Além de Sua atuação direta na história, Deus comissiona agentes humanos para a missão
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O humilde e infindável exercício de estudar Deus – teologia
– tem se concentrado em diferentes aspectos de Sua natureza e caráter. Ele tem
sido compreendido como um Deus que ama, que tem poder, que é eterno, que julga,
que salva, etc. Uma importante compreensão – às vezes negligenciada – é a de
que Deus envia.
Na interação de Deus com o mundo criado, Ele engaja-se na
história humana com uma missão – “a iniciativa histórica redentora de Deus em
favor da Sua criação”, segundo Timmothy Tennent (Invitation to World Mission,
p. 59). Além da Sua atuação direta, Deus frequentemente escolhe comissionar,
dar uma missão. Assim, Deus se torna um Deus que age na história por meio de
Suas ações sobrenaturais; e mais frequentemente mediante o envio de Seus
agentes, principalmente Seus filhos e filhas.
Agentes de Deus levam mensagens que podem ser de instrução –
através dos Seus anjos (como no caso de Cornélio) –, de advertência, reprovação
e juízo (a exemplo de Elias), ou ainda de boas novas, por meio de Seus
apóstolos (como Pedro). Assim era também o plano de Deus para o povo de Israel.
“O evangelho deveria ser transmitido primeiramente àqueles a quem Deus havia
confiado verdades preciosas que Ele desejava que fossem tornadas conhecidas por
outros. Ele confiou a eles a responsabilidade de partilhar o conhecimento sobre
Deus e sobre Jesus Cristo a quem Ele os enviou.” (Ellen G. White, The Southern
Work, p. 22).
Na Bíblia, essas ações divinas são geralmente identificadas
pelo uso do verbo enviar, tendo Deus como o sujeito. Os verbos salah, em
hebraico (que aparece mais de 200 vezes com Deus como o sujeito) e apostello,
em grego (mais de 130 vezes), comunicam essa ideia e enfatizam um relacionamento
autoritativo comissionador.
Essa linguagem do envio na Bíblia ajuda a entender melhor um
aspecto importante do caráter e das ações divinas, e também ajuda a definir e
conectar nossa missão com a de Deus.
Entre o envio de Adão e Eva para fora do jardim (Gn 3:23) e
o envio do anjo para “mostrar aos Seus servos as coisas que em breve hão de
acontecer” (Ap 22:6), há centenas de exemplos de um Deus que envia. Abraão é um
dos mais importantes. No contexto do tema universal da história humana (Gn 1-11),
Abrão recebe a ordem: “saia da tua terra” e “você será uma bênção”. Os
propósitos divinos universais contemplavam que através dele o mundo inteiro –
todos os lugares, tribos, povos e nações – seriam abençoados. Com a missão, ele
recebe a promessa que incluía posteridade, uma terra e uma bênção. O envio de
Abraão culmina em Gênesis 17:7 com a fórmula da aliança: “Eu serei o Seu Deus,
e eles serão o Meu povo”.
Além de Abraão, Deus Se revela como um Deus que envia de
forma paradigmática, como um modelo, no envio de Jesus Cristo, do Espírito
Santo e dos Seus discípulos.
A missão cristã está relacionada com a “atividade divina de
enviar intermediários, sejam humanos ou sobrenaturais, para falar ou fazer a
vontade de Deus, a fim de que os Seus propósitos de juízo e redenção se tornem
conhecidos” (Evangelical Dictionary of Biblical Theology). O conceito bíblico
de missão “baseia-se na autoridade daquele que envia; a obediência do enviado;
a tarefa a ser cumprida; o poder para cumprir a tarefa; e o propósito dentro da
moldura moral da obra da aliança de juízo e redenção” (William J. Larkin, Jr.).
A missão dos cristãos deve ser entendida a partir da
compreensão do próprio caráter de Deus. Ao contemplarmos a natureza da
divindade, percebemos um Deus que reflete Sua essência de amor na ação de
enviar Seus agentes, você e eu, para colaborar com Sua missão.
Marcelo Dias é doutorando em Missiologia pela Universidade
Andrews e professor da Faculdade de Teologia do Centro Universitário Adventista
de São Paulo
Fonte: Revista Adventista
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