B. O Duplo Aspecto da Justificação e Santificação
O que o apóstolo entende pela presente perfeição dos cristãos? Estão
eles perfeitos em Cristo no sentido de Justificação pela fé somente, que
significa que a perfeição ou justiça de Cristo é imputada a eles?
O evangelho paulino focaliza especificamente sobre essa abençoada
verdade nas seguintes passagens: "Concluímos, pois, que o homem é
justificado pela fé, independentemente das obras da lei." (Rom. 3:28).
"Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como
dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a
sua fé lhe é atribuída como justiça." (Rom. 4:4-5).
Este gracioso ato Deus, atribuindo a justiça de Cristo ou Sua perfeita
obediência ao pecador arrependido, significa que Deus considera o crente justo
com Ele mesmo. O cristão, portanto, tem paz com Deus em sua consciência, não
mais sob condenação da santa Lei de Deus (Rom. 5:1; 8:1). O perfeito perdão de
Deus por seus pecados e vida pecaminosa significa a completa absolvição de sua
culpa diante do Julgamento divino por causa da obediência de Cristo. "Pois
assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os
homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um
só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de
um só, muitos se tornarão justos." (Rom. 5:18-19).
Portanto, Paulo desejava gloriar-se somente na Cruz do Senhor Jesus
(Gál. 6:14). Para o apóstolo Paulo a justificação do ímpio, contudo, tinha não
somente um aspecto legal salvador, mas também um aspecto dinâmico santificador,
por causa que Cristo Se torna o Rei do crente justificado. "Ele nos
libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados." (Col. 1:13-14).
Justificação pela fé, portanto, implica a transferência da alma do
domínio do pecado, em que ele foi nascido por meio de Adão, ao Reino da graça,
cujo Rei é Jesus Cristo. O poder esmagador do pecado no mundo foi quebrado em
Cristo, desde que Ele conquistou o pecado em nosso corpo humano (João 16:33;
Rom. 8:3).
Através do batismo em Cristo, em Sua morte e ressurreição, o crente é
legalmente incorporado em Cristo, participando em tudo o que Cristo tem
adquirido em Sua vitória na Cruz e na Ressurreição (Rom. 6). Nesta base
redentiva, Paulo levanta a pergunta significativa para os cristãos em Roma:
"Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?" (Rom.
6:2). Explanando a profunda significação do batismo cristão como uma
incorporação na própria morte de Cristo sobre a Cruz, ele afirma: "Sabendo
isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do
pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos." (Rom. 6:6).
"Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para
Deus, em Cristo Jesus." (Rom. 6:11).
Este indicativo salvador clama por um imperativo santificador que o
apóstolo então estimula: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo
mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões". "Assim como
oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a
maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para
a santificação." (v. 12,19).
Esta é a ética paulina da perfeição cristã! Isto pressupõe uma diária
apropriação pela fé da vida e morte de Jesus Cristo como aceitas no batismo.
Rom. 6 segue Rom. 3-5. A ordem apostólica é primeiro redenção, depois
moralidade; primeiro justificação, então santificação; e isto como uma
experiência diária. A dinâmica e total consagração da perfeição cristã, Paulo
revela em seu grande apelo de Rom. 12:1-2: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas
misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus."
Em Rom. 12:1-15:13, o apóstolo desenvolve como a justiça de Deus deveria
ser revelada na vida cristã como um testemunho à graça recebida. Isto parece
estar em harmonia e continuidade fundamentais com o concerto da graça do Antigo
Testamento, em que obediência à Lei do concerto era condicionada e motivada
pela redenção do Êxodo e participação diária no serviço do santuário. O
apóstolo portanto, pode apelar também às promessas de Deus no Antigo Testamento
sobre dar a Israel um coração limpo e obediente (Eze. 36:25-27; 37:27), e
aplicá-las diretamente à igrejas cristã, dizendo: "Tendo, pois, ó amados,
tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do
espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus." (2Cor. 7:1).
Paulo resume sua mensagem evangélica e seu propósito moral muito
brevemente como segue: "E ele morreu por todos, para que os que vivem não
vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e
ressuscitou." (2Cor. 5:15; ver também 1Ped. 2:24).
Acesso Teológico
Naldo JB
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