Em sua visita a Cuba e aos
Estados Unidos, papa investe na aproximação com diversos grupos religiosos.
“Eu cá, não perco ocasião de
religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio… Uma só para mim é pouca,
talvez não me chegue… Tudo me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me
refresca”. A fala de um dos personagens de Guimarães Rosa, no livro Grande
Sertão: Veredas, levou-me a refletir sobre uma questão relacionada ao
acontecimento que agitou os últimos dias: a visita do papa Francisco a Cuba e
aos Estados Unidos e sua postura em relação ao sincretismo e pluralismo
religioso.
O pontificado de Francisco
tem chamado a atenção pela constante aproximação de diversas denominações
religiosas, bem como pelo engajamento com a política e a comunidade científica.
Sua popularidade cresce à medida em que aumenta a apreensão mundial em face de
problemas de diversas ordens: abalos na economia, crises políticas, mudança
climática, etc. Quem tem acompanhado a trajetória de Jorge Mario Bergoglio na
liderança do Vaticano seguramente atentou para seus constantes apelos por
unidade entre os povos.
Segundo artigo do jornalista
João Fellet para a BBC Brasil, cinco pontos se destacam na visita do pontífice
argentino a Cuba: (1) reaproximação desse país com os Estados Unidos; (2) as
condições das prisões cubanas e o alto índice da população carcerária; (3)
abertura econômica; (4) abertura política e (5) o sincretismo religioso. Este
quinto item chamou minha atenção. João Fellet destaca o ponto de vista de
Austen Ivereigh, um biógrafo de Francisco, segundo o qual o papa atual tem a
visão de que é preciso procurar Deus na fé das pessoas, ainda que ela não seja
propriamente a católica.
Essa postura ecumênica me
trouxe à memória diversos fatos recentes relacionados ao papa Francisco, tais
como sua visita histórica à igreja valdense, em Turim (Itália), e os constantes
contatos com os evangélicos, fato que levou o portal Gospel Prime à
surpreendente declaração: “Perto do aniversário de 500 anos de Reforma
Protestante (em 2017), que dividiu os dois grupos, parece que evangélicos e
católicos estão experimentando uma aproximação sem precedentes”.
Não menos notável é a
crescente interação entre o Vaticano e o maior império da atualidade. Conforme
noticiou o portal Rádio Vaticano, a chegada do pontífice ao solo americano foi
marcada por forte emoção. No entanto, o que mais chamou minha atenção é o
“ambiente familiar” na recepção. O presidente Obama estava acompanhado da
esposa, as duas filhas e a sogra. Para usar as palavras do próprio portal,
“como fato bastante incomum, também o vice-presidente Joe Biden e família
[ênfase acrescentada] presenciaram a chegada do Papa. Por razões de segurança,
é raro que as duas máximas autoridades do país compareçam simultaneamente em um
evento público”. A importância desse evento é bastante clara: pela primeira vez
na história, um chefe do Vaticano discursa no Congresso Americano.
A ênfase na família é algo
bastante visível no pontificado de Francisco, bem como a sugestão de que o
domingo se torne um dia internacional de descanso. Com o aumento da crise
econômica e o crescimento do índice de desemprego em várias partes do mundo, naturalmente
se sentirá a necessidade de mais trabalho e um dia comum de repouso. As coisas
estão convergindo para o domingo como esse dia.
Associado a tudo isto está o
diálogo com a comunidade científica. Conforme manchete de uma notícia recente
do portal telegraph.co.uk, “cientistas se voltam para o papa Francisco e
religiões do mundo a fim de salvar o planeta”. Se existe algo com que posso
concordar nessa declaração é que o mundo realmente precisa ser salvo, porém não
pelo tipo de salvação proposto pela ciência, ou a política, ou a economia, ou
qualquer outro campo de conhecimento humano. “Não há salvação em nenhum outro;
porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo
qual importa que sejamos salvos” (At 4:12). De fato, Deus salvará não este
planeta, mas as pessoas que nele habitam. Aquelas que, à semelhança de tantos
heróis do passado, serão leiais a Deus e perseverantes até o fim (Mt 10:22).
O mais curioso em tudo isto
é perceber que, há mais de cem anos, Deus revelou que as coisas caminhariam na
direção em que estão caminhando na atualidade. Na edição de maio de 1851 da
Review and Herald, o jovem John N. Andrews, com base em Apocalipse 13:11-18,
afirmou que os Estados Unidos da América, com apenas 75 anos de independência,
se tornariam uma superpotência mundial (ver o livro Profecias Surpreendentes,
de Herbert Douglass). A escritora Ellen G. White “ampliou de maneira enfática
essa moldura bíblica com detalhes que nenhum ser humano poderia ter imaginado
em seus dias” (ibid). Ela afirmou: “Quando o protestantismo estender os braços
através do abismo, a fim de dar uma das mãos ao poder romano e a outra ao
espiritismo, quando por influência dessa tríplice aliança a América do Norte
for induzida a repudiar todos os princípios de sua Constituição, que fizeram
dela um governo protestante e republicano, e adotar medidas para a propagação
dos erros e falsidades do papado, podemos saber que é chegado o tempo das
operações maravilhosas de Satanás e que o fim está próximo” (Testemunhos Seletos,
v. 2, p. 151).
Não sabemos quando se
cumprirá cada detalhe da profecia, mas podemos estar seguros de que o mundo
caminha velozmente para sua derrocada final. [Créditos da imagem: Flickr]
Por ADENILTON TAVARES, mestre
em Ciências da Religião e professor de grego e Novo Testamento na Faculdade de
Teologia da Bahia
Fonte: Revista Adventista
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