Criar pequenos grupos
independentes não é uma estratégia de Deus
“Não sei mais o que fazer
para ajudá-los”. Esse foi o clamor de um pastor ao falar sobre jovens que
haviam formado um grupo de oração. Eles começaram com boas intenções, mas
perderam o equilíbrio, tornando-se místicos e críticos, achando-se superiores
ao restante da igreja. “Tentei aconselhá-los, mas fui ridicularizado, tratado
como liberal e chamado de representante de Laodiceia”, o pastor concluiu.
Em geral, esses grupos
surgem com boas intenções, mas infelizmente perdem o rumo, adotando
interpretações independentes ou sendo dirigidos por líderes que misturam
carisma e falta de equilíbrio. Por fim, afastam-se do corpo da igreja. Quando
isso acontece, o que poderia ser uma bênção acaba gerando divisão, discórdia e
fanatismo. Deus não trabalha dessa maneira.
O inimigo sabe que, nestes
últimos dias, precisamos de uma igreja forte, sólida e integrada para cumprir a
missão e preparar um povo para o encontro com o Senhor. Quanto mais nos
dividimos, mais nos distraímos e enfraquecemos. Estamos atuando para fortalecer
nossa teologia, buscar um reavivamento espiritual e manter a unidade de uma
igreja tão diversa. É mais fácil identificar as falhas nesse processo e
criticá-lo do que liderá-lo. A dissidência ou independência consome as energias
da igreja, tira seu foco da missão e acaba nos distanciando da grande esperança
que deveríamos anunciar. Quando isso acontece, tenho três fortes sentimentos:
respeito, tristeza e esperança.
Respeito os envolvidos com
esses grupos, pois não há outra atitude cristã para tratar com divergências.
Minha visão é redentiva, sempre esperando que voltem ao caminho original, como
tem acontecido com outros grupos semelhantes. O respeito também me ajuda a
lembrar que descer ao mesmo nível do erro para tentar corrigi-lo é repeti-lo.
Vejo com tristeza a maneira
como essas pessoas perdem a capacidade de enxergar a realidade e ouvir
conselhos. Alguns estão sempre envolvidos em grupos extremistas. Porém, há
gente sincera sendo manipulada por líderes carismáticos, criticos e
independentes. Minha tristeza aumenta ao ver que muitos desses grupos ficam
apenas girando ao redor da igreja, sem nenhum compromisso com a missão e
esgotando as forças de seus líderes e pastores.
A maioria tem visão
estreita, falando de um tema só. Ou insistem apenas na aparência pessoal, ou
música, ou alimentação, ou eventos finais, ou Trindade, ou perfeccionismo, ou
dinheiro (e a lista poderia ser longa). Não entendem que a vida cristã é ampla
e resultado da integração de muitos temas, fundamentados na graça de Deus.
“Os grupos dissidentes
consomem as energias da igreja e tiram seu foco da missão”
Também sinto tristeza ao ver
como atacam os demais para defender o que creem. Essa atitude revela suas
verdadeiras intenções e mostra que não têm amor nem o espírito de Cristo. Não
podemos nos esquecer de que “os que não aprendem a viver em harmonia neste
mundo nunca estarão unidos no Céu” (Ellen G. White, Exaltai-o!, p. 357).
Tal cenário difícil, porém,
me traz esperança, pois fortalece a percepção de que o momento difícil causado
por esses grupos não vai fragilizar ou dividir a “menina dos olhos de Deus”.
Grupos assim, na verdade, não se levantam contra a igreja e seus líderes, nem
apenas seduzem pessoas inocentes, mas agem contra o próprio Deus ao criar
confusão e discórdia, destruir a unidade, enfraquecer a missão e distrair
líderes e pastores de seu foco principal. Mas não precisamos temer, pois “as
provações da vida são obreiras de Deus, para remover de nosso caráter impurezas
e arestas” (Ellen G. White, Beneficência Social, p. 20).
Nossos olhos não estão
concentrados nos problemas, e sim nas oportunidades que Deus nos dá. Não é
sábio gastar energias, tempo ou recursos para combater esses grupos. Isso só
produz distração. Nosso foco precisa estar na missão e em levar a igreja de
volta à Palavra. Em meio a tudo isso, precisamos ter em mente estas palavras de
Ellen White em Atos dos Apóstolos (p. 12): “Fraca e defeituosa como possa
parecer, a igreja é o único objeto sobre que Deus concede em sentido especial
sua suprema atenção. É o cenário de sua graça, na qual se deleita em revelar
seu poder de transformar corações.” [Créditos da imagem: Lightstock]
Por: ERTON KÖHLER, presidente da
Igreja Adventista para a América do Sul
Fonte: Revista Adventista
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