Para muitos, teologia é complicar o texto bíblico, enchê-lo
de floreios, saturar os ouvintes com termos gregos e hebraicos e citar uma
lista interminável de especialistas. Isso ajuda a explicar a antipatia que
muitos têm por palavras como “hermenêutica” e “exegese”. E é compreensível,
pois, via de regra, as pessoas que vão ao culto ou leem um livro sobre a Bíblia
estão em busca da Palavra de Deus e não de teorias. Por outro lado, o efeito
dessa aversão à teologia tem descambado para o outro extremo: o estudo e a
pregação displicentes. Mas, afinal, é possível mesclar erudição e simplicidade?
É possível ser profundo intelectualmente e alcançar o coração dos leitores e
ouvintes?
Se, de modo geral, academicismo tem sido sinônimo de
complicação, essa não é necessariamente uma verdade para teólogos como Alberto
Ronald Timm. Suas quase 70 páginas de currículo, os quatro idiomas que fala, os
135 simpósios e conferências de que participou, as 37 viagens culturais que
fez, os 27 trabalhos acadêmicos que orientou, os dez livros completos e os mais
de 400 artigos que escreveu não tornam o doutor Timm uma pessoa pedante, muito
pelo contrário. Embora seus escritos e pregações tenham um conteúdo profundo, a
linguagem simples faz com que caiam no gosto do povo.
FUNDAMENTO BÍBLICO
Nascido em São Lourenço do Sul (RS), Alberto Timm, 56 anos,
começou cedo a ter contato com a Bíblia. Vindo de uma família descendente de
imigrantes alemães, que em 1905 aceitou a mensagem adventista, foi incentivado
ao estudo desde seus primeiros anos. “Não tínhamos muitos recursos financeiros,
mas algo jamais podia faltar: a literatura denominacional”, lembra. “Tínhamos
um número significativo de livros de Ellen White e de outros autores
adventistas. Meu pai adquiria cada ano a Meditação Matinal e assinava as cinco
revistas denominacionais daquela época. Mesmo antes de eu ser alfabetizado na
escola municipal local, meus pais já me haviam dado de presente uma Bíblia com
capa de couro e bordas douradas, e minha mãe lia para mim o ano bíblico dos
juvenis.” E foi essa base familiar que estabeleceu os alicerces para a futura
carreira acadêmica de Alberto.
Após graduar-se em Teologia pelo Instituto Adventista de
Ensino (antigo IAE, atual Unasp), em 1981, trabalhou por quatro anos como
pastor em Ijuí (RS). Depois, foi chamado para voltar ao campus em que se
formou, onde exerceria as funções de diretor do Centro de Pesquisas Ellen G.
White e professor de Teologia.
Em 1988, concluiu seu mestrado pelo Seminário
Latino-Americano de Teologia (SALT), no próprio IAE, pesquisando sobre a visão
dos dispensacionalistas a respeito do fim do mundo. Em 1995, após um período de
quase seis anos na Universidade Andrews, em Berrien Springs (EUA), defendeu sua
tese sobre o papel do santuário e das três mensagens angélicas na formação das
doutrinas adventistas.
Desde então, com o título de PhD em Religião, Alberto Timm
se destacou como especialista na história e nas doutrinas da igreja. Essa
formação foi fundamental para ele ao retornar para o Brasil e assumir a cátedra
no seminário e suas atividades no Centro White. A bagagem acadêmica dele seria
muito útil também no combate às “heresias”, uma vez que os movimentos
dissidentes tiveram um pico de efervescência na década de 1990 e meados dos
anos 2000. Essa inclinação apologética, que se manifestava já nos tempos de
distrito, seria uma das marcas registradas do trabalho do teólogo.
E não são somente as doutrinas que ele tem ajudado a
“guardar”. Durante o tempo em que esteve no Unasp, fundou o Centro Nacional da
Memória Adventista (CNMA), à frente do qual organizou oito simpósios sobre a
história do adventismo no Brasil. Três desses eventos resultaram em livros.
Depois de passar apenas um ano na coordenação da
pós-graduação em Teologia do centro universitário, em maio de 2007 Alberto Timm
foi nomeado reitor do SALT e diretor do departamento que promove os escritos de
Ellen G. White na sede sul-americana da igreja. Lá, ele colaborou para um dos
maiores programas de incentivo à leitura dos livros de Ellen White: a
distribuição da série Conectando com Jesus.
No início de 2012, o doutor Timm deixou o solo sul-americano
para iniciar nova etapa em seu ministério. O antigo garoto estudioso do
interior gaúcho passaria então a servir como diretor associado do White Estate,
na sede mundial adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA), função que exerce
até hoje.
PERSONALIDADE
Casado com Marly, professora e mestra em educação, que
atualmente ocupa o cargo de assistente administrativa do Instituto de Pesquisa
Bíblica da Associação Geral, e pai de três filhos (Suellen, 27 anos; William,
21; e Shelley, 18), o pastor Alberto é o típico “paizão”. Biotipo alemão, com
1,82 metro de altura, daqueles que ficam vermelhos quando riem, ele é dotado de
um senso de humor e de uma simpatia que contagiam. É fácil encontrar amigos e
ex-alunos que recordam – e até imitam – seu jeito característico de gesticular
e falar, repetindo expressões como “ali” e “mas olha!”, com que entremeia suas
palestras e a conversação.
Dono de memória retentiva e mente enciclopédica, Timm é
capaz de citar de cor inúmeros pensamentos e autores, e até mesmo a página de
livros que leu muito tempo atrás. Com ele, uma simples conversa à mesa acaba em
uma agradável aula de teologia, história, filosofia ou conhecimentos gerais.
Sua simplicidade, seu profundo conhecimento histórico e o engraçado chapéu que
costuma usar em suas viagens (fazendo-o parecer um verdadeiro gringo) o tornam
uma excelente companhia, especialmente quando se trata de conhecer os lugares
importantes da história da igreja.
Com sua visão abrangente do adventismo, Alberto Timm
transita bem entre a academia e a liderança da denominação, dois “mundos” que
muitos consideram incompatíveis, mas que ele prova ser possível conciliar. Foi
assim, como líder e teólogo versátil, que o doutor de cabelos grisalhos
conquistou a confiança da igreja à qual já dedicou 33 anos. E, quando
questionado sobre os desafios atuais dessa igreja, deixa clara sua principal
preocupação: a perda ou diluição da identidade adventista em meio à cultura
religiosa e secular atual, problema que abordou no clássico artigo “Podemos
ainda ser considerados o ‘povo da Bíblia’?” (Revista Adventista, junho de
2001).
Uma mensagem com firme fundamento bíblico-doutrinário e que
reconhece também o valor dos escritos de Ellen White como mensageira do Senhor
tem sido a bandeira defendida por Timm ao longo dos anos. E é com um pensamento
da escritora que, em sua adolescência, ele aprendeu a admirar e que tanto
influenciou sua vida que Alberto resume seu lembrete aos adventistas do Brasil
e do mundo: “O Céu vale tudo para nós, e, se o perdermos, tudo perderemos”
(Filhos e Filhas de Deus, p. 349).
- EDUARDO RUEDA é editor associado na Casa Publicadora Brasileira
Fonte: Revista Adventista
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