Há uma questão extramusical
associada à música cristã contemporânea que merece reflexão. Me refiro à
demonstração de sinais exteriores de consagração nos momentos de louvor e
adoração. O desejo de fugir do culto estático e “morto” leva alguns a dizer que
precisamos de um culto mais “vivo”. A questão é que isso pode levar à ideia de
que quem não fecha os olhos, levanta as mãos e canta chorando por cinco minutos
não está consagrado.
Mas será que as pessoas que
não reagem com alto teor emocional perderam a comunhão com Deus? E mais: até
que ponto a forma musical da adoração contemporânea é capaz de produzir alegria
e interação nas igrejas?
É um equívoco considerar as
manifestações exteriores na adoração como critério para avaliar o grau de
santidade entre os irmãos. Robert Webber, professor e autor de vários livros
sobre adoração, avalia que “o lado performático da adoração contemporânea tende
a levar-nos para dentro do campo das obras e para fora do campo da graça”
(Adoração ou show?, 2006, p. 264).
Nesse sentido, alguns
adoradores podem inadvertidamente usar a música (de qualquer estilo) para
“convencer” a Deus de que são autênticos e bons. É claro que o louvor permeado
de gemidos e choros pode partir de um clamor pessoal sincero, mas também pode
expressar apenas uma tendência a teatralizar a contrição.
Afinal, se as nossas boas
obras não garantem a salvação, por que alguém deveria crer que exclusivamente o
seu tipo de música vai ser aceito por Deus? Não é a música mais tradicional ou,
por outro lado, a mais contemporânea que vai distinguir quem tem ou não
comunhão com Deus ou ainda quem vai ou não ser salvo.
O fato é que, embora não
tenhamos condições de determinar qual a música mais favorável para a devoção de
cada indivíduo, é possível ajudar a criar um ambiente favorável para o louvor
coletivo.
Nossa música de adoração
pode nos lembrar da magnificência de Deus e da alegria de sermos salvos. Mas
ela não é capaz de nos tornar mais merecedores da salvação. Aliás, dependendo
do contexto e de como é dirigida, ela é capaz até de nos distrair da salvação.
Felizmente, o justo viverá pela fé e não pela aparência de sua boa música.
[Créditos da imagem: Fotolia]
Joêzer Mendonça, doutor em
Música (UNESP), é professor da PUC-PR e autor do livro Música e Religião na Era
do Pop.
Fonte: Revista Adventista
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