Conta-se
que uma menina e sua avó estavam na igreja certa manhã. A menina se ocupava com
seu desenho, aparentemente alheia àquilo que o pregador dizia. Porém, ela
estava escutando. Em dado momento, puxou a manga da blusa da avó e perguntou:
–
Vovó, o pastor disse que Deus vive em nós?
–
Sim, querida. Ele vive.
Ela
continuou desenhando por mais alguns momentos, até que outra pergunta exigiu
uma resposta urgente.
–
Vovó, o pastor acabou de dizer que Deus é maior do que nós?
– É
claro, princesa. Deus é maior do que nós.
– Se
Ele é maior do que nós, e mora dentro de nós, uma parte dele não devia aparecer
pelo lado de fora?[1]
A
menina tem razão; realmente, deveria. Uma experiência real e genuína com Jesus
permite que Ele seja visto “pelo lado de fora” de nossa vida. Chamamos isso de
testemunhar. É isso que o Espírito Santo, manifestado mediante o fruto e os
dons, pode fazer por intermédio do povo de Deus e pela obra de Deus. E o
Espírito Santo só pode fazer isso em nós e por nós porque é Deus, e não
meramente uma força misteriosa impessoal atuando em algum lugar.
A
divindade do Espírito Santo
O
ensino bíblico é claro: O Espírito Santo é Deus, tanto quanto o Pai e o Filho.
Na Bíblia há diversas provas disso; vou mencionar apenas sete:
1 - Ele
é chamado de Espírito eterno: “Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa
consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!”. Hebreus 9: 14.
2 - O
Espírito pensa as coisas profundas de Deus: “Porque o Espírito a todas as
coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe
as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também
as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”. 2 Coríntios
2:10-11.
3 -O Novo Testamento atribui à pessoa do Espírito Santo o que o Antigo Testamento apresenta como obra de Deus. Compare, por exemplo, Atos 28:25-26 com Isaías
6:8-9 (“E, havendo discordância entre eles, despediram-se, dizendo Paulo estas
palavras: Bem falou o Espírito Santo a vossos pais, por intermédio do profeta
Isaías, quando disse: Vai a este povo e dize-lhe: De ouvido, ouvireis e não
entendereis; vendo, vereis e não percebereis”. /// “Depois disto, ouvi a voz do
Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me
aqui, envia-me a mim. Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e
não entendais; vede, vede, mas não percebais”). Como se observa, o Espírito
Santo do Novo Testamento é o Senhor do Antigo Testamento. Outro exemplo é o de
Hebreus 3:7-9 com Êxodo 17:7.
4 - O
Espírito Santo é onipresente. Salmo 139:7: “Para onde me ausentarei do teu
Espírito? Para onde fugirei da tua face?”.
5 - O
Espírito Santo é onisciente. 1 Coríntios 2:10: “Porque o Espírito a todas as
coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”. Como afirma John Miley,
nenhuma pessoa pode conhecer as coisas secretas na mente de outras pessoas, mas
o Espírito sonda e conhece todas as coisas. “A ênfase mais profunda está no
fato de que Ele busca e conhece a mente de Deus. A busca é o conhecimento mais
absoluto. Este é o sentido de ἐρευνᾷ, como o termo é usado em outros textos.
Não há expressão mais forte de uma onisciência absoluta nas Escrituras. Esta é
a onisciência do Espírito Santo”.[2]
6 - O
Espírito Santo é onipotente, a ponto de distribuir os dons segundo o seu
critério. 1 Coríntios 12:11: “Mas um só
e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz,
a cada um, individualmente.”
