Pages

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sem complicação

Fotos: William de Moraes e Fotolia

Para muitos, teologia é complicar o texto bíblico, enchê-lo de floreios, saturar os ouvintes com termos gregos e hebraicos e citar uma lista interminável de especialistas. Isso ajuda a explicar a antipatia que muitos têm por palavras como “hermenêutica” e “exegese”. E é compreensível, pois, via de regra, as pessoas que vão ao culto ou leem um livro sobre a Bíblia estão em busca da Palavra de Deus e não de teorias. Por outro lado, o efeito dessa aversão à teologia tem descambado para o outro extremo: o estudo e a pregação displicentes. Mas, afinal, é possível mesclar erudição e simplicidade? É possível ser profundo intelectualmente e alcançar o coração dos leitores e ouvintes?

Se, de modo geral, academicismo tem sido sinônimo de complicação, essa não é necessariamente uma verdade para teólogos como Alberto Ronald Timm. Suas quase 70 páginas de currículo, os quatro idiomas que fala, os 135 simpósios e conferências de que participou, as 37 viagens culturais que fez, os 27 trabalhos acadêmicos que orientou, os dez livros completos e os mais de 400 artigos que escreveu não tornam o doutor Timm uma pessoa pedante, muito pelo contrário. Embora seus escritos e pregações tenham um conteúdo profundo, a linguagem simples faz com que caiam no gosto do povo.

FUNDAMENTO BÍBLICO
Nascido em São Lourenço do Sul (RS), Alberto Timm, 56 anos, começou cedo a ter contato com a Bíblia. Vindo de uma família descendente de imigrantes alemães, que em 1905 aceitou a mensagem adventista, foi incentivado ao estudo desde seus primeiros anos. “Não tínhamos muitos recursos financeiros, mas algo jamais podia faltar: a literatura denominacional”, lembra. “Tínhamos um número significativo de livros de Ellen White e de outros autores adventistas. Meu pai adquiria cada ano a Meditação Matinal e assinava as cinco revistas denominacionais daquela época. Mesmo antes de eu ser alfabetizado na escola municipal local, meus pais já me haviam dado de presente uma Bíblia com capa de couro e bordas douradas, e minha mãe lia para mim o ano bíblico dos juvenis.” E foi essa base familiar que estabeleceu os alicerces para a futura carreira acadêmica de Alberto.

Após graduar-se em Teologia pelo Instituto Adventista de Ensino (antigo IAE, atual Unasp), em 1981, trabalhou por quatro anos como pastor em Ijuí (RS). Depois, foi chamado para voltar ao campus em que se formou, onde exerceria as funções de diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White e professor de Teologia.

Em 1988, concluiu seu mestrado pelo Seminário Latino-Americano de Teologia (SALT), no próprio IAE, pesquisando sobre a visão dos dispensacionalistas a respeito do fim do mundo. Em 1995, após um período de quase seis anos na Universidade Andrews, em Berrien Springs (EUA), defendeu sua tese sobre o papel do santuário e das três mensagens angélicas na formação das doutrinas adventistas.
Desde então, com o título de PhD em Religião, Alberto Timm se destacou como especialista na história e nas doutrinas da igreja. Essa formação foi fundamental para ele ao retornar para o Brasil e assumir a cátedra no seminário e suas atividades no Centro White. A bagagem acadêmica dele seria muito útil também no combate às “heresias”, uma vez que os movimentos dissidentes tiveram um pico de efervescência na década de 1990 e meados dos anos 2000. Essa inclinação apologética, que se manifestava já nos tempos de distrito, seria uma das marcas registradas do trabalho do teólogo.

E não são somente as doutrinas que ele tem ajudado a “guardar”. Durante o tempo em que esteve no Unasp, fundou o Centro Nacional da Memória Adventista (CNMA), à frente do qual organizou oito simpósios sobre a história do adventismo no Brasil. Três desses eventos resultaram em livros.

Depois de passar apenas um ano na coordenação da pós-graduação em Teologia do centro universitário, em maio de 2007 Alberto Timm foi nomeado reitor do SALT e diretor do departamento que promove os escritos de Ellen G. White na sede sul-americana da igreja. Lá, ele colaborou para um dos maiores programas de incentivo à leitura dos livros de Ellen White: a distribuição da série Conectando com Jesus.

No início de 2012, o doutor Timm deixou o solo sul-americano para iniciar nova etapa em seu ministério. O antigo garoto estudioso do interior gaúcho passaria então a servir como diretor associado do White Estate, na sede mundial adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA), função que exerce até hoje.

PERSONALIDADE
Casado com Marly, professora e mestra em educação, que atualmente ocupa o cargo de assistente administrativa do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral, e pai de três filhos (Suellen, 27 anos; William, 21; e Shelley, 18), o pastor Alberto é o típico “paizão”. Biotipo alemão, com 1,82 metro de altura, daqueles que ficam vermelhos quando riem, ele é dotado de um senso de humor e de uma simpatia que contagiam. É fácil encontrar amigos e ex-alunos que recordam – e até imitam – seu jeito característico de gesticular e falar, repetindo expressões como “ali” e “mas olha!”, com que entremeia suas palestras e a conversação.

Dono de memória retentiva e mente enciclopédica, Timm é capaz de citar de cor inúmeros pensamentos e autores, e até mesmo a página de livros que leu muito tempo atrás. Com ele, uma simples conversa à mesa acaba em uma agradável aula de teologia, história, filosofia ou conhecimentos gerais. Sua simplicidade, seu profundo conhecimento histórico e o engraçado chapéu que costuma usar em suas viagens (fazendo-o parecer um verdadeiro gringo) o tornam uma excelente companhia, especialmente quando se trata de conhecer os lugares importantes da história da igreja.

Com sua visão abrangente do adventismo, Alberto Timm transita bem entre a academia e a liderança da denominação, dois “mundos” que muitos consideram incompatíveis, mas que ele prova ser possível conciliar. Foi assim, como líder e teólogo versátil, que o doutor de cabelos grisalhos conquistou a confiança da igreja à qual já dedicou 33 anos. E, quando questionado sobre os desafios atuais dessa igreja, deixa clara sua principal preocupação: a perda ou diluição da identidade adventista em meio à cultura religiosa e secular atual, problema que abordou no clássico artigo “Podemos ainda ser considerados o ‘povo da Bíblia’?” (Revista Adventista, junho de 2001).

Uma mensagem com firme fundamento bíblico-doutrinário e que reconhece também o valor dos escritos de Ellen White como mensageira do Senhor tem sido a bandeira defendida por Timm ao longo dos anos. E é com um pensamento da escritora que, em sua adolescência, ele aprendeu a admirar e que tanto influenciou sua vida que Alberto resume seu lembrete aos adventistas do Brasil e do mundo: “O Céu vale tudo para nós, e, se o perdermos, tudo perderemos” (Filhos e Filhas de Deus, p. 349).


  • EDUARDO RUEDA é editor associado na Casa Publicadora Brasileira

0 comentários:

Postar um comentário