Lucas é o autor tanto do evangelho que leva o seu nome como de
Atos dos Apóstolos. Estes dois volumes
formam uma só obra, os dois volumes estão unidas por um tema que lhes é comum:
a Universidade do Reino de Deus. Ele apresenta
a história da vinda do Reino a partir de João Batista até que ele seja
proclamado em Roma. Desde do início
destes dois volumes até o seu final é evidente o tema que os une. O nascimento de Jesus é marcado pela
declaração de Simeão: “Porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual
preparaste diante de todos os povos;
luz para revelação dos gentios. Ele continua como reino de Deus foi
estabelecido em Roma, vencendo todas as barreiras que lhe impuseram no caminho,
por isso termina o segundo volume declarando que a proclamação do evangelho
alcançou seu objetivo: “Tomai, pois, conhecimento de que esta salvação de Deus
foi enviada aos gentios. E eles a
ouvirão” (At 28:28).
1 -
Dados Pessoais -
-Lucas era o único gentio entre os escritores do Novo Testamento. Seu nome era latino, pois Lucas é uma forma
reduzida do nome “Licius.”
a -
Corrobora esta posição a distinção que Paulo faz entre seus companheiros os que
eram ou não judeus. Aristarco, Marcos e
um tal Jesus foram identificados como os únicos judeus que estavam com ele,
“estes são os únicos circuncisos que estão comigo.” Os demais, portanto, seriam gentios, entre os
quais é mencionado Lucas (Cl 4:10-14).
b -
Outra evidência para advogar a origem gentia de Lucas é o uso que ele faz da
Escritura na versão grega. Ele não
traduz o texto em hebraico para o grego, mas faz uso direto do texto
grego. Possivelmente ele não falava
hebraico, em razão da maneira como ele se refere ao hebraico (At 1:19, 21:40;
22:2; 26:14).
c -
Há uma tradição que Lucas era originário de Antioquia da Síria. Isto se evidencia até certo lugar que ele dá
a igreja de Antioquia (At 11:19-30; 13:1-3; 14:26-28). Lucas acompanhou Paulo a Jerusalém e esteve
envolvido com sua viagem para Roma (At 21; 27:1; Fm 23-24). Tornou-se companheiro e médico pessoal de
Paulo (Gl 4:13 e At 16:6). Foi Lucas
quem atendeu Paulo em sua prisão: “só Lucas está comigo” (2Tm 4:11). O lugar de sua morte é desconhecido. A tradição afirma que morreu martirizado numa
árvore.
d -
A dedicação (Lc 1:1; At 1:1) que ele faz de suas duas obras a um tal Teófilo é
única no Novo Testamento, e se trata de uma prática romana. Mesmo quando um autor judeu assume esta mesma
postura revela uma influência pagã sobre o seu estilo, possivelmente com
intenção de atrair leitores gentílicos.
e -
Educação -
Por ser médico era necessário que Lucas tivesse uma educação superior conforme
os padrões dos seus dias. Nesta época a
Medicina era um ramo da Filosofia. Há
uma declaração específica de que Lucas era médico. Diversos estudiosos encontraram numerosos
termos técnicos de Medicina comuns aos escritos de Hipócrates, Dioscurides,
Galeno e outros, os quais eram contemporâneos de Lucas e que portanto
corroboram sua declarada profissão de médico.
O grego usado por Lucas em seu evangelho e em Atos revelam uma riqueza
de vocabulário. Há cerca de 800 palavras
em Lucas que não aparecem nos outros livros do Novo Testamento. O prefácio do evangelho é escrito em um
esmerado grego clássico, para então mudar seu estilo em harmonia com o grego do
Antigo Testamento. Ele consegue através
de seu apurado estilo, a partir de Lucas 9:51, dar a dramaticidade própria e
gradativa que conduz à paixão de Cristo.