7 - Porque
lhe é dada adoração divina: na fórmula batismal (Mateus 28:19) e na bênção
apostólica (2 Coríntios 13:14 e Apocalipse 1: 4). Em 1 Coríntios 6:20, somos
advertidos: “Glorificai a Deus no vosso corpo”, mas é o Espírito Santo que
habita no corpo como Seu templo (verso 19). Em Atos 4:23 a 31, a igreja
apostólica está em oração e adoração, e o Espírito Santo é central neste
processo (versos 25 e 31).[3]
Além
dos diversos versículos bíblicos já mencionados, vale a pena citar Atos,
capítulo 5, o qual “fornece evidência persuasiva em favor da divindade do
Espírito. Pedro disse a Ananias que este mentira ao Espírito Santo (Atos 5:3),
o que fortemente implica que Ananias praticou falsidades diante do Deus
Espírito Santo, e não em relação a Deus o Pai ou […] Deus o Filho”.[4]
É
também fundamental compreender, como lembra Charles Hodge, que “as obras do
Espírito são as obras de Deus. Ele moldou o mundo. (Gn 1: 2). Ele regenera a
alma: nascer do Espírito é nascer de Deus. Ele é a fonte de todo conhecimento;
o doador de inspiração; o professor, o guia, o santificador e o Consolador da
Igreja em todas as épocas. Ele modela nossos corpos; Ele formou o corpo de
Cristo, como habitação adequada para a plenitude da Divindade; E Ele deve
vivificar nossos corpos mortais. (Romanos 8:11)”.[5]
Cuidado
com o estudo sobre o Espírito Santo
Devido
à nossa limitação humana, é impossível compreender muita coisa sobre Deus, Sua
pessoa e obras. Em relação com a pessoa do Espírito Santo não é diferente: o
que dEle podemos e devemos saber está revelado nas páginas das Escrituras, quer
seja lógico ou não à razão humana. É com esse cuidado em mente que devemos
analisar o que nos diz a Palavra de Deus sobre a Terceira Pessoa da Trindade.
Uma postura humilde é altamente necessária neste empreendimento.
Entretanto,
mais do que apenas compreender quem é o Espírito Santo, precisamos experimentar
Seu poder transformador descrito nas Escrituras. Como?
- Permitindo-lhe
e convidando-O que atue em nosso coração;
- Colocando
nossa vontade ao Seu dispor;
- Fazendo
atividades que facilitem Sua atuação em nós (por exemplo: oração, leitura da
Bíblia, testemunho).
Ao
mesmo tempo, devemos evitar coisas em nossa vida que nos distraem e nos impedem
de desfrutar a plenitude do poder do Espírito. Exemplos:
- Atividades
que nos distanciam de Deus: músicas, livros e filmes que não refletem a vontade
de Deus;
- Alimentação
que nos indispõe para concentrar nossa mente com as coisas divinas;
- Estilo
de vida que nos torna seculares e insensíveis à voz de Deus.
Afinal,
como negligenciar Aquele que – como o Pai e o Filho – merece ser adorado e
louvado? Como ignorar Aquele que é responsável por nossa segurança e salvação?
Referências:
[1]
Ron E. M. Clouzet. A Revolução do Espírito: Você está preparado? Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2016, p. 106.
[2]
John Miley. (1892). Systematic theology, volume 1 (p. 262). New York: Hunt
& Eaton.
[3]
W. G. T. Shedd. (2003). Dogmatic theology. (A. W. Gomes, Org.) (3rd ed., p.
269). Phillipsburg, NJ: P & R Pub.
[4]
Woodrow Whidde, Jerry Moon e John W. Reeve. A Trindade. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003,
p. 85.
[5]
Charles Hodge. (1997). Systematic theology (Vol. 1, p. 528). Oak Harbor, WA:
Logos Research Systems, Inc.
Adolfo Suárez: Reitor do SALT-DSA. Pastor,
teólogo e educador. Doutor e Mestre em Ciências da Religião. Pós-Doutor em
Teologia. Bacharel em Teologia e Licenciado em Pedagogia. Professor de Pós-Graduação
na Faculdade de Teologia no UNASP-EC. Visiting professor do programa Master in
Leadership, da Andrews University. Autor de diversos livros. Membro da
Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.