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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A tocha vai passando


“Há 70 anos, nossos pais receberam, no Brasil, de uma maneira providencial e com miraculosas evidências divinas, esta mensagem do advento. Não a receberam como prêmio ou privilégio particular, mas para que fosse comunicada a todos os habitantes do Brasil, bem como a todo o mundo.

“Nós, os filhos, ouvimos as vozes de nossos pais proclamando a breve volta de Jesus em glória. Ouvimos da graça salvadora; da necessidade de observar a lei da família de Deus; de estarmos atentos e preparados para o dia da volta do Rei dos reis. 

“Vimos os sinais deste último século. O aumento da ciência; perversão e revolta no lar e na sociedade. Passamos por guerras e ouvimos rumores de guerras. Lemos dos terremotos e das coisas espantosas que aconteciam. 

“Vivemos num mundo de injustiças, mas estamos no caminho de um em que ‘habita a justiça’. Estamos envoltos na mais negra escuridão do pecado, mas já vislumbramos o arrebol de um novo dia.

“Sentimos o aproximar do último combate espiritual. O tempo avança e nossas forças diminuem. Nossos passos são mais lentos, inseguros; nosso respirar é mais ofegante; nossa alma fica apreensiva e anelante. Olhamos preocupados para o negror das carregadas nuvens e a fúria da tempestade e, como outros, perguntamos: ‘Guarda, a que hora estamos da noite?’ (Isa. 21:11). E ‘até quando durará... a transgressão assoladora...’ (Dan. 8:13).

“Lemos da resposta do Santo e compreendemos que já estamos há 126 anos no ‘tempo do fim’. O nosso trabalho deveria ter terminado, mas a fraqueza e a mornidez humana fazem prolongar a dor e o sofrimento, e adiar a restauração, na vinda de Jesus Cristo.

“Nesta emergência, Deus ainda indaga: ‘Quem há de ir por nós?’ O silêncio que segue a uma tão importante pergunta é interrompido pelo grito de milhares de jovens, exclamando: ‘Eis-nos aqui!’ É a voz da juventude que se levanta. É a resposta a Deus e a nós. [São eles] que continuarão a tarefa que nós deixamos e pela qual demos nossas forças, que agora fraquejam.

“Aqui estão meus filhos, vossos filhos, os filhos desta Igreja, os filhos deste povo que ainda tem uma tarefa inacabada; uma mensagem a ser dada ao mundo, proclamando em alta voz: ‘O teu Deus reina’ (Isa. 52:7), não está morto! Não está dormindo! Nós não estamos abandonados, pois em breve seremos testemunhas de como Ele ‘desnudará o Seu santo braço... e todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus’ (Isa. 52:10).

“Vós continuareis o trabalho que nós deixamos. Vós ainda sois fortes.

“Não temereis a procela, porque vosso olhar está fixo em Jesus. 

“Não vos assustareis com o rugir do ‘leão’, que tem pouco tempo, pois tendes a arma de dois gumes, que é ‘mais penetrante do que espada alguma’. 

“Não vos assombrareis diante do crepitar da fogueira, acendida por línguas mal controladas, porque aprendestes a perdoar. 

“Não vos acovardareis ante a besta de sete cabeças e dez chifres, nem com a sua imagem que vos proibirá ‘comprar ou vender’, porque no Cordeiro está a vitória.

“Não vos espantareis com a pobreza, entregando tudo o que tendes ao Mestre, porque ‘o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas’. 

“Não desanimareis ante ameaças mil, pois tendes um lema: ‘O Evangelho a todo mundo nesta geração’, com o grandioso incentivo: ‘O amor de Cristo nos constrange’.

“Meus jovens, nós cremos em vocês. Nós sabemos que seguireis a trilha dos jovens que, em todas as épocas, lutaram sob as ordens de Deus. 

“Nós sabemos que sereis fiéis aos vossos superiores e à vossa pátria.