(1) Lucas se propõe escrever uma obra sobre a vida de Cristo que
fosse seriamente histórica, por isso mesmo ele diz que fará uma “exposição em
ordem” depois de “acurada investigação de tudo desde sua origem” (Lc 1:3). As pesquisas de William Ramsey sobre a
primeira e Segunda viagens de Paulo comprovaram a meticulosa exatidão de Lucas
na apresentação dos fatos históricos, geográficos e administrativos. Ele declarou: “Você pode espremer as palavras
de Lucas a um grau acima de qualquer outro historiador, e elas resistem ao
exame mais severo e ao tratamento mais rígido.”
Lucas era um homem que primava pela exatidão de suas declarações.
(2) Este seu compromisso com a exatidão o levou a se tornar um
viajante, como bem o demonstram os textos “nós” de Atos (At 16:10-18;
20:5-21:18; 27:21-28:16), que indicam a presença de Lucas. Sua descrição da viagem de Paulo e o
respectivo naufrágio demonstram a exatidão de termos quanto aos ventos,
geografia e construção naval. Estas
viagens de Lucas sugerem que ele esteve com Paulo (2Tm 4:11) durante sua prisão
em Cesaréia. Pode Ter sido este período
que Lucas empreendeu sua pesquisa que lhe permitiu escrever o evangelho e
Atos. Por ser um homem adaptado a sua
época já por sua origem ou por sua cultura helênica e por Ter compreendido e
aceito a salvação pela graça através da fé, como ensinada por Paulo, tinha o
perfil da pessoa que seria utilizado pelo Espírito Santo para falar da
universalidade do evangelho.
2 -
Autoria do Evangelho - A tradição dos antigos Pais da Igreja advogam
unanimemente que Lucas é o autor do evangelho que leva o seu nome. Eusébio declara que Lucas é o autor do
terceiro evangelho. Irineu declara que
Lucas, o seguidor de Paulo, colocou no evangelho o que lhe foi pregado pelo
apóstolo. O Fragmento Muratoriano
concorda com Irineu, declarando que Lucas é o autor do evangelho; e o herege
Marcion, que morreu em 160 AD, coloca o evangelho de Lucas como o único no seu
cânon particular. Pode-se ainda
acrescentar o testemunho de Tertuliano, Clemente de Alexandria e outros.
a -
Teoria da Origem dos Sinópticos - Há pelo menos duas teorias que procuram explicar a
origem dos sinópticos: (1) Tradição Oral, (2) Teoria dos Dois Documentos.
(1) Nos primeiros anos da Igreja Apostólica havia necessidade de
se ensinar aos novos na fé os aspectos essenciais da vida de Cristo, e isto era
realizado em conformidade com os hábitos semíticos de memorização. E possivelmente a apresentação da vida de
Cristo apresentada por Pedro tronou-se básica para a doutrinação dos neófitos
(At 10:37-41). Este texto decorado,
antes de sua escritura, tornou-se o texto geratriz dos evangelhos, segundo esta
teoria.
(2) Na Teoria dos Dois Documentos, os evangelhos foram escritos
de uma série de documentos, num processo de dependência literária. Mateus e Lucas fizeram uso de documentos
escritos, de Marcos e da fonte “Q” dos ditos de Jesus. Pode-se também falar de uma terceira teoria
mais conservadora e mais aceita.
(3) Cada evangelista compôs seu próprio evangelho e que sua
semelhança se deve ao fato de escreverem sobre o mesmo tema: uma biografia
temática e estarem sob o mesmo contexto sócio-cultural e histórico.
3 -
Forma Narrativa -
Lucas seguiu o estilo literário da época ao dedicar seu livro a uma pessoa
importante (Teófilo), o mesmo que Flávio Josefo fez mais tarde ao dedicar sua
obra “Antigüidades” a Epafroditos.
