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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pós-Lapsarianismo




PÓS-LAPSARIANISMO[1]

PROBLEMÁTICA

Era Jesus semelhante a Adão antes ou depois da queda?

Aqueles que defendem a teoria pós-lapsariana[2] insistem em afirmar que Jesus assumiu a natureza humana pecaminosa, em Sua encarnação, tanto física quanto a moral e a espiritual, com todas as características da humanidade caída. Assim sendo, Jesus teria sido exatamente como qualquer um de nós em termos de forma e essência; Ele não seria em nada diferente de qualquer outra pessoa nascida (RODON, 2008, p. 46 e 47).

“Em Sua natureza humana, não há uma partícula de diferença entre Ele e vocês.” (Citado por KNIGHT, 2005, 121).

Esta era a posição de A.T. Jones, um dos pioneiros do pós-lapsarianismo. Diante dessa afirmação temos que nos reportar a Bíblia e ao Espírito de Profecia para vermos o que nos falam sobre a condição natural do homem após o pecado.

A Bíblia nos apresenta um quadro em nada elogioso quanto a condição humana pós-queda: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9); “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmo 51:5); “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.” (Romanos 7:14).

Para Ellen G. White: “no seu âmago [depois da queda], a natureza humana foi corrompida. Desde então, o pecado alcançou todas as mentes” (Review and Herald, 16/04/1901); “Com relação ao primeiro Adão, os homens nada receberam dele senão a culpa e a sentença de morte” (Orientação da Criança, 475).

Assim, o problema é: Embora Jesus não fosse um pecador, como corretamente entendido pelo pós-lapsarianismo, teria Ele sido, realmente, participante da natureza humana corrompida, tanto fisicamente quanto moralmente, com tendências, propensões para o pecado e inclinada para o mal?

SOLUÇÃO

Os defensores do pós-lapsarianismo – tendo como proeminentes expoentes Alonzo T. Jones, Ellet J. Waggoner, W.W. Prescott, M.L. Andreasen – acreditam que Cristo assumiu a natureza humana após a queda de Adão, passando a ter natureza igual a nossa (KNIGHT, 2005, p. 120 e 128; QUESTÕES sobre doutrina, 2008, p. 441); com isso eles afirmam que assim como Cristo teve vitória sobre o pecado nós também podemos ter vitória perfeita sobre o pecado, ao nos tornarmos perfeitos como Cristo foi perfeito (WHIDDEN, 2004, p. 15). Ele deixa de ser nosso divino substituto, e se torna nosso modelo de perfeição.

Devemos ter em mente que Cristo foi totalmente Deus e totalmente humano enquanto esteve na terra (NISTO Cremos, 2008, p. 56 a 66). Diversos autores abordam esse assunto de maneira equilibrada, (entre eles: DEDEREN, 2011; DONKOR, 2008; WHITE, 2007; KNIGHT, 2005; NISTO Cremos, 2008; QUESTÕES sobre doutrinas, 2008; RAMOS, 2004; RAND, 2008; RODOR, 2011 e 2008; WHIDDEN, 2004), assumindo que Cristo realmente assumiu a natureza humana (física), mas sem, contudo, se contaminar com o pecado (natureza moral). Era necessária a união entre as duas naturezas – divina e humana – para que houvesse uma reconciliação da humanidade com Deus, para esconder a divindade por trás da humanidade e para que Ele tivesse uma vida vitoriosa pois sua humanidade sozinha não poderia vencer as tentações de Satanás (NISTO Cremos, 2008, p. 67 a 69).

Cristo tomou sobre Si a natureza humana física em sua condição caída, nasceu com carne pecaminosa, contudo, sem ser um pecador (em sua natureza moral) (DONKOR, 2008, p. 22 e 23; RODOR, 2008, p. 47), sem participar, o mínimo que fosse, do seu pecado, afinal Ele nunca pecou (II Coríntios 5:21; I Pedro 1:19), e nEle não havia a propensão ao mal, nisso podemos apontar sua singularidade. Simplesmente Ele não era outro ou mais um homem, era Deus feito homem (RAND, 2008, p. 37). O fato dEle participar da natureza humana não O isentou de estar sujeito à enfermidades e fraquezas (Mateus 8:17), coisas inerentes ao pecado, nisso podemos apontar Sua identidade com a raça humana pós-queda (WHITE, 2007, p. 117).

