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sexta-feira, 1 de maio de 2015

É verdade que na Bíblia há citações de escritores seculares antigos? Isso não seria plágio?

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A pergunta diz respeito à Bíblia como um todo, mas vamos respondê-la a partir do Novo Testamento, pois é ali que encontramos evidências mais concretas. Existem no Novo Testamento citações de autores seculares? Sim. E há também diversas citações de autores religiosos extrabíblicos, para não falar nas centenas de citações do Antigo Testamento.

As citações bíblicas são mais fáceis de ser identificadas – a menos que sejam indiretas ou meras alusões – e não representam maiores problemas. Em Mateus 2:6, por exemplo, encontramos uma citação de Miqueias 5:2 para demonstrar que o nascimento de Jesus em Belém foi cumprimento de uma profecia. Além da comprovação profética, há outras formas de citação (Mt 22:44 [Sl 110:1]; Jo 3:14 [Nm 21:9]; Rm 3:10-18 [várias citações]; 1Co 10:1 [Êx 14:22-29]; Hb 8:5 [Êx 25:40]; Ap 3:19 [Pv 3:12]).

E quanto às citações de outros autores? Antes de responder, é importante compreender que o Novo Testamento (ou a Bíblia como um todo) não caiu pronto do céu. O texto bíblico também não foi ditado pelo Espírito Santo. O processo da inspiração não é mecânico, como se o profeta fosse apenas um instrumento nas mãos de Deus. A inspiração é dinâmica, o que significa dizer que ela atua mais na mente do profeta, que fica então livre para escrever a mensagem em suas palavras (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 20-22). Isso pode acontecer mesmo no caso de uma revelação em que Deus comunica ao profeta por meio de sonhos e visões o conteúdo a ser escrito. Ao inspirar o profeta ou outro escritor bíblico, Deus muitas vezes permite que ele se utilize de fontes escritas ou orais para que a mensagem alcance um propósito específico. Lucas (1:1-4), por exemplo, declara haver escrito seu evangelho a partir de intensa pesquisa.

A citação de autores não bíblicos não representa um problema para a doutrina da inspiração. Em Mateus 11:29 e 30, o próprio Jesus citou um pequeno trecho de uma obra religiosa judaica não bíblica muito conhecida em seus dias: Eclesiástico, de Ben Siraque (51:23-28). Já em Mateus 5 ele citou diversas interpretações rabínicas equivocadas do Antigo Testamento, com a intenção de refutá-las (v. 31, 43).

Os autores do Novo Testamento conheciam e utilizavam o Antigo Testamento, outras obras da cultura religiosa judaica e obras de autores seculares. Isso se aplica especialmente aos que viveram e estudaram fora da Palestina. É o caso de Paulo, natural de Tarso, capital da Cilícia (At 21:39), um importante centro cultural da época. Paulo recorreu à literatura secular de seus dias no Areópago, em Atenas. No começo de seu discurso, ele fez referência a uma inscrição que tinha visto num monumento local (At 17:23) e, em seguida (v. 28), fez citações de autores clássicos: “Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”, de Epimênides, de Creta (6º século a.C.); e “Porque dele também somos geração”, de Aratus, da Cilícia (3º século a.C.). O apóstolo fez essas citações não porque elas fossem inspiradas na sua origem, mas para estabelecer pontos de contato com sua audiência e, a partir dali, apresentar a verdade bíblica.

Seria isso plágio? De forma alguma. Plágio, por definição, é o uso desonesto de palavras ou ideias de outro autor com o objetivo de obter lucro ou reconhecimento. Esse não foi o caso dos escritores do Novo Testamento. Além disso, embora a prática do plágio seja antiga, sua regulamentação é recente. Portanto, mesmo que Paulo não tenha dado o devido crédito a Epimênides ou a Aratus, não devemos julgá-lo pelos critérios literários de hoje, mas pelas práticas vigentes em seus dias. Ele não fez nada que não fosse considerado normal ou aceitável.


  • WILSON PAROSCHI, doutor em Teologia, com especialização em Novo Testamento, é professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)

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