Semelhantemente fizeram Heródoto e Tucídides. Neste trecho, como já foi dito, Lucas faz uso
do grego clássico. O restante dos
capítulos 1 e 2 ele emprega um grego com características semíticas. A partir porém de Lucas 3:1 ele escreve em um
grego helenístico que relembra a Septuaginta.
O evangelho de Lucas traz informações sobre o ministério de Jesus na
Judéia, o que não acontece com os outros evangelhos sinópticos. Enquanto em Mateus as parábolas visam
esclarecer a natureza do Rei e do Reino de Deus, Lucas relata parábolas com o
objetivo de falar sobre a relevância da conversão diante de Deus e de seus
anjos (Lc 15-16). Universalismo e seu
interesse pelos desfavorecidos são possivelmente suas mais destacadas
características: mulheres e crianças têm um lugar especial em seu
evangelho. Estudiosos conservadores
datam este evangelho para um período anterior ao ano 63 AD, porque tendo sido
escrito antes de Atos, que termina de forma repentina seu relato sem falar do
fim do apóstolo Paulo. O que leva a se
admitir a data de 63 AD para sua produção.
Se dividirmos o material dos sinópticos, encontramos 244 seções. Em Mateus, 58 seções são comuns aos outros
dois e quase vinte lhe são próprias. Das
63 seções de Marcos, somente 5 lhe são peculiares. Lucas possui 45 seções que são de sua própria
autoria no total de 103 seções.
a -
Divisão do Evangelho - Embora seja evidente o tratamento temático do autor
para o seu evangelho, ele também declara que ele se propôs apresentar uma
exposição em ordem desde o princípio, por isso se procura seguir um esboço que
possa apresentar estes dois aspectos:
ESBOÇO DO EVANGELHO DE LUCAS
I - Prefácio e Propósito do
Evangelho -
1:1-4.
|
|||
II - Identificação do Filho
do Homem com os Homens - 1:5 - 4:13
|
|||
1 - Nascimento, Infância e
Juventude -
4 AC-27 AD -
1:5-2:52.
|
|||
2 - Preparação para o
Ministério -
27AD -
3:1-4:13.
|
|||
III - O Ministério do Filho
do Homem para com os Homens - 29-31AD - 4:14-9:50.
|
|||
1 - Ministério Inicial na
Galiléia -
4:14-41.
|
|||
2- Primeira Viagem
Missionária na Galiléia - 4:12.
|
|||
3 - Ministério em e perto
de Cafarnaum -
5:17-6:16.
|
|||
4 - Sermão da Montanha -
6:17-49.
|
|||
5 - Segunda Viagem
Missionária na Galiléia - 7:1-8:56.
|
|||
6 - Terceira Viagem
Missionária na Galiléia - 9:1-17.
|
|||
7 - Afastamento do
Ministério Público - 9:18-50.
|
|||
IV - Rejeição do Filho do
Homem pelos Homens - 31AD - 9:51-19:27.
|
|||
1 - Ministério em Samaria e
na Peréia -
9:51-10:24.
|
|||
2 - Ensinamentos de
Parábolas -
10:25-18:14.
|
|||
3 - Última Jornada para
Jerusalém -
18:15-19:27.
|
|||
V - A Condenação do Filho
do Homem e os Homens - 31AD - 19:28-23:56.
|
|||
1 - Conflito com Escribas e
Fariseus -
19:28-21:4.
|
|||
2 - Discurso Profético -
21:4-38.
|
|||
3 - Prisão e Julgamento de
Jesus -
22:1-23:25.
|
|||
4 - Crucifixão, Morte e
Sepultamento -
23:26-56.
|
|||
VI - A Vindicação do Filho
do Homem diante dos Homens - 31AD - 24:1-53.
|
|||
1 - Ressurreição -
24:1-12.
|
|||
2 - Cristofanias e
Instruções -
24:13-53.