Após leitura da bibliografia pesquisada para esta pesquisa, cremos que os termos que melhor se aplicam a questão da natureza humana de Cristo sejam os de Identidade – com nossa natureza pecadora física – e Singularidade – por ser sem pecado (WHIDDEN, 2004, p. 17, 19 e 20). Afinal, cremos que Jesus não era totalmente pós-queda, e nem pré-queda[3] (que está no outro extremo da discussão da natureza humana de Cristo)[4]. Um breve resumo do pré e pós-lapsarianismo pode ser visto no quadro a seguir:


Debilidades Inocentes[5]
Propensões Pecaminosas4
Adão antes da queda
Não
Não
Adão depois da queda
Sim
Sim
Cristo
Sim
Não
Fonte: Questões sobre doutrina, 444.

A identidade de Cristo com os seres humanos se reflete nas debilidades inocentes (dor, sede, fome, morte) que O acometeu, ou seja, Ele foi afetado pelo pecado,  identificando-se conosco (RODOR, 2011, p. 33), afinal era necessário que assim fosse para se tornar nosso substituto, como parte do plano de salvação em prol da humanidade caída. Ellen White diz que o objetivo da identidade de Cristo foi obedecer a lei de Deus, tornando-se nosso exemplo (WHITE, 2010, p. 139 a 141).

Já a singularidade de Cristo fala da sua impecabilidade humana, ou seja, Ele não era infectado pelo pecado (WHIDDEN, 2004, p. 42 e 43), era livre da corrupção, depravação hereditária e do pecado efetivo que nos acometem (NISTO Cremos, 2008, p. 64 e 65), afinal Ele era o perfeito Cordeiro pascal e que se houvesse pecado não poderia ser nosso perfeito exemplo para a salvação. Portanto, a identidade e a singularidade da natureza humana de Cristo, se combinam de forma perfeita e complementar para testemunhar que, mesmo após quatro mil anos de pecado, onde Adão falhou antes do pecado, Jesus (o segundo Adão) poderia vencer (e venceu) e se tornar nosso exemplo, mesmo que Ele estivesse afetado pelo pecado.

RESUMO

O pós-lapsarianismo em si mesmo não é a solução para o entendimento da natureza humana de Cristo. O mais coerente e convincente é buscarmos relacionar: 1) sua identidade com a humanidade, o fato dEle ter assumido à forma humana em carne pecaminosa e afetado pelo pecado, ter que sofrer as debilidades inocentes em sua experiência, para com isso poder redimir o ser humano e se tornar nosso exemplo único; 2) sua singularidade como Deus homem, Ele não era apenas mais um ser humano, era Deus, que foi afetado mas não infectado pelo pecado, pois não tinha propensões para o mal. A compreensão da união das naturezas divina e humana em Cristo foi, é e sempre será um mistério para nós. Sua morte na cruz afetou apenas Sua humanidade, mas nunca Sua divindade.

Esse é nosso incomparável Jesus Cristo, o segundo Adão, nosso Supremo exemplo, Deus conosco, nosso Salvador, que apesar de Sua singularidade como Deus-homem, nos entende como pobres e miseráveis pecadores que somos, carecidos de Sua graça, pois afinal Ele se identificou conosco ao tomar sobre si nossas fragilidades e nossos pecados tomou sobre si, entregando-se para que por Ele obtenhamos a vida eterna.

