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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Contradição Bíblia Entre 1 Crônicas 21:5 e 2 Samuel 24:9?



Por que há diferença entre 1 Crônicas 21:5 e 2 Samuel 24:9? Trata-se de uma contradição?
A Aparente Contradição

As duas passagens bíblicas contam sobre o relatório de recenseamento que Joabe apresentou a Davi. Escritas em livros diferentes, por autores diferentes, essas passagens narram um mesmo fato – o que chamamos de paralelismo. Os paralelismos bíblicos costumam, muitas vezes, aparecer de forma redundante ou ainda como complemento um do outro.

Entretanto, nesse caso parece estabelecer-se uma contradição. Uma aparente contradição interpreta-se quando se realiza uma leitura superficial, seja ela em qualquer versão da Bíblia, ou ainda a partir de uma leitura atentiva mesmo, mas feita em versões mais modernas, de traduções bíblicas mais liberalmente interpretativas, como é o caso da versão bíblica padrão que usamos aqui na Escola Bíblica, a Nova Versão Internacional:

Então Joabe apresentou ao rei o relatório do recenseamento do povo: havia em Israel oitocentos mil homens habilitados para o serviço militar, e em Judá, quinhentos mil (2Samuel 24:9).

Joabe apresentou a Davi o relatório com o número dos homens de combate: Em todo o Israel havia um milhão e cem mil homens habilitados para o serviço militar, sendo quatrocentos e setenta mil de Judá (1Crônicas 21:5).

E quando vamos para uma versão mais livre, de tradução bíblica, a contradição parece firmar-se mais ainda. Veja a comparação dos textos, na Nova Tradução na Linguagem de Hoje:

E eles informaram ao rei que o total de homens capazes para o serviço militar era o seguinte: oitocentos mil em Israel e quinhentos mil em Judá (2 Samuel 24:9).

Ele informou ao rei Davi que o total de homens capazes para o serviço militar era o seguinte: um milhão e cem mil em Israel e quatrocentos e setenta mil em Judá (1 Crônicas 21:5).

Partindo de nossas convicções cristãs fundamentalistas de que a Bíblia sempre diz a verdade, e de que ela nunca se contradiz, é possível que fiquemos embaraçados com as comparações acima. Para entendermos a aparente contradição tirada dessas comparações, observe abaixo os números dos relatórios:

Como Explicar Isso?

Como já observamos, o problema pode estar na leitura ou no tipo de tradução feita do original hebraico para o nosso português. Utilizando a tradução mais “seca” possível e interpretando o mínimo possível temos:

Nossa tradução de 2 Samuel 24:5

E Joabe entregou a soma do número do povo ao rei. E havia em Israel, oitocentos mil homens valentes que puxavam a espada. E os homens de Judá eram quinhentos mil homens.
Nossa tradução de 1Crônicas 21:9

E Joabe entregou a soma do número do povo a Davi. E todos eles de Israel eram um milhão e cem mil homens que puxavam a espada. E Judá era quatrocentos e setenta mil que puxavam a espada.

Compare os Outros Detalhes do Texto, Além dos Números.

Note que para os contados de Israel, na primeira parte do relatório, o texto de Crônicas diz que os contados foram os “homens que puxavam a espada”, o texto de Samuel apresenta como contados os “homens valentes que puxavam a espada”. Percebe a diferença? Há uma qualificação a mais, o que indica que, do total, um grupo era seleto. Essa qualificação “valentes”, vem da palavra hebraica chayil, que, quando atribuída a homens, significa uma habilidade de soldado em termos de força, poder, riqueza, substância, treino, valentia, valor ou dignidade na guerra (Strong fornecida pelo CD-ROM Bíblia Online da SBB). Isso nos leva a entender que, dos 1.100.000 homens que puxavam a espada em Israel, 800.000 eram “chayil”, e os outros 300.000 apenas puxavam a espada, mas não tinham essa qualificação.

O comentário Bíblico SDABC apoia essa ideia sugerindo que “talvez a diferença possa ser encontrada entre os ‘homens valentes’ aqui mencionados [em 2 Samuel, conforme a versão Reina de Valera] e ‘todos os de Israel’, em I Crônicas 21:5, considerando-se o grupo anterior como tropas à disposição para o cumprimento de obrigações, e o último, como unidades de reserva”.

Da mesma forma, na segunda parte do relatório, onde se apresenta os números atribuídos a Judá, podemos encontrar, no texto, outra diferença. Enquanto o texto de Samuel apresenta todos os “homens de Judá”, o texto de Crônicas é mais específico em relatar apenas os “que puxavam a espada”. Podemos deduzir que em Judá havia um total de quinhentos mil homens alistados, dos quais, quatrocentos e setenta mil eram reservistas oficiais do exército e os outros trinta mil eram dispensados do serviço militar.

Resumindo o relatório do recenseamento apresentado a Davi, poderíamos juntar o que ambos os textos apresentam, da seguinte forma:

 

Esse estudo mostra que a partir de uma leitura atentiva, mais fiel ao original hebraico, os textos de 1 Crônicas 21:5 e de 2 Samuel 24:9 não se contradizem numericamente. Ao contrário, eles se harmonizam, pois um complementa ao outro, trazendo uma informação só. A distinção entre eles não está nos números, mas no que eles apresentam. Os números se apresentam diferentes, por se tratarem de coisas diferentes. Partes distintas de um mesmo relatório.

Mesmo diante da possibilidade de um estudo linguístico, como feito acima, devemos ter outros fatores em mente. Veja que os números do relatório são números redondos. Podemos perceber que se trata de uma quantidade aproximada, e não exata. A preocupação em fornecer um número exato até em unidades, é um capricho da nossa mentalidade ocidental pós-moderna, mas a forma de pensar daquele povo era diferente. Uma vez que o entendimento geral comum era de que os números fossem arredondados, o relatório não é uma mentira, pois um número aproximado estaria em consenso entre todos. De qualquer forma, a apresentação desse relatório se mostra perturbada, e podemos questionar o porquê disso. Talvez a resposta esteja em 1 Crônicas 27:24: “Joabe, filho de Zeruia, começou a contar os homens, mas não pôde terminar. A ira divina caiu sobre Israel por causa desse recenseamento, e o resultado não entrou nos registros históricos do rei Davi”. Esse verso explica que, realmente, o resultado final do relatório ficou um pouco bagunçado.


Ainda assim, mais uma vez, podemos confirmar que a Bíblia é verdadeira e que não se contradiz, pois ela é a Palavra de Deus. Que as Escrituras Sagradas sejam uma benção para enriquecer a sua fé. Estude-a, sempre.


Acesso Teológico
Naldo JB

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