para apresentar os devidos regimes da saúde, e ainda, levar a pessoa com quem estabelece contato, o conhecimento de Deus através da literatura religiosa. 

Os colportores são pessoas devidamente preparadas para tal serviço e buscam através deste método conquistar adeptos para sua fé. Com esse tipo de trabalho muitos conseguem seu sustento e de sua família. 

A palavra “colportagem” vem da palavra “Colportor” que deriva do francês e significa “levar no pescoço”. Esse nome originou-se do costume que tinham os colportores valdenses de levar os escritos sagrados debaixo da roupa, ou numa bolsa que pendia do pescoço.

Colportar é um termo empregado pelas Igrejas Evangélicas para a atividade de vender literatura religiosa, via de regra de porta em porta, ao tempo em que realiza pregação.

No livro Colportor Evangelista, Ellen White diz: "O Senhor chama nossos jovens para trabalharem como colportores e evangelistas, para que façam de casa em casa a obra nos lugares que até agora não ouviram a verdade. Os que saírem para a obra sob a direção de Deus serão maravilhosamente abençoados. Os que nesta vida fazem o melhor podem serão capacitados para a futura vida imortal." 


A colportagem oferece uma oportunidade de aprendizado de comunicação, contato com pessoas de diferentes níveis intelectuais e culturais, desenvolve liderança, desinibição, perseverança e disciplina com foco nas metas. Segundo Ellen White, escritora cujos livros de saúde e de educação são vendidos há mais de 100 anos pelos colportores da Igreja Adventista do Sétimo Dia, esse trabalho é uma verdadeira escola para a vida, além de ajudar ganhar almas para o Céu.

Para conhecer os livros com os quais estarei trabalhando nessas férias clique Aqui..




Acesso Teológico
Naldo JB

O avanço da mensagem


“E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, dizendo-lhe: ‘Dá-me o livrinho.’ E ele me disse: ‘Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como o mel.’ E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como o mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo.” Apocalipse 10:8-10.

Os mileritas viam o “livrinho” como símbolo das profecias de tempo do livro de Daniel que haviam sido inadequadamente compreendidas até seu próprio tempo, mas que, durante o grande despertar do segundo advento, foram proclamadas por um movimento profético intercontinental, representado pelo anjo com um dos pés no mar e outro na terra (Apocalipse 10:2).

Sem dúvida, anunciar a vinda de Jesus era algo “doce como o mel”. Mas, em sua felicidade, eles deixaram de compreender as outras palavras: “Havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo.” Na manhã do dia 23 de outubro de 1844, essas palavras não mais pareciam incompreensíveis. “Pude ver que a visão havia falado e não mentira. ... Tínhamos comido o livrinho; havia sido doce em nossa boca e agora tornara-se amargo em nosso ventre, amargando todo o nosso ser”, escreveu Hiran Edson.

“Assim, o grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 havia sido predito quase dois mil anos antes! Longe de desacreditar o despertamento adventista, serviu para comprová-lo como um genuíno cumprimento da profecia!”[1] “Com o Seu ‘braço forte’ Deus libertou o povo de Israel do jugo faraônico e o guiou através do deserto à terra prometida; suscitou João Batista para conduzir na Judéia uma obra precursora, anunciando o advento do Messias; iluminou a mente dos reformadores que precipitaram a revolução religiosa do século XVI, e através dos tempos, preparou o cenário para o surgimento do movimento adventista.”[2] 

Depois do grande desapontamento, os fiéis sinceros voltaram à Bíblia e, examinando-a, recobraram ânimo e renovaram a esperança ao ler o texto de Habacuque 2:3: “Porque a visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá. Se tardar, espera-O; porque certamente virá, não tardará.” E Apocalipse 10:11 resumia agora a missão dos “remanescentes”: “Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis.”

Milhares que participaram da amarga experiência de 1844, desalentados, voltaram às suas igrejas de origem ou continuaram a marcar outras datas para a vinda de Cristo. Outros, que haviam entrado para o movimento apenas por algum interesse particular, abandonaram a causa por completo. Porém, outro grupo resolveu voltar à Bíblia em busca de respostas. E na Palavra de Deus encontraram o conforto necessário para suportar as críticas e a zombaria de um mundo irreverente e escarnecedor. “Muitas vezes” – escreveu Ellen G. White, uma das fundadoras da Igreja Adventista – “ficamos juntos até tarde da noite, e por vezes durante a noite inteira, orando por luz e estudando a Palavra.”

