Esse importante dom mencionado na Bíblia tem sido
incompreendido pelos sinceros irmãos da atualidade. Há mesmo quem afirme que
quem não fala em “línguas estranhas” não é batizado com o Espírito Santo
(Contrariando totalmente o que está escrito em Efésios 1:13 que afirma sermos
selados pelo Espírito a partir do momento em que cremos em Jesus e não no
momento em que “falamos línguas estranhas”), ou seja, é uma espécie de “cristão
de segunda classe”. Asseguram inclusive que a única prova de ser batizado com o
Espírito Santo é falar “língua estranha”.
DEFINIÇÃO E PROPÓSITO:
Segundo a Bíblia, o dom de línguas é a capacidade de falar
outra língua conhecida, em outro idioma (esse é o significado do termo grego
para “língua”) com o objetivo de anunciar a boa notícia e salvação por meio de
Cristo.
Mateus 28:19, 20 diz que devemos “ensinar as pessoas a
guardarem todas as coisas…” Observe que, para ensinar, é indispensável conhecer
a língua falada do estrangeiro. “A manifestação do Espírito é concedida a cada
um visando a um fim proveitoso.” 1 Coríntios 12:7. Concluímos, obviamente, que
o falar em língua deve ter uma utilidade; deve ser, ao menos, inteligível.
Lembrando: que tenha um propósito evangelístico.
Esta experiência autêntica aconteceu com os discípulos por
ocasião do Pentecostes (A palavra pentecostes é grega e quer dizer
“qüinquagésimo (dia)”, pois essa festa era comemorada cinqüenta dias depois da
PÁSCOA (Dicionário da Bíblia de Almeida – Sociedade Bíblica do Brasil).):
“Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos
no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e
encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre
eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram
cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o
Espírito lhes concedia que falassem. Ora, estavam habitando em Jerusalém
judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. Quando,
pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de
perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam,
pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus
todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa
própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da
Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito
e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem,
tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em
nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” Atos 2:1-11.
O relato mostra que o dom de línguas foi dado para
evangelizar. O verso 6 declara que “cada um ouvia falar na sua própria língua”
o que cada seguidor de Cristo dizia e o verso 8 confirma: “e como os ouvimos
falar cada um em nossa própria língua materna?” Pela terceira vez exclamaram os
estrangeiros: “como os ouvimos falar em nossa própria língua as grandezas de
Deus ?” (verso 11).
Havia, naquele lugar, cerca de 18 nações diferentes. Os
apóstolos não tinham tempo e nem uma escola para aprender todos aqueles
idiomas. Você percebeu? Houve uma “NECESSIDADE” de pregar o evangelho em um
lugar onde havia muita gente (Deus não poderia perder aquela oportunidade!);
por isso, o Senhor deu-lhes o dom de línguas estrangeiras. Note que os
discípulos não falaram palavras ou sílabas sem sentido. Eram compreendidos em
outros idiomas.
Há dois aspectos importantes a analisarmos o dom de línguas
em Atos 2:
a) A mensagem de Pedro centralizava-se em Jesus (Atos
2:22-36);
b) O dom de línguas não foi acompanhado por um êxtase
sentimental descontrolado. Observe que a mensagem foi compreendida de forma a
haver resultados: 3.000 pessoas foram batizadas! (Atos 2:41);
c) Paulo também afirma que as palavras usadas no dom são
idiomas que precisam ser entendidos pelos ouvintes para que se convertam a
Cristo. Não adianta nada falar num idioma que a pessoa não conheça: “Agora,
porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos
aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de
profecia, ou de doutrina? É assim que instrumentos inanimados, como a flauta ou
a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se
reconhecerá o que se toca na flauta ou cítara? Pois também se a trombeta der
som incerto, quem se preparará para a batalha? Assim, vós, se, com a língua,
não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque
estareis como se falásseis ao ar.” 1 Coríntios 14:6-9.
