C. Os Inspiradores Oráculos dos Profetas
Onde quer que os sacerdotes levíticos começaram a confiar nas cerimônias
dos santos rituais propriamente ditos, não vendo a mensagem divina nelas, e
perdendo o incentivo e motivação para a verdadeira obediência moral ao
concerto, então o serviço do santuário de Israel se tornava distorcido e
objetável a Deus, e Ele reagia enviando Seus profetas com mensagens especiais
para os sacerdotes e seu ritualismo objetável. Os livros proféticos do Antigo
Testamento repetidamente testificam da pecaminosa negligência de Israel de
andar humildemente com Deus e perfeitamente com os seus companheiros de
concerto.
No século oitavo AC, o profeta Miquéias, um contemporâneo de Isaías,
dirigiu-se à Jerusalém com algumas questões específicas em nome de Yahweh:
"Povo meu, que te tenho feito? E com que te enfadei? Responde-me! Pois te
fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de
ti Moisés, Arão e Miriã. Povo meu, lembra-te, agora, do que maquinou Balaque,
rei de Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu
desde Sitim até Gilgal, para que conheças os atos de justiça do SENHOR."
(Miq. 6:3-5).
Miquéias desafiou o cerimonialismo morto e o materialismo pecaminoso de
Jerusalém, anunciando o julgamento de destruição total da cidade santa e seu
Templo (3:9-12). Contudo, esta mensagem de julgamento implicava no apelo divino
para o arrependimento e retorno Deus de todo coração e alma. O profeta
relembrou à escolhida nação de sua grande redenção do Êxodo. Relembrou os atos
justos e salvadores de Yahweh! Isto poderia desmascarar todos os atos rituais
como um esforço para expiar seus pecados como uma tentativa fútil. Até mesmo o
sacrifício de um primogênito não poderia tirar o pecado! "Com que me
apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele
com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros,
de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão,
o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o
que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a
misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus." (Miq. 6:6-8).
Com este apelo desafiador os profetas proclamaram suas mensagens de
julgamento a uma nação complacente, se era Amós e Oséias no reino do norte, ou
Isaías, Miquéias, Jeremias, Ezequiel, no reino do sul. Em dramáticas e
emocionantes exibições eles revelaram à nação escolhida a rejeição divina de um
culto religiosos formal que tolerava e desculpava o pecado. Onde o serviço
sacrifical falhava em purificar à nação de injustiça social, auto-glorificação
e justiça pelas obras, os profetas por ordem de Deus eram chamados para
sustentar o padrão da perfeição e santidade sacerdotais.
Isaías, com seu poder e brilho poético, reitera os pré-requisitos morais
originalmente sustentados pelos sacerdotes: "Os pecadores em Sião se
assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós
habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas? O
que anda em justiça e fala o que é reto; o que despreza o ganho de opressão; o
que, com um gesto de mãos, recusa aceitar suborno; o que tapa os ouvidos, para
não ouvir falar de homicídios, e fecha os olhos, para não ver o mal, este
habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu
pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os teus olhos verão o rei na sua
formosura, verão a terra que se estende até longe." (Isa. 33:14-17).
O Yahweh de Israel é um Deus santo, assim como também Ele é um Deus
misericordioso e gracioso. Ele não pode e não tolerará pecado na nação
escolhida por Sua graça. A ira de Deus foi derramada sobre uma Judá não
arrependida através do exílio babilônico, que veio em três estágios
intensificados (605, 597, 586 AC).
Após o segundo estágio (597 AC), 10.000 "todos os príncipes, homens
valentes" foram levados cativos (2Reis 24:14), entre os quais estava o
sacerdote Ezequiel. Os exilados judeus começaram a usar um provérbio que
acusava seus pais de pecados pelo que eles tinham de levar a penalidade:
"Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?"
