O apóstolo Pedro aponta a necessidade de o cristão frutificar no
conhecimento de Deus. Contra as heresias destrutivas dos falsos ensinadores
manifestando-se em licenciosidade moral e desprezo de autoridade (2Ped.
2:2,10), Pedro trata especificamente sobre o propósito moral prático da graça e
conhecimento de Jesus Cristo. Em particular ele está interessado na necessidade
de santificação progressiva no caminho da salvação final. Tal progresso ele vê
como o pré-requisito para a entrada no eterno Reino de nosso Senhor Jesus
Cristo (2Ped. 1:11).
Em visão da realidade do dia vindouro do julgamento e da destruição dos
ímpios, tão certo como aquele que veio ao mudo antediluviano e sobre Sodoma e
Gomorra, Pedro veementemente convoca aos cristãos a viverem santa e
piedosamente "sem mácula e irrepreensíveis" (2Ped. 3:7,10-11,14). Ele
resume a sua epístola em seu apelo sempre desafiador: "Antes, crescei na
graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." (2Ped.
3:18; ver também 1Ped. 2:2).
Crescimento significa progresso. Mas como pode o crescimento ser
cultivado pelos crentes, se isso é basicamente um dom de Deus (1Cor. 3:7)? A
resposta é apresentada em 2Ped. 1:3-8, onde o apóstolo desenvolve sua notável
escada da perfeição, na qual cada cristão precisa avançar constantemente, a fim
de ser um cristão vivo (v. 8), preparado para o Reino eterno de Cristo (v. 11).
Pedro acha a sua escada de santificação no reconhecimento de que de
Deus, "pelo Seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou
para a sua própria glória e virtude..." (v. 3). Em outras palavras, no
reconhecimento de que toda a vida de fé e bondade é um dom do poder e graça
divinas. Este poder e graça Deus nos comunica através das "Suas preciosas
e mui grandes promessas" (v. 4) como transmitidas pelos profetas de Israel
nas Santas Escrituras do Antigo Testamento e confirmadas por Jesus Cristo (v.
19; João 5:39).
O propósito salvador e santificador das promessas do concerto gracioso
de Deus é "para que por elas possais escapar da corrupção das paixões que
há no mundo e vos torneis co-participantes da natureza divina" (v. 4), uma
forte expressão para a perfeição do caráter cristão. Desde que o caráter é
formado pelos atos do homem, o homem é chamado a participar ativa e
sinceramente na apropriação pessoal da prometida graça, colocando em operação
os poderes das promessas do concerto. Isto fará sua fé em Deus e em Cristo
moralmente efetiva e frutífera, desde que Deus é santo, justo, misericordioso e
fiel.
Sob este fundamento redentivo, Pedro exorta a todos os cristãos a
prosseguir da fé à virtude, ao conhecimento, ao domínio próprio, à
perseverança, à piedade, à fraternidade e ao amor – todos virtudes e atributos
divinos. "Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai
com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o
domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a
piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque
estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais
nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo." (2Ped. 1:5-8).
O teor da enumeração desta série de virtudes não se propõe a sugerir uma síntese de virtudes desconexas
que possam ser atingidas somente uma após outra. Sua intenção é antes um
chamado a cultivar e desenvolver plenamente a graça e o conhecimento de Cristo
como Salvador em um caráter cristão maduro (compare com Gál. 55:22-23).
Contudo, o perigo de começar a confiar no poder do homem e de perder de vista a
Jesus ameaçará sempre o progresso cristão. Pedro, portanto, termina sua carta
significativamente com o enfático conselho para crescer "na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2Ped. 3:18). Assim,
Pedro está lembrando o conselho do Senhor no Antigo Testamento: "O que se
gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço
misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o
SENHOR." (Jer. 9:24).
O apóstolo Pedro, portanto, não está estimulando qualquer adição de
virtude a virtude em uma disciplina de auto-cultura ou auto-ajuda, mas ele está
chamando aos cristãos a seguir os passos de Jesus Cristo como o seu grande
Exemplo de caráter (1Ped. 2:21). Em comunhão com Cristo, eles podem e de fato,
alcançarão vitória sobre cada pecado e atingirão nesta vida o padrão da
perfeição do caráter cristão. Se as virtudes da fé estão faltando em um
cristão, Pedro diz, então o crente está ainda cego e míope, tendo perdido a
visão da "purificação dos seus pecados de outrora" no batismo (v. 9);
sim, até esquecido o propósito do chamado e eleição celestiais. "Por isso,
irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e
eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois
desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." (2Ped. 1:10-11).
Contemplando estas palavras, Ellen G. White confiantemente, exclama:
"Preciosa segurança! Gloriosa é a esperança oferecida ao crente,
quando ele avança pela fé em direção às
alturas da perfeição cristã!" (Atos dos Apóstolos, p. 33).
Cada cristão é colocado sob o santo privilégio e obrigação da graça de
Deus de lutar por santidade, participar da natureza divina e revelar na
concreta realidade de sua vida social um constante crescimento na graça e
conhecimento de Cristo. Este amadurecimento do caráter cristão na semelhança de
Deus é perfeição cristã em ação. Assim, o cristão pode participar na alegria e
beleza da santidade, preparando-se a si mesmo para "novos céus e uma nova
terra, nos quais habita justiça" (2Ped. 3:13). "A Ele seja a glória,
tanto agora como no dia eterno." (v. 18).
Acesso Teológico
Naldo JB
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