BIBLIOGRAFIA

DEDEREN, Raoul. Cristo: Pessoa e Obra. In: Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. 1ª edição. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011. Págs. 180–230.
DONKOR, Kwabena. A natureza de Cristo: a questão soteriológica. In: Parousia – Revista do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Ano 7, Nº 1. Engenheiro Coelho-SP: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista, 1º semestre de 2008. Págs. 19–30.
KNIGHT, George R. Uma exploração dupla da natureza humana de Cristo. In: Em busca de identidade – o desenvolvimento das doutrinas adventistas do sétimo dia. 1ª edição. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005. Págs. 120–128.
NISTO Cremos – As 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Deus Filho. 8ª edição. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008. Págs. 48–76.
QUESTÕES sobre doutrinas. A natureza de Cristo durante a encarnação. 1ª edição. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008. Págs. Págs. 435–467.
RAMOS, José Carlos. A condição humana de Jesus nos escritos de Ellen G. White. In: Parousia – Revista do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Engenheiro Coelho-SP: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista, 2004. Págs. 47–52. Disponível em: http://circle.adventist.org/files/unaspress/parousia2004024706.pdf. Acessado em 9 de outubro de 2012, às 15:30.
RAND, Benjamim (Pseudônimo). Que natureza humana Jesus assumiu? Não caída. In: Parousia – Revista do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Ano 7, Nº 1. Engenheiro Coelho-SP: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista, 1º semestre de 2008. Págs. 31–44.
RODOR, Amin A. O incomparável Jesus Cristo. 1ª edição. Engenheiro Coelho-SP: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista, 2011.
_____________. Cristo e os cristãos. In: Parousia – Revista do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia. Ano 7, Nº 1. Engenheiro Coelho-SP: Unaspress – Imprensa Universitária Adventista, 1º semestre de 2008. Págs. 45–73.
WHIDDEN, Woodrow W. Ellen White e a humanidade de Cristo. 2ª edição. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004.
WHITE, Ellen G. O desejado de todas as nações. 9ª edição. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
_____________. A encarnação. In: Mensagens Escolhidas, vol. 3. 3ª edição. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007. Págs. 125–142.




[1] Artigo apresentado a disciplina de Cristologia no Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, pelos alunos: Jailson Noronha; Jeovan de Souza; José Jeová; José Nilton; Josinaldo Bispo (Naldo JB)
[2] Pós-lapsarianismo significa depois do lapso, depois da queda, da entrada do pecado (Gênesis 3).
[3] Ou, pré-lapsarianismo. Defende que Jesus era um homem sem a tendência para recar igual à de Adão antes do pecado; Sua natureza moral e espiritual era como Adão antes da queda.
[4] Ambos os termos (pré e pós-lapsarianismo) se tornaram cheios de controvérsias das mais diversas, contendo pontos doutrinários equivocados e contrários ao que diz a Bíblia e o Espírito de Profecia.
[5]Debilidades inocentes” – coisas como fome, dor, fraqueza, tristeza, morte. “Propensões pecaminosas” – inclinação ou ‘tendência’ para pecar. Conceito defendido por Tim Poirier, do White Estate, após analisar o uso que Ellen White faz do Sermons by Henry Melvill intitulado “The Humiliation of the Man Christ” (KNIGHT, 2005, p. 126).

Você também pode baixar a palestra desse artigo clicando no botão abaixo.


Acesso Teológico
Naldo JB

2 comentários:

  1. Sem desmerecer o tempo despendido para o estudo dessa questão, existem pontos que, se estudados isoladamente, poderão ter uma resultante de pensamento diversa à apresentada aqui. No quadro debilidades inocentes, mostra-se Adão como isento de dor, sede, fome e morte. Isso é contestável: em Gênesis 2:21, Deus fez Adão cair em profundo sono para retirada de uma de suas costelas. Ora, se o homem não fosse suscetível à dor, Deus o teria feio com Adão acordado mesmo. Não faia sentido anestesiá-lo para o procedimento. Também, a história da criação mostra que Deus criou todas as coisas antes de criar Adão, montando um habitat ideal para manutenção da vida do homem na terra. Criou os vegetais que o homem (e os animais) comeriam, água, ar e a árvore da vida (a mesma, da qual os salvos terão que se alimentar de suas folhas, uma vez por mês, para se manterem vivos na nova terra). Nessa situação, vê-se Adão suscetível à dor, fome (até porque é necessária a transformação do alimento em energia, ou nutrientes, para a manutenção do corpo físico, ou seja, essa é uma caraterística de toda a vida física, não espiritual), sede (ou não beberia água) e morte (ou não precisaria comer da árvore da vida, conforme se entende em Gênesis 3:22). Ou seja, no quadro que mostra "Não" para as debilidades inocentes de Adão, deveria haver um "Sim", tornando essas características iguais às de Cristo. O propósito central da salvação é dividido em duas partes: a primeira (que é o foco da discussão entre pré e pós lapsarianismo) era provar que era possível ao homem (eu acredito que o ainda não caído) abster-se do pecado. A segunda era pagar o resgate, com sangue inocente (louvado seja o nome do Senhor), pelo Adão caído, o que não é discussão desse tema. Nós receberíamos