(Eze. 18:2). Contra esta tendência de pensamento entre os cativos de Babilônia,
que prevenia qualquer aceitação de culpa pessoal e portanto de verdadeiro
arrependimento, Ezequiel teve que falar: "A alma que pecar, essa
morrerá" (18:4).
Por outro lado, se uma alma andasse com Deus de acordo com o santo
concerto, ele poderia seguramente viver. O concerto de Deus o consideraria
perfeito ou "justo". Ezequiel assim coloca diante do povo do concerto
no exílio os antigos requerimentos do Torah de Moisés, como ordenados
originalmente pelo ministério sacerdotal (Sal.15; 24): "Sendo, pois, o
homem justo e fazendo juízo e justiça, não comendo carne sacrificada nos altos,
nem levantando os olhos para os ídolos da casa de Israel, nem contaminando a mulher
do seu próximo, nem se chegando à mulher na sua menstruação; não oprimindo a
ninguém, tornando ao devedor a coisa penhorada, não roubando, dando o seu pão
ao faminto e cobrindo ao nu com vestes; não dando o seu dinheiro à usura, não
recebendo juros, desviando a sua mão da injustiça e fazendo verdadeiro juízo
entre homem e homem; andando nos meus estatutos, guardando os meus juízos e
procedendo retamente, o tal justo, certamente, viverá, diz o SENHOR
Deus." (Eze. 18:5-9).
Após uma detalhada aplicação desta ética do concerto a um pai e seu
filho a fim de inculcar uma responsabilidade a Deus, a instrução terminava num
clímax com um emocionante apelo a Israel para arrepender-se, à luz do quadro
purificado do santo e redentivo amor de Deus. "Portanto, eu vos julgarei,
a cada um segundo os seus caminhos, ó casa de Israel, diz o SENHOR Deus.
Convertei-vos e desviai-vos de todas as vossas transgressões; e a iniqüidade
não vos servirá de tropeço. Lançai de vós todas as vossas transgressões
com que transgredistes e criai em vós coração novo e espírito novo; pois, por
que morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tenho prazer na morte de ninguém,
diz o SENHOR Deus. Portanto, convertei-vos e vivei. (Eze. 18:30-32).
Após os 70 anos de exílio em Babilônia, um novo começo foi feito quando
Deus entrou em um novo concerto com o remanescente fiel após à crise. Os
profetas como Ageu e Zacarias reavivaram as almas dos cativos que retornaram,
comunicando mensagens de esperança, coragem e um glorioso futuro: "A
glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos
Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos." (Ageu
2:9). "Assim diz o SENHOR: Voltarei para Sião e habitarei no meio de
Jerusalém; Jerusalém chamar-se-á a cidade fiel, e o monte do SENHOR dos
Exércitos, monte santo." (Zac. 8:3) "E há de acontecer, ó casa de
Judá, ó casa de Israel, que, assim como fostes maldição entre as nações, assim
vos salvarei, e sereis bênção; não temais, e sejam fortes as vossas mãos."
(Zac. 8:13).
Mas o novo concerto requeria uma nova obediência: "A palavra do
SENHOR veio a Zacarias, dizendo: Assim falara o SENHOR dos Exércitos: Executai
juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão; não
oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada
um, em seu coração, o mal contra o seu próximo." (Zac. 7:8-10).
Deus ainda era o mesmo santo e gracioso Deus, odiando o pecado, enquanto
amava o pecador. O novo serviço do santuário no templo reconstruído novamente
oferecia graça perdoadora, requerendo uma vida perfeita em verdadeira
obediência do coração, exatamente como antes do exílio (Jer. 31:31-33; Eze.
36:26-27).
Em uma significativa visão, Zacarias viu o sumo-sacerdote Josué em pé
diante do "Anjo de Yahweh" e sendo acusado por Satanás. Josué
representava os cativos de Israel que haviam retornado, "um tição tirado
do fogo" (Zac. 3:2). Josué estava "trajado com vestes sujas", a
iniqüidade confessada de Israel. Sob a ordem de Deus, as vestes sujas são
removidas e trocadas por limpos e perfeitos trajes. Esta ação retrata
vividamente a graça perdoadora de Deus. O pecado é removido, uma nova justiça
ou perfeição é imputada e entregue a um novo Israel.