“Assim vós, se com a língua não disserdes palavras
compreensíveis, como se entenderá o que dizeis? Porque estaríeis como se
falásseis ao ar” (ler também 1 Coríntios 14: 18, 19, 23).
d) O dom de línguas é um sinal para os descrentes a fim de
que ouçam as maravilhas de Deus no idioma deles. Não é um sinal para os
crentes, conforme 1 Coríntios 14:22: “De sorte que as línguas constituem um
sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os
incrédulos, e sim para os que creem.”
Portanto, tal dom não deve ser usado para orgulho pessoal. O
dom de línguas é concedido para evangelizar outras pessoas de outras nações que
não conhecem ao Salvador.
REGRAS A SEREM SEGUIDAS NO USO DO DOM DE LÍNGUAS:
1) No máximo três pessoas devem falar, de forma sucessiva e
organizada, um de cada vez – 1 Coríntios 14:27;
2) Deve haver tradutor (intérprete) – 1 Coríntios 14:28;
3) Precisa ser entendido por todos – Atos 2:9-12;
4) Cumprir o papel de edificar a igreja edifica a Igreja
estando subordinado ao dom de profecia (1 Coríntios 14:1, 5, 26).
5) Ser enriquecido pelo amor aos irmãos – 1 Coríntios 13:1 e
9.
Muitos cristãos de hoje ferem essas cinco regras
frontalmente. Em muitas congregações, por exemplo, há certo número de pessoas e
todos querem falar ao mesmo tempo. Não pode haver intérpretes porque os que
falam não sabem o que estão falando.
Observação: Por que utilizar o dom de línguas no Brasil se
todos falam o português?
OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES A SEREM AVALIADOS SOBRE O DOM
1. A gritaria não pode fazer parte da manifestação de
qualquer dom – Efésios 40:30, 31;
2. A pessoa tomada pelo Espírito Santo tem paz e domínio
próprio (Gálatas 5:22, 23), ou seja, não cai no chão.
3. O dom de línguas não provoca desordem na igreja. Em 1
Coríntios 14:33, 40 é dito que “Deus não é de confusão e sim de ordem e paz.” A
obra de Deus sempre se caracteriza pela calma e a dignidade. Havendo barulho,
choca os sentidos (ler Mateus 6:6; Gálatas 5:22, 23). Lembremos de que Deus não
é surdo.
4. O Espírito Santo somente é concedido aos que obedecem a
Deus (Atos 5:32). Será que os que se dizem possuidores do Espírito Santo guardam
todos os mandamentos de Deus? (ver Tiago 2:10). A pessoa que conhece a Palavra
e de livre vontade desobedece a Deus, não tem o Espírito Santo, mesmo que possa
parecer! “O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será
abominável.” Provérbios 28:9.
5. O fato de alguém falar em línguas não é prova de tenha
sido batizado(a) pelo Espírito Santo. A Bíblia apresenta diversas pessoas que
receberam o Espírito Santo e, contudo, não falaram em línguas, pois não era
necessário. São elas:
• Os samaritanos (Atos 8:17);
• Maria (Lucas 1:35);
• Estevão (Atos 6:5; 7:55);
• Saul, o primeiro rei de Israel (l Samuel 10:10);
• Gideão, juiz de Israel (Juízes 6:34);
• Sansão, outro juiz (Juízes 15:14);
• Zacarias, pai de João Batista (Lucas 1:67);
• Bezalel, em tempos remotos (Êxodo 31:1-3);
• João Batista e sua mãe (Lucas 1:15 e 41);
• Os sete diáconos (Atos 6:1-7);
• Jesus Cristo (Lucas 3:22).
Vemos que Jesus nunca falou em línguas. Claro que tinha! Ele
não usou esse dom porque não havia uma necessidade evangelística para tal.
Exigir que todos os irmãos falem em línguas é querer dirigir o Espírito. É ir
contra a soberania dEle, pois somente Deus Espírito Santo é quem distribui os
dons como Ele quer: “Porém é um só e o mesmo Espírito quem faz tudo isso. Ele
dá um dom diferente para cada pessoa, conforme ele quer.” 1 Coríntios 12:11.