Por manter suas idéias adventistas, este grupo acabou sendo expulso de das igrejas de origem. Assim, “os pioneiros adventistas não começaram um movimento religioso animados pelo simples propósito de introduzir uma nova dissidência no seio do cristianismo. Não se inspiraram na orientação teológica ou carismática de um homem. Sentiram-se integrantes de um movimento profético suscitado pela mão de Deus para proclamar dentro do contexto do ‘evangelho eterno’ a chegada da ‘hora do juízo’”.[3]

Os anos posteriores demonstraram a importância da liderança de três pessoas em especial no movimento: o casal Tiago e Ellen White, e José Bates. Os White iniciaram a obra de publicações, em Rochester, Nova Iorque. O ex-capitão José Bates redescobriu um mandamento bíblico há muito esquecido pela cristandade: o sábado do sétimo dia como dia de repouso. Posteriormente, em 1863, os adventistas (agora Adventistas do Sétimo Dia) adotaram a Reforma Pró-Saúde, abstendo-se do fumo, álcool, carnes imundas (como a do porco – ver Levítico 11) e de tudo que prejudica o “templo do Espírito Santo” – o corpo humano.


















O casal White e o capitão Bates: líderes do movimento nascente


O passo seguinte foi obedecer às palavras de Jesus em Marcos 16:15: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Conscientes disso, os adventistas passaram a proclamar pessoalmente, em conferências públicas ou através de publicações, suas convicções religiosas: Jesus como único Salvador pessoal; a volta de Cristo como única solução para um mundo em degeneração; a imortalidade condicional do ser humano; a aceitação da Bíblia como única regra de fé e prática; a Lei de Deus como única ética de conduta; o sábado como único dia santificado; e a reforma de saúde para uma vida mais digna e melhor comunhão com o Criador. E foi justamente esse contagiante entusiasmo por promover a saúde e, posteriormente, construir hospitais difundindo os princípios de uma medicina preventiva, que despertou a admiração de muitas pessoas e abriu portas para a pregação do evangelho.

“Podemos esperar que uma igreja que aguarda o fim do mundo a qualquer momento concentre a atenção exclusivamente em assuntos religiosos. É o que acontece com [certas denominações], que não possuem hospitais, asilos, orfanatos e clínicas. Seu único interesse parece ser advertir a humanidade da iminente batalha do Armagedom. Não assim os adventistas. Sua crença na Segunda Vinda não arrefeceu seu empenho em favor da educação, do cuidado médico ou do serviço em prol de outros. Nenhuma igreja pode apresentar mais impressionante relatório de serviço médico do que os adventistas do sétimo dia, levando-se em conta o número total de seus adeptos”, escreveu Willian J. Whiler, professor de História da Universidade Católica de Pardue, Estados Unidos.[4]

Com a lembrança do grande desapontamento ficando para trás, as pessoas tornavam-se cada vez mais receptivas à mensagem adventista. Em meados da década de 1850, tendas evangelísticas foram erguidas num Estado após outro. Centenas, e mesmo milhares, aglomeravam-se para ouvir Loughborough, White, Andrews, Cornell, Waggoner, Sanborn, Taylor, Hull e outros pregarem a Palavra. Mas, mesmo que pregassem às multidões desde o Maine até Minnesota, dificilmente cumpririam a ordem de Cristo de levar o evangelho ao mundo inteiro.

Assim, em 1855, José Bates animou os irmãos na fé a remeter literatura a algumas estações missionárias estrangeiras. João Fischer, ex-ministro batista, chegou a traduzir um folheto para a língua holandesa. Mas só em 1874 um missionário adventista foi enviado para terras além-mar.


John Nevins Andrews foi o escolhido. Profundo conhecedor de grego e hebraico, Andrews era capaz de ler a Bíblia em sete línguas diferentes, além de saber de memória todo o Novo Testamento. Tinha apenas 15 anos quando passou pela amarga experiência do desapontamento. Sem se deixar vencer pelo desânimo, entretanto, continuou a estudar a Bíblia, até que um folheto de Nova Iorque, escrito por Hiran Edson, explicando o erro cometido quanto ao evento que teve lugar em 22 de outubro de 1844, trouxe de volta o ânimo à família do jovem Andrews.

Quando John estava com 17 anos, teve de tomar uma decisão que definiria por completo sua vida. Seu tio Carlos, homem rico que havia prosperado na carreira política e era membro do Congresso Nacional, fez-lhe uma visita e uma proposta. Ele e sua esposa Hanna não tinham filhos e se haviam afeiçoado muito ao sobrinho, um rapaz inteligente e brilhante.