Contudo, perdão pressupõe culpa e condenação reais. Não obstante, o perdão
significa não meramente a remoção negativa da culpa, mas positivamente – e tão
justo como real – a imputação e comunicação da justiça ou perfeição. O aspecto
da santificação, a nova obediência, é enfatizado como um pré-requisito
específico para a final e eterna bênção.
"O Anjo do SENHOR estava ali, protestou a Josué e disse: Assim diz
o SENHOR dos Exércitos: Se andares nos meus caminhos e observares os meus
preceitos, também tu julgarás a minha casa e guardarás os meus átrios, e te
darei livre acesso entre estes que aqui se encontram." (Zac. 3:5-7).
Zacarias tinha tornado inequivocamente claro que a graça divina obriga a
uma perfeita obediência, a obediência da fé que brota de um coração recriado e
voluntário. Ellen G. White fez uma aplicação particular da visão de Zacarias à
tentada e provada igreja remanescente. Dela, Cristo declara: "Eles podem
ter imperfeições de caráter; podem ter falhado em seus esforços; mas se
arrependeram, e Eu os perdoei e aceitei." (Profetas e Reis, 589).
Quão lamentável é ler no último livro do Antigo Testamento que Israel
após o exílio falhou novamente em manifestar a comunhão transformadora do
concerto com Deus e a obediência da fé. Como causa principal de sua vida
ética-social degenerada, Malaquias apontou a um ministério sacerdotal falido. A
adoração no Templo de novo deteriorou-se a um ritualismo morto, sem o temor do
Senhor – que é a tremente reverência em humilde obediência. Deus dirigiu-Se a
Israel com algumas questões pertinentes ao sacerdócio em Jerusalém: "O filho
honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou Pai, onde está a minha honra?
E, se eu sou Senhor, onde está o respeito para comigo? — diz o SENHOR dos
Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em
que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda
perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do SENHOR é
desprezível." (Mal. 1:6-7).
Falta do temor de Deus foi manifestado inevitavelmente em deslealdade
social, em profanação do santuário, e em infidelidade da aliança matrimonial.
(Mal. 2:14,16). A quebrada comunhão do concerto com Yahweh, contudo, seria
restaurada uma vez mais através da específica graça de Deus. Deus mesmo tomaria
a iniciativa de trazer Seu povo de volta a um novo e perfeito relacionamento de
concerto com Ele. Por causa que os sacerdotes levíticos tinham se
"desviado do caminho... e, por [sua] instrução" tinham "feito
tropeçar a muitos", e violaram "a aliança de Levi" (Mal. 2:8), Deus
enviaria um mensageiro especial ao Seu Templo. Ele refinaria e purificaria
Israel até que eles trouxessem "ofertas justas ao Senhor".
"Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR, como nos
dias antigos e como nos primeiros anos." (Mal. 3:1-4).
Este mensageiro especial viria como o profeta Elias, a fim de
conduzir a nação escolhida a uma última decisão a favor ou contra Deus,
preparando Israel para "o grande e terrível dia do Senhor", o Dia de
Julgamento de Deus (Mal. 4:5-6): "Chegar-me-ei a vós outros para juízo;
serei testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra
os que juram falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e
oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz
o SENHOR dos Exércitos." "Então, vereis outra vez a diferença entre o
justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve." (Mal.
3:5,18).
Assim terminou o Antigo Testamento, ou antes permaneceu aberto ao
futuro, com a promessa de um novo reavivamento e reforma. Finalmente, a linha
de demarcação entre o justo e o ímpio, entre os perfeitos e os impenitentes
malfeitores, se tornaria clara em sua reação à mensagem de advertência final de
Deus.
Acesso Teológico
Naldo JB
0 comentários:
Postar um comentário