|
|||
4 -
Conteúdo do Evangelho - O título Filho do Homem que serviu como princípio
organizador do livro de Lucas, pode ser entendido sob três ângulos diferentes:
Filho do Homem Terreno, Filho do Homem Sofredor e Filho do Homem Apocalíptico.
a -
Filho do Homem Terreno - O título Filho do Homem aparece no Antigo Testamento
com dois sentidos básicos: (1) em Ezequiel aparece diversas vezes como uma identificação
do ser humano, ou mais especificamente do profeta, (2) já em Daniel 7:13 e 14 o
Filho do Homem aparece como um ser celestial que se aproxima de um tribunal
para participar da obra de julgamento (Dn 7:9-10), e que tem o domínio de um
reino que jamais passará. O uso que
Cristo fez do título Filho do Homem não O limita às potencialidades do ser
humano, embora não as negue como uma realidade vivencial dEle em seu ministério
terrestre. O Filho do Homem Terreno tem
o direito de perdoar pecados, embora se trate de uma prerrogativa divina. Este direito de Jesus deve ser visto como
sendo Ele o Filho do Homem celestial, que como Filho do Homem terreno pode
perdoar pecados (Lc 5:24). Ele tinha
esta autoridade como Filho do Homem celestial, agora esta prerrogativa é
exercida na Terra. Isto demonstra que
esta visão terrena de Cristo no título Filho do Homem inclui prerrogativas
divinas em Sua messianidade como homem, uma vez que tem autoridade para perdoar
pecados.
(1) Em Lucas 6:5, o Filho do Homem reivindica para Si a
autoridade de interpretar os regulamentos dos escribas concernentes ao
Sábado. O princípio aqui exposto é que o
Filho do Homem é portador de autoridade teológica, pois interpreta o Sábado
como não sendo um fim em si mesmo, mas foi promulgado para o bem do homem. Isto advoga que o Filho do Homem tem
soberania na interpretação da verdade para os homens embora fosse Ele
homem. A autoridade teológica do Filho
do Homem é portanto uma característica do Messias. O fato dele ser o Filho do Homem terreno não
dava ao homem o direito, devido a essa semelhança, de soberania de
interpretação sobre os regulamentos de Deus, e nesse caso específico sobre o
Sábado.
(2) Esta compreensão, contudo, não nega a realidade de sua
humanidade como Filho do Homem. Pois
Lucas estabelece uma comparação entre João Batista e Jesus Cristo, para mostrar
a realidade de sua vida terrena.
Enquanto o primeiro teve uma vida asceta, o segundo é visto como glutão,
bebedor de vinho e amigo dos pecadores (Lc 7:25), e ambos são igualados como
sendo enviados por Deus para seu ministério específico (Mt 11:19).
b -
O Filho do Homem Sofredor - A partir de Cesaréia de Filipe e a confissão de Pedro
responde a pergunta sobre quem é a pessoa do Filho do Homem. A pergunta de Cristo foi “Quem dizem as
multidões que eu sou?” (Lc 9:18) ou como declara Mateus “Quem diz o povo ser o
Filho do Homem?” (Mt 16:13). A partir de
Cesaréia de Filipe, Cristo começa a falar que Ele, o Filho do Homem, deve
sofrer (9:22) e o faz pelo menos sete vezes.
Nos evangelhos sinópticos,[1] a partir da confissão de Pedro (Mt 16:21-23;
Mr 8:31-33; Lc 9:22), Cristo procurou lhes mostrar pelo menos sete vezes[2] que a finalidade última de Sua missão era a
necessidade de Sua morte e ressurreição.[3]
(1) Na primeira predição (Mt 16:21) Pedro tentou dissuadi-Lo e
reprová-Lo, apelando ao suposto senso de auto-comiseração de Cristo (Mt
16:22). Jesus põe-Se em evidente
conflito declarando: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque
não cogitas das coisas de Deus e sim das dos homens” (Mt 16:23). A causa do conflito estava clara, pois o
conceito do Messias-Rei de Pedro chocou-se com o do Messias-Sofredor de Jesus.