6. O termo “língua dos anjos” só aparece em l Coríntios
13:1, quando Paulo afirma: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.”
O apóstolo está apenas destacando que, mais importante que falar a língua dos
homens e dos anjos, é ter amor. Não está afirmando que essa manifestação
estranha de língua angélica fizesse parte de nossa pregação (leia Gênesis 18 e
Apocalipse 22:8, 9, onde os próprios anjos falaram idiomas humanos para que
pudessem ser compreendidos! Leia também Gênesis 19:15; Lucas 2:8-14; 1:16-18).
7. Em Marcos 16:17 é dito: “Estes sinais hão de acompanhar
aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios: falarão novas línguas.” O
que significa “falar uma nova língua” na Bíblia? O texto original grego
responde. Há duas palavras gregas diferentes para descrever o termo “novas”
línguas: neós e kainós.
• Neós é algo novo que não existia antes.
• Kainós é algo novo que já existia.
A palavra empregada em Lucas 16:17 é kainós, indicando assim
que as “novas línguas” faladas pelos discípulos de Jesus seriam novas apenas
para eles que não as conheciam, mas elas já existiam!
ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1: A pessoa tinha um carro, ano 2007, e trocou
por um 2008. Para a pessoa que comprou, o carro é novo. Significa novo na
“experiência”, pois o carro já existia. Assim é o dom de línguas em Marcos
16:17. Para a pessoa que aprendeu a nova língua, é nova (Kainós), mas o idioma
já existia, era falado por um grupo de pessoas.
Ilustração 2: Certa vez, um pastor foi em um culto para
“testar” se realmente aqueles cristãos entendiam o que estavam dizendo. No
decorrer da programação ele recitou o Salmo 23 em grego. Um dos membros daquela
igreja levantou-se e foi “interpretar” o que o pastor disse. Afirmou que Deus
estava pedindo para que todos entregassem o coração a Jesus, sendo que o pastor
apenas falou o Salmo 23 em grego, e ainda por três vezes! Imagine que “balde de
água fria” foi para a congregação quando o pastor disse o significado
verdadeiro das palavras e que o suposto tradutor estava mentindo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A língua falada é um sistema de linguagem em que os seres
humanos, dotados de inteligência, se comunicam e se entendem perfeitamente. As
“línguas estranhas” faladas em muitos cultos de hoje nada têm em comum com as
mais de 3.000 línguas e dialetos existentes na Terra.
Por conseguinte, não possuem importância evangelística e nem
servem para identificar quem é cristão consagrado ou não (lembre-se Efésios
1:13).
A teoria de que o genuíno dom de línguas se manifesta hoje
na forma de línguas estáticas, não faladas atualmente por qualquer povo ou
nação, carece de fundamento bíblico.
As várias alusões, na Versão Almeida Revista e Corrigida, a
“línguas estranhas” (1 Coríntios 14) não aparecem no texto original grego (O
termo línguas estranhas foi acrescentado pelo tradutor para tentar “facilitar”
a compreensão do texto. Entretanto, dificultou mais ainda, dando apoio à idéia
de que o dom de línguas bíblico é algo ininteligível) onde a expressão usada é
simplesmente “línguas”.
Portanto, se estou falando a você em Francês (língua
estrangeira) e você não sabe nada de Francês, para você estou falando língua
estranha, pois não pode ser entendida. Mas isso não quer dizer que o Francês é
um idioma que não pode ser entendível por ninguém. Daí surge a necessidade do
intérprete.
Segundo nossos dicionários, interpretar é a “arte de
determinar o significado preciso de um texto ou lei”, “fazer entender”.
Traduzir é apenas converter cada palavra de seu estado estrangeiro (estranho)
ao corrente (entendível). Portanto, não existe tradução sem interpretação.
E, não esqueça: o dom de línguas em Atos 2 (Atos 10, 19, 1
Coríntios 12-14) tem sempre um propósito evangelístico.
Fonte: Está Escrito
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