Há
pelo menos duas décadas eu ouço a palavra ‘fariseu’ ser utilizada em tom
pejorativo. Na igreja em que cresci, ela costumava ser utilizada por jovens
para criticar os membros mais conservadores da igreja. Aos 19 anos, percebi que
não se tratava de um “adjetivo” para o conservadorismo, mas para qualquer
pessoa que defendesse as Reformas espirituais, pastores ou leigos, ou que
pregasse sobre determinada coisa ser certa ou errada (independente de como
pregasse).
Desde
que comecei a estudar sobre Reavivamento e Reforma, sempre tive comigo o receio
de ser “fariseu”. Isto porque a mensagem de reforma com que tive contato
durante a infância e adolescência era a mensagem de saúde, e ela era passada de
uma forma nada atrativa. Ao contrário, eu sentia repulsa por esta mensagem e
cheguei a afirmar que nunca me tornaria vegetariana. Agora que eu estava
estudando e iniciando minha caminhada nas reformas espirituais, o fantasma dos
“fariseus” do passado me assombravam.
Mais
alguns anos se passaram, e eu finalmente entendi qual era o problema dos
fariseus. Ser fariseu, em si, não era problema. O grande problema deles foi
apontado por Jesus em Mateus 23:2 e 3:
“Dizendo:
Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas,
pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais
em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem;”
Jesus
afirma que as coisas que os fariseus diziam deviam ser feitas – “observai-as e
fazei-as”. O problema não estava então no que eles diziam que se devia ou não
devia fazer. O problema, aparentemente, não eram as regras que eles defendiam.
O mal dos fariseus era sua própria vida – “não procedais em conformidade com as
suas obras, porque dizem e não fazem”. Eles pregavam aquilo que não viviam. Por
isso, em outra ocasião eles foram chamados por Cristo de hipócritas (Mateus
15:7) – “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus
lábios, mas o seu coração está longe de mim.” Mateus 15:8
Ainda
no capítulo 23, se continuarmos lendo, veremos que eles gostavam de aplausos,
de ser bem vistos, de aparentar serem do bem, viverem em retidão, quando na
verdade, no íntimo de sua vida aquilo não era real assim. Eles tinham muito
discurso, muita pose, mas pouca fidelidade de fato.
Eles
também pareciam não compreender o espírito da lei. Cumpriam as formalidades que
a lei (moral e cerimonial) exigia, mas não cumpriam a lei de fato, porque a lei
não se encerra em suas formalidades. “Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o
mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer
estas coisas, e não omitir aquelas.” Mateus 23:23. Jesus foi claro em dizer
“deveis, porém, fazer estas coisas” (o que é próprio do espírito da lei) “e não
omitir aquelas” (as formalidades, os detalhes da lei)
Um
problema atual
Infelizmente,
o mal dos fariseus continua existindo, e todos corremos o risco de sofrer desse
mal. Isso porque pregar é mais fácil que viver. Querer que os outros mudem é
mais fácil do que mudarmos a nós mesmos. É mais fácil aconselhar do que seguir
conselhos.
Recentemente
várias pessoas se manifestaram nas redes sociais contra a morte de milhares de
cachorros que seriam comidos num festival chinês. Algo que me chamou a atenção
na ocasião foi que muitos dos que se indignaram contra o costume chinês (e que
pude ler as manifestações de indignação através do meu facebook) são
carnívoros. Apenas uma pessoa indignada, dos meus contatos, não come carne, mas
usa outros produtos de origem animal que são extraídos a custa de sofrimento
animal também. Tenho alguns amigos veganos, e não me recordo de ter visto
qualquer manifestação de indignação da parte deles. Aquelas pessoas, movidas
por paixão, se queixaram dos chineses, enquanto elas mesmas são cúmplices da
morte de milhares de perus na época do Natal, e de centenas de outros animais
ao longo do ano (li uma crítica nesta direção, em um site de notícias, e achei
bem coerente). Talvez não perceberam que, à semelhança dos fariseus, estavam
criticando algo que elas mesmas fazem. É mais fácil querer mudar a China do que
mudarmos a nós mesmos!