(2) A segunda predição deu-se numa viagem secreta à Galiléia (Mr
9:30), quando Cristo repetiu a mesma mensagem.
A reação dos discípulos na ocasião foi de ignorância, tristeza e medo,
como deixam transparecer as palavras “então, os discípulos se entristeceram
grandemente” (Mt 17:22-23) e a declaração de que “eles, contudo, não
compreendiam isto e temiam interrogá-lo” (Mr 9:30-32).
(3) Após Sua manifestação gloriosa na transfiguração, Jesus fez
a terceira predição de Sua morte ao dizer: “Assim também o Filho do Homem há de
padecer” (Mt 17:12), acrescentando: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho
do Homem ressuscite dentre os mortos” (Mt 17:9; Mr 9:12). A reação de ignorância repetiu-se mais uma
vez, pois é dito em Mateus que “então, os discípulos entenderam que lhes falara
a respeito de João Batista” (Mt 17:13) e em Marcos que “eles guardaram a
recomendação, perguntando uns aos outros que seria o ressuscitar dentre os
mortos” (Mr 9:10).
(4) Na quarta oportunidade o Mestre, declarando mais
detalhadamente os acontecimentos relativos à Sua morte e ressurreição, afirmou
que eles eram um cumprimento profético messiânico. Lucas enfatiza a ignorância dos discípulos ao
afirmar que “nada compreenderam,” pois “o sentido destas palavras era-lhes
encoberto, de sorte que não percebiam o que Ele dizia” (Lc 18:31-34; Mt
20:17:19; Mr 10:32-34).
(5) Após o pedido da mãe de Tiago e João por um lugar de
destaque no reino messiânico para seus filhos (Mt 20:20-23), Cristo prediz Seu
sacrifício indiretamente pela quinta vez, acrescentando à Sua morte o
significado teológico “em resgate de muitos” (Mt 20:28; Mr 10:45). Tudo que é dito é que eles foram para
Jericó. O silêncio dos discípulos
evidencia o fato de que as palavras de Cristo não puderam ser por eles
avaliadas. Resgate era-lhes um conceito
imperceptível.
(6) Na sexta ocasião, Cristo declara a proximidade da Sua morte
nas palavras “sabeis que, daqui a dois dias, celebrar-se-á a Páscoa; e o Filho
do Homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26:2). Fica claro que os apóstolos tomaram
conhecimento da brevidade da morte dEle.
O silêncio dos discípulos parece indicar que eles não se
importaram. Agiram possivelmente com
descaso.
(7) Na sétima predição Cristo, vendo que não podia penetrar além
da parede de ignorância deles, os advertiu que se escandalizariam[4] com Ele e O abandonariam naquela mesma noite
por causa de Sua morte (Mt 26:31; Mr 14:27).
Sua palavras baseavam-se na expressão do Antigo Testamento: “ferirei o
pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (Zc 13:7).
c -
O Filho do Homem Apocalíptico - Cristo não só anunciou seu sofrimento como também sua volta
em glória. Estas predições são
posteriores à confissão de Pedro em Cesaréia, enquanto a primeira delas é
anterior à transfiguração (Lc 9:28-36), sendo esta portanto uma demonstração do
que significava a vinda do Filho do Homem Apocalíptico (Lc 21:27). A sua messianidade incluía Sua entronização
junto ao Pai e Sua manifestação gloriosa como Ele explicou ao Suma Sacerdote
(Lc 22:66-69; Mt 26:63-64).