– Que prazer ver você novamente! – diz o tio Carlos. – Você está agora com 17 anos, não é verdade? Quais são os seus planos para o futuro?

– Desejo ser um pastor e pregar o evangelho – responde Andrews. O tio Carlos faz uma expressão de desagrado.

– John, é certo o que tenho escutado sobre você, que está guardando o sábado, como os judeus? Você quer tornar-se um pastor para pregar essa doutrina?!

– Tio Carlos, uma vez que estou convencido de que o sétimo dia da semana é o verdadeiro dia de repouso, estou determinado a pregá-lo em todas as partes aonde eu puder ir.

– Veja, John, eu tenho algo muito mais importante para sugerir-lhe. Você é um jovem inteligente, deve estudar Direito e entrar na carreira política. Este é um brilhante futuro. Pode escolher a universidade que desejar e pagarei todas as suas despesas. Ademais, estou ficando velho e, quando você terminar seus estudos universitários, estarei me aposentando e você poderá substituir-me no cargo que ocupo.

Houve um momento de silêncio. A oferta era tentadora e John apreciava muito os estudos. Pediu um momento para pensar.

– Está bem, John. Tão logo você tenha decidido, escolha a universidade – Harward, Dartmouth ou Yale – e tratarei de conseguir sua admissão. Pagarei os custos e também lhe comprarei roupas e os livros que precisar.

O tio se retirou deixando Andrews pensativo. Mas a decisão do jovem já havia sido tomada. Serviria a Deus aonde quer que Ele o mandasse, e teria todo o apoio dos pais.

Em 1874, durante a assembléia da Associação Geral dos adventistas, em Battle Creek, Michigan, a decisão de enviar o Pastor Andrews como missionário à Europa foi aprovada pelos delegados. Andrews não ficou muito animado; com a morte de sua esposa Angelina, em 1872, desempenhava o papel de pai e mãe de seus dois filhos Carlos e Maria. Hesitava deixar seu recanto tranqüilo próximo à escola, onde os filhos iam bem nos estudos. “Mas logo sentiu uma estranha transformação em suas emoções. Seu rosto brilhava quando ele se pronunciou aceitando ir a qualquer lugar aonde o Senhor o enviasse.”[5]

No dia 15 de setembro de 1874, John Andrews e seus filhos, juntamente com Ademar Vuilleumier, embarcaram no navio Atlas, rumo à Inglaterra. Ademar seria o tradutor e professor de francês dos Andrews.

Pouco tempo depois de estabelecidos no novo Continente, os Andrews já publicavam Les Signes des Temps (Sinais dos Tempos). Quando tinha o material pronto, entregava-o a Maria para ser corrigido. Com 14 anos, Maria dominava o francês e ajudava o pai em seu trabalho editorial. Andrews precisou ainda estudar, além do francês, o alemão e o italiano, para desempenhar seu trabalho. 

No início de 1878, Andrews olhava com esperança o futuro. Havia agora adventistas na Inglaterra, Escócia, Irlanda, Egito, Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Rússia, França e Itália. “A verdade continua avançando. O Senhor voltará em breve. Nossos dias de luto logo terminarão. Continuamos trabalhando e labutando na esperança da vida eterna”, escreveu.

Realmente, a mensagem avançava. Mais e mais missionários foram enviados. Milhares de folhetos e livros foram espalhados como “folhas de outono”. Turquia, China, África, as ilhas do Pacífico, Índia, Austrália, América do Sul... Em cada “nação, tribo, língua e povo” a mensagem adventista lançava suas raízes.

Até que em 1884 o adventismo chegou ao Brasil. De forma não menos providencial.


Referências: 

1. Maxwell, C. M. História do Adventismo, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985, pág. 54. Leia-se também o livro 1844, Uma Explicação Simples das Principais Profecias de Daniel, de Clifford Goldstein (Casa), a fim de se ter maiores detalhes sobre o que ocorreu em 22 de outubro de 1844. 
2. Oliveira, Enoch de. A Mão de Deus ao Leme, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985, pág. 29.
3. Ibidem, pág. 35.
4. De um artigo publicado na revista US Catholic, reproduzido em O Ministério, Janeiro/Fevereiro de 1967, pág. 14.
5. Oliveira, Lygia de. Na Trilha dos Pioneiros, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990, pág. 152.


Acesso Teológico
Naldo JB