É
mais fácil, também, querer que meu irmão me ame e me aceite, do que amá-lo e
aceitá-lo. Uma moça estava se queixando com alguns amigos que o povo da igreja
não ama quem é diferente, que sendo adventista, só porque ela usava jóias, isso
e aquilo outro, as pessoas a “julgavam”. Depois de alguns minutos ouvindo este
discurso, um de seus amigos a questionou se era apenas os que usavam jóias,
isso e aquilo que deveriam ser aceitos e amados. Questionou se ela amava e
aceitava as irmãs que não usam calça comprida, que só usam saia abaixo do
joelho, que seguem uma dieta vegetariana estrita, etc… Houve silêncio, e o
assunto mudou.
Isto
se repete na igreja em diversas áreas. A pessoa prega sobre modéstia, mas ela
mesma não segue os princípios de modéstia cristã. Prega sobre reforma de saúde,
mas ela mesma mantém seus pecados acariciados em relação ao apetite. Prega
sobre fidelidade nos dízimos e nas ofertas, mas é mesquinha em doar para a
igreja parte dos recursos que O Senhor lhe deu no fim do mês. Prega sobre amor
ao próximo, mas não é tolerante com quem pensa diferente, ou guarda rancor
contra o irmão. E para cada detalhe da vida cristã, teremos exemplos do “faça o
que eu digo mas não faça o que eu faço”. E não me refiro aqui a quem prega algo
e eventualmente cai. Este não era o problema dos fariseus – uma queda eventual,
para a qual João escreveu a solução (I João 2:1). Refiro-me ao não praticar,
como hábito voluntário, aquilo que está pregando.
Uma
solução antiga
Foi
a um fariseu que Cristo disse: “Necessário vos é nascer de novo.” João 3:7.
Essas são palavras profundas. São estas as palavras que o Senhor tem para cada
ser humano que sofre deste mal, para cada um de nós.
Nascer
de novo não é dar uma melhoradinha em quem eu era antes. Nascer de novo é
sinônimo de mudança total.
“A
vida cristã não é uma modificação ou melhoramento da antiga, mas uma
transformação da natureza. Tem lugar a morte do eu e do pecado, e uma vida toda
nova. Essa mudança só se pode efetuar mediante a eficaz operação do Espírito
Santo.” Mensagens aos Jovens, pág. 157.
Só
podemos nascer de novo pela operação do Espírito Santo. Esta não é uma obra que
podemos fazer por nós mesmos. É uma obra que devemos aceitar que o Espírito
faça em nós.
Saul
era um rei que, à semelhança dos fariseus, se detinha nas formalidades
(especialmente para justificar seus pecados). A ele Samuel disse que “obedecer
é melhor do que sacrificar” (I Samuel 15:22). Lendo a história de Saul em
Patriarcas e Profetas, me deparei com o seguinte texto: “Mas saul estava tão
satisfeito consigo mesmo e com sua obra, que saiu ao encontro do profeta como
alguém que devesse ser elogiado em vez de reprovado.” (pág. 618). Ele havia
cometido um pecado voluntário atrás do outro, movido por orgulho, e ainda
desejava ser elogiado em vez de reprovado. Quão dispostos estamos a aceitar a
reprovação de nossos atos? O Espírito de Deus nos mostra onde erramos, seja
através da Bíblia, dos Testemunhos, de outras pessoas, ou falando diretamente à
nossa mente. Mas precisamos estar dispostos a reconhecer que estamos errados
para que Ele possa efetuar a obra de transformação.
O
rei que substituiu Saul foi chamado “homem segundo o coração de Deus”. Sobre
ele, o Espírito de Profecia declara:
“Então
Ele chamou ao trono “um homem segundo o Seu coração” (I Sam. 13:14); não um que
fosse irrepreensível em seu caráter, mas que, em vez de confiar em si,
confiaria em Deus, e seria guiado por Seu Espírito; que, ao pecar,
sujeitar-se-ia à reprovação e correção.” (Patriarcas e Profetas, pág. 636)
Como
disse anteriormente, todos estamos sujeitos a sofrer do mal dos fariseus.
Contudo, isto não é o fim! Jesus tem a solução! O Espírito Santo está ansioso
por transformar-nos em nova criatura. Que possamos nos sujeitar à reprovação e
correção, a fim de experimentarmos plenamente o poder transformador da graça de
nosso Senhor Jesus Cristo.
Fonte: Mulher Adventistas
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