(1) Pode-se dizer portanto que Jesus usou o termo Filho do Homem
para reivindicar a “dignidade messiânica e a função messiânica.”[5] E mais do que a messianidade Ele reivindicou
Sua sobrenaturalidade. Ele é o homem em
cuja morte há o resgate de todos os pecadores, e que como ser celestial julga
quem há de receber o galardão e que na
Sua segunda vinda gloriosa há de dar o galardão eterno a todos os Seu
filhos. Só assim será inaugurado o Reino
de Deus, primeiramente no coração do homem (Reino da Graça) e depois pelo Seu
Retorno estabelecerá em toda terra o Seu reino, o Reino da Glória.
5 -
Outros Aspectos do Conteúdo:
a -
Universalidade -
Lucas procura promover o Cristianismo no mundo greco-romano e por isso ele dá
informações históricas na sua descrição de Cristo sobre o nascimento de Cristo
(Lc 2:1-7).
(1) Segundo Lucas 3:1, João Batista iniciou seu ministério no
décimo quinto ano de Tibério César.
Nesta ocasião Pilatos era o procurador da Judéia, Herodes o tetrarca da
Galiléia, Filipe da Ituréia e de Traconites, e Lisânias de Abilene, enquanto
Anás e Caifás pontificavam como sumo sacerdote em Jerusalém. Tibério César começa a reinar logo após a
morte de Augusto em torno dos anos 12 a 14 AD.[6] O décimo quinto ano, segundo Leonard Goppelt,
teria ocorrido em torno do ano 27 AD.[7]
Herodes, o Grande, começou a reinar em 717 AUC (ab urb condita). Ele reinou 34 anos em Jerusalém, o que
alcança a data de 750 a 751 AUC, quando veio a falecer. Esta seria a data do nascimento de Jesus, que
corresponde em nosso calendário, aproximadamente, ao ano 4 AC. A diferença com nosso calendário se deve ao
fato de Dionísio Exíguo, no VI século AD, Ter datado erradamente para o ano 754
AUC o nascimento de Jesus.
Na morte de Herodes, o Grande, o seu reino foi dividido entre
seus filhos. A metade foi dada a
Arquelau, que por causa de sua má administração foi deposto por decreto do imperador,
e seu território ficou sob a direção do procurador de Roma,[8] Pôncio Pilatos, que foi nomeado no ano 26 AD,
e ali permaneceu até 36 AD. a outra
metade do Reino foi dividida entre Herodes Antipas (6 AC a 39 AD) e Filipe (4
AC a 32 AD).[9] Ralph Earle corrobora as informações acima,
declarando que a morte de Herodes, o Grande, deu-se no ano 4 AC, ou 751 AUC.[10]
(2) Em Lucas, Jesus é “a luz para revelação aos gentios” (Lc
2:32). Ele inclui em seu relato a
citação de Isaías 40 que declara que “toda carne verá a salvação de Deus” (Lc
3:6). A genealogia de Lucas apresenta a
origem de Cristo procedendo de Adão, pai de toda a humanidade, e este de Deus
(Lc 3:23-38). Ele também ressalta a
atenção dada por Elias a viúva fenícia e a cura do profeta Naamã, os quais eram
estrangeiros, desvalidos e pobres. Além
disso Cristo se interessa pelas classes desfavorecidas: mulheres em diversas
ocasiões, Maria, Isabel e Ana no nascimento (Lc 1:27-28), a viúva de Naim
(7:11-17), a mulher imoral (7:36-50), a mulher que dava apoio financeiro a
Jesus (8:1-3), a viúva pobre (21:1-4), as mulheres que lamentaram a situação de
Jesus (23:27-31; 23:49-24:11), coletor de impostos (Lc 19:1-10), filho pródigo
(Lc 15:11-32), samaritanos (Lc 9:51-56; 10:29-37) e pessoas pobres (Lc 4:16-22;
14:12-13). Ele é o único que relata a
parábola do rico e Lázaro (Lc 16:19-31).[11]
Lucas retrata a Jesus como um Salvador de ampla simpatia, que se socializa com
todo tipo de pessoa.