“Nós temos a certeza de que fareis coisas maiores do que aqueles que vos antecederam.

“Por isso, nós confiamos a vós a ‘tocha da fé adventista’ que nos foi entregue pelos nossos pais, e estamos tranqüilos, pois sabemos que esta mocidade nunca trairá o seu Mestre e nem o seu torrão natal.”

(Mensagem proferida pelo pastor Rodolpho Belz [27/07/1898 – 12/01/1978], neto do pioneiro Guilherme Belz, no 2º Congresso Sul-Americano da Igreja Adventista do Sétimo Dia, realizado nos dias 19 a 22 de janeiro de 1970, em Curitiba.)

*****

Deus sempre teve Seu povo fiel em todos os tempos. Durante a longa noite de trevas espirituais da Idade Média, manteve Seus fiéis guardadores da chama da Verdade.

Os Valdenses, organizados por Pedro Valdo em 1173, foram os guardiões dessa “chama sagrada”. Opondo-se aos erros e tradições da igreja oficial e seguindo fielmente as Escrituras Sagradas, atraíram sobre si as maiores perseguições. Chegaram a ser excomungados pelo Papa, em 1181. Foram obrigados a dispersarem-se por todo o continente europeu, estabelecendo-se, a partir do século 13, nos Vales do Piemonte.

Ali, naqueles vales, os jovens valdenses estudavam e se preparavam copiando grandes porções das Escrituras. Depois, saíam a espalhá-las nas cidades e nos campos. “Dos que se preparavam para serem ministros exigia-se um estágio de três anos colportando [do francês colporteur, que significa levar ao pescoço, devido ao costume dos valdenses de levar os escritos sagrados debaixo da roupa ou numa bolsa que pendia do pescoço].”[1]

Disfarçados de comerciantes, esses jovens misturavam-se ao povo em busca de interessados na Palavra de Deus. Quando encontravam algum, tiravam debaixo da roupa alguma porção das Escrituras, liam, explicavam e vendiam. “Dessa maneira, esse exército de jovens motivados pelo maior dos ideais, a cruz de Cristo, e liderados pelo próprio Jesus, preparou o solo de onde brotaria a semente da Reforma cristã do século XVI.”[2]

Muitos séculos antes, outros jovens também se destacaram pela coragem e fidelidade a Deus. Foram Daniel e seus amigos hebreus. Cativos na pagã Babilônia, esses hebreus foram submetidos a muitas provas. “Daniel foi submetido às mais severas tentações que podem assaltar os jovens de hoje; contudo, foi leal para com a instrução religiosa recebida na infância. Ele estava cercado por influências que subverteriam aqueles que vacilassem entre o princípio e a inclinação; todavia, a Palavra de Deus o apresenta como um caráter irrepreensível... Ele fazia de Deus a sua força e o temor do Senhor estava continuamente diante dele em todos os acontecimentos de sua vida.”[3] 

Certo dia, o rei Nabucodonosor convoca todo o seu reino para reverenciar uma grande estátua de ouro. Diante da majestosa imagem todos se prostram e adoram-na. Todavia, em meio à multidão, três pessoas se destacam, pois permanecem em pé: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os amigos de Daniel. Severamente repreendidos, os três jovens são lembrados pelo rei que, se não se prostrarem, serão jogados numa fornalha ardente. A resposta dos três é clara: “Fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste” (Dn 3:18). Que coragem! Que fé! “Esses três hebreus possuíam genuína santificação. O verdadeiro princípio cristão não pára a fim de pesar as conseqüências. Não pergunta: ‘Que pensará o povo se eu fizer isto?’ ou ‘Quanto afetará meus planos, se eu fizer aquilo?’ Com o mais intenso anseio os filhos de Deus desejam saber o que Ele quer que façam, para que suas obras O glorifiquem.”[4]

