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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Louvor de aparência

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Há uma questão extramusical associada à música cristã contemporânea que merece reflexão. Me refiro à demonstração de sinais exteriores de consagração nos momentos de louvor e adoração. O desejo de fugir do culto estático e “morto” leva alguns a dizer que precisamos de um culto mais “vivo”. A questão é que isso pode levar à ideia de que quem não fecha os olhos, levanta as mãos e canta chorando por cinco minutos não está consagrado.

Mas será que as pessoas que não reagem com alto teor emocional perderam a comunhão com Deus? E mais: até que ponto a forma musical da adoração contemporânea é capaz de produzir alegria e interação nas igrejas?

É um equívoco considerar as manifestações exteriores na adoração como critério para avaliar o grau de santidade entre os irmãos. Robert Webber, professor e autor de vários livros sobre adoração, avalia que “o lado performático da adoração contemporânea tende a levar-nos para dentro do campo das obras e para fora do campo da graça” (Adoração ou show?, 2006, p. 264).

Nesse sentido, alguns adoradores podem inadvertidamente usar a música (de qualquer estilo) para “convencer” a Deus de que são autênticos e bons. É claro que o louvor permeado de gemidos e choros pode partir de um clamor pessoal sincero, mas também pode expressar apenas uma tendência a teatralizar a contrição.

Afinal, se as nossas boas obras não garantem a salvação, por que alguém deveria crer que exclusivamente o seu tipo de música vai ser aceito por Deus? Não é a música mais tradicional ou, por outro lado, a mais contemporânea que vai distinguir quem tem ou não comunhão com Deus ou ainda quem vai ou não ser salvo.

O fato é que, embora não tenhamos condições de determinar qual a música mais favorável para a devoção de cada indivíduo, é possível ajudar a criar um ambiente favorável para o louvor coletivo.

Nossa música de adoração pode nos lembrar da magnificência de Deus e da alegria de sermos salvos. Mas ela não é capaz de nos tornar mais merecedores da salvação. Aliás, dependendo do contexto e de como é dirigida, ela é capaz até de nos distrair da salvação. Felizmente, o justo viverá pela fé e não pela aparência de sua boa música. [Créditos da imagem: Fotolia]


Joêzer Mendonça, doutor em Música (UNESP), é professor da PUC-PR e autor do livro Música e Religião na Era do Pop.

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