b -
O evangelho de Lucas é o mais compreensivo dos sinópticos. Nos primeiros 2 capítulos, ele começa com o
prólogo e história concernente ao nascimento e infância de Jesus. O batismo, a genealogia e a tentação de Jesus
se seguem em 3:1 a 4:13, o ministério na Galiléia (4:14 a 9:50), a última
jornada em 9:51 a 19:27, e finalmente a semana da paixão, a crucifixão,
ressurreição, cristofanias e ascensão em 19:28 a 24:53. A última jornada de Cristo a Jerusalém marca
a mais distintiva contribuição de Lucas para o nosso conhecimento da carreira
de Jesus. Nessa seção ele apresenta o
ministério de Jesus na Peréia, onde Ele apresenta muitas das mais famosas
parábolas que não estão relatadas nos outros evangelhos (O Bom Samaritano, O
Tolo Rico, O Filho Pródigo, O Rico e Lázaro, Os Fariseus e o Coletor de
Impostos, e outras), e enfatiza o significado de Jerusalém como alvo do
ministério de Jesus, pois seria o ponto de partida da missão mundial. Ele, Lucas, é o único a falar sobre ascensão.[12]
- Dr. Luiz Nunes, Pastor jubilado e professor do Seminário Adventista Latino Americano de Teologia (SALT-IAENE)
[1] Há
duas declarações de Cristo um tanto enigmáticas na época sobre Sua morte no
evangelho de João, por ocasião da purificação do templo (Jo 2:19-21) e no
diálogo com Nicodemos (Jo 3:14), que são anteriores à confissão de Pedro. Nestas declarações a crise não está presente.
[2] Três
predições da morte de Cristo são preferivelmente apresentadas para expor o
conflito entre Jesus e Seus discípulos, como aparece em: Kingsbury, Conflict in Mark: Jesus, Authorities,
Disciples, 406-407. Aparecem,
contudo, seis ocasiões em que Jesus prediz a sua morte como é declarado em:
Francis D. Nichol, ed., The Seventh-day
Adventist Bilbe Commentary, ed. ver. (Washington, DC: Review and Herald,
1980), 5:464. Três outras passagens mais
são mencionadas apenas em Lucas, porém não apresentam uma situação de conflito
com os discípulos: Lc 12:50; 13:33; 17:2.
[3] A
ordem cronológica escolhida das predições de Cristo com relação à Sua morte
estão em: Nichol, ed., Seventh-day
Adventist Bilbe Commentary (!980), 5:194-203.
[4] O
termo significa “pular para cima”, “fechar-se de repente,” “armadilha,” nos
evangelhos o significado da palavra é “ser repelido,” tornar-se um motivo de
tropeço, ver: J. Guhrt, “skavndalon,” em: Coenen, ed., Dicionário
internacional de Teologia do Novo Testamento, 3:311-314; Gustav Stählin, Theological Dictionary of the New Testament,
7:344-351.
[5]
George E. Ladd, Teologia do Novo
Testamento (Rio de Janeiro: JUERP, 1984), 137-149.
[6] A. T. Robertson, Beacon Bible Commentary (Missouri: Beacon Hill Press, 1964), 6:37.
[7]
Leonard Goppelt, Teologia do Novo
Testamento (Petrópolis: Rio de Janeiro: Sinodal/ Vozes, 1976), 60.
[8] Coleman F. Luck, Luke the Gospel of the Son of Man (Chicago: Moody Press, 1970), 37.
[9] Carol
Stechnueller,Evangelho de Lucas (São
Paulo: Edições Paulinas, 1975), 37.
[10]
Robertson, Beacon Bilbe, 6:37.
[11] Para
uma melhor informação sobre os desfavorecidos na sociedade judaica, ver:
Joachin Jeremias, Jerusalém no tempo de
Jesus (São Paulo: Edições Paulinas, 1986), 156-169, 403-494.
[12] Gundry, A
Survey of the New Testament, 207-210.
0 comentários:
Postar um comentário