No século 19, outros jovens se destacaram igualmente por sua coragem. Tiago White começou a pregar o segundo advento em 1842, com a idade de 21 anos; John N. Andrews iniciou a carreira de pregador aos 14 anos e, aos 21, já era um profícuo escritor; John Loughborough era conhecido como o “pregador adolescente”, aos 17 anos; Uriah Smith, aos 21 anos, foi indicado para ser o redator da Editora Adventista nos Estados Unidos; Ellen G. White iniciou seu ministério aos 17 anos, e por mais de 70 dedicou-se a pregar. Ellen, na ocasião de seu chamado por Deus, tinha apenas o terceiro ano primário e era uma jovem muito frágil, devido às doenças e dificuldades pelas quais havia passado na infância. Mas não olhou para suas limitações, e sim para o que poderia fazer por Deus, pois “o Senhor não chama apenas os capacitados, mas é fiel em capacitar aos que chama”.

Diante disso tudo, tenho certeza de que Deus tem grandes planos para a juventude adventista brasileira (tem grandes planos para você, também!). Assim como usou os pioneiros deste movimento para dar início à proclamação da mensagem de advertência ao mundo, Ele quer usar você e a mim para pôr fim à Obra, a fim de que Cristo possa logo voltar. 

Em uma de minhas pesquisas em Gaspar Alto (em 1995), tive a oportunidade de conhecer o “Cemitério da Esperança”. Lá, enquanto caminhava por entre os túmulos dos pioneiros, um hino me veio à mente:

"Quanta emoção, prazer nos traz
Só o lembrar a antiga fé
Que inspirou os nossos pais
Ante a dor e a morte até."

Muitos pioneiros da obra adventista no Brasil estão enterrados naquele cemitério. Ao lado do túmulo do pastor Gustavo Storch existe um outro com a placa: “O Pioneiro”. É o túmulo de Guilherme Belz (1835 – 11/03/1912). Fico, então, imaginando o dia maravilhoso da volta de Cristo, quando essas valorosas pessoas forem chamadas de volta à vida e tomarem conhecimento do quanto seu trabalho frutificou e que seu esforço não foi “vão no Senhor” (1Co 15:58).


Cemitério da Esperança, em Gaspar Alto: pioneiros aguardam o dia da ressurreição 

É claro que de nada adiantaria falar de homens e mulheres que colocaram a vida nas mãos de Deus e tudo fizeram por Sua obra, se isso não nos fizesse ver que essa missão está agora sobre nossos ombros. Precisamos compreender a sagrada responsabilidade que temos por adotar o nome de adventistas do sétimo dia e termos, agora, a “tocha da verdade” em nossas mãos.

Essa bela história continua sendo escrita por nós. Avancemos com fé, confiantes de que “o Deus de Israel ainda está guiando o Seu povo, e continuará com eles até o fim”.[5] E aguardemos a “bem aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2:13). Amém!


Fiz esse desenho em 1999, para ilustrar meu livro A Chegada do Adventismo ao Brasil, lançado pela Casa Publicadora Brasileira em 2000. Nele, procurei representar os principais momentos da história do adventismo no Brasil: a chegada do pacote de revistas A Voz da Verdade a bordo de um navio; o casarão comercial de Brusque, onde o pacote foi aberto em 1884; o bêbado Dressler espalhando folhetos e revistas pela região da Colônia de Brusque; Guilherme Belz tendo contato com a mensagem adventista e comparando o conteúdo dos livros e folhetos com sua Bíblia; e o batismo de Guilherme Stein Jr., nas águas do rio Piracicaba, em 1895.

Referências: 

1. Chaij, Nicolas. O Colportor de Êxito, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, quarta edição, 1992, p. 25.
2. Reis, Denilson dos. “Como Tochas Ardentes”, Revista Adventista, julho/93, p. 35.
3. White, Ellen G. Santificação, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, sétima edição, 1988, p. 21, 22.
4. Idem, p.43.
5. White, Ellen G. Testemunhos Seletos, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, quinta edição, 1985, v. 3, p. 439.


Acesso Teológico
Naldo JB

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