Levamos para dentro do casamento questões mal resolvidas
vividas com nossos pais no passado infantil e na juventude? Como evitar
influências negativas do passado na vida conjugal?
Quando casamos não tem como “zerar” nosso passado e levar
para a vida conjugal um “eu” novo, sem nenhuma influência do que ocorreu
afetivamente ao longo da infância e juventude. A própria atração que ocorre no
namoro e noivado envolve questões ligadas à busca afetiva, inconsciente, do que
sentimos que faltou ou existiu no relacionamento com nossos pais (ou
cuidadores) no passado. Por exemplo, se você teve um pai agressivo e
autoritário, é provável que, como mulher, tenha tendência de se atrair por
homem também autoritário e agressivo. Se você é uma mulher autoritária e
agressiva, terá a tendência de se aproximar de um homem passivo e submisso para
atuar com ele semelhante ao que via em seus pais.
De maneira inconsciente os cônjuges fazem um tipo de pacto
para recriar situações problemáticas do passado que existiam na família de
origem de cada um. Esposo ou esposa não pensam conscientemente: “Vou repetir o
que existiu na casa de meus pais dentro do meu casamento.” Não é algo
consciente assim. Não é deliberado, programado, mas uma motivação, uma
inclinação, uma tendência para repetir a história passada.
Saímos de nossa infância e adolescência necessitando ajustes
emocionais dentro de nós. Alguns vêm para a vida adulta com muitas feridas
afetivas, e outros com menos. Umas pessoas crescem com muitos conflitos não
solucionados que geram transtornos mentais, complicações nos relacionamentos
adultos, doenças psicossomáticas, até problemas sociais. Aquilo que a pessoa
não conseguiu resolver individualmente dos relacionamentos passados na família
de origem, é recriado na família atual, no casamento. Algumas não aguentando a
dor e as complicações dentro do casamento, justamente por estas questões mal
resolvidas suas e do cônjuge, se separam e tendem a envolver-se com outra
pessoa também complicada que poderá fornecer a repetição, mais uma vez, do
conflito básico ainda vivo.
Os conflitos emocionais pessoais que cada cônjuge traz do
passado estão na mente de cada parceiro e acabam passando para o relacionamento
entre eles. Então, numa briga conjugal há, pelo menos, duas dimensões do
conflito, uma consciente e outra inconsciente, uma objetiva e outra subjetiva:
(1) Discussão por algo pontual daquele momento. Exemplos: “Você nunca me
ouve!”, “Você não coloca limites para seus parentes invadirem nossa
privacidade!”, “Você é alegre com estranhos e fechado comigo e com nossos
filhos!”, e (2) O que era originariamente solicitado aos pais e que se espera
receber do cônjuge. Correspondendo aos exemplos acima, teríamos: “Papai nunca
me ouvia!”, “Meus pais permitiam estranhos invadir nossa casa sem colocar
limites!”, “Minha mãe era super sociável com estranhos e dura demais com os
filhos!”.
Parece que todas as pessoas têm certos aspectos emocionais
ainda não resolvidos com seus pais. Uma educadora norte-americana escreveu: “Na
disciplina dada durante os primeiros anos da infância, os pais estão produzindo
impressões duradouras sobre as mentes de seus filhos. É nestes anos iniciais
que eles estão colocando o fundamento do caráter.” Ellen G. White, Manuscript
Releases, vol.7, pág. 8. “As lições dadas durante os primeiros anos da vida determinam
o futuro da criança.” Review and Herald, 9 Outubro 1900.
“Os problemas dentro do casamento serão mais graves na
direta proporção em que houve mais fragmentações afetivas familiares na família
de origem.” Maggie Scarf, “Casais Íntimos”, 1990. Ou seja, quanto mais
problemática foi sua vida com seus pais, mais complicados poderão ser os
conflitos no seu casamento. Muitos que casam para fugir dos problemas que têm
com um dos pais ou ambos, geralmente levam os problemas consigo para dentro do
casamento. Uma pessoa pode desenvolver independência sadia permanecendo com
seus pais até casar e uma pessoa pode fugir da casa de seus pais e continuar
dependente.
Como separar problemas do passado individual para que eles
não afetem o casamento? (1) Não é afastando geograficamente da família de
origem necessariamente. Você pode tornar-se sadiamente independente e viver
próximo da sua família de origem, ou pode até mudar de país e no sentido
interior, emocional, nunca ter se separado dos pais. (2) Envolve lutar para
modificar de forma individual as ligações afetivas originais carregadas
exageradamente em algo menos limitante. Exemplo: Se você teve relacionamento
muito próximo com seus pais, cheia de abraços, beijos, diálogo, sempre juntos,
você precisa aliviar um tanto esta forte necessidade de intimidade, ao invés de
cobrar do cônjuge o mesmo padrão de conduta que existia na sua família de
origem. Você também precisa de privacidade e pode não perceber isto. Ao
contrário, se você veio de uma família que era cada um para seu lado, sem
comunicação, tudo separado, você precisa aliviar este isolamento, e se
aproximar mais de seu cônjuge. Você pode precisar de aproximação e não perceber
isto. (3)Procure obter a capacidade para ser diferente dos pais e não sentir
esta diferença como um perda ou traição do modo de uma família funcionar. Em
seu casamento você, seu cônjuge e filhos podem precisar de algo diferente do
que existiu em sua vida individual e familiar no passado.
Escrito por Dr. Cesar
Vasconcellos de Souza
Fonte: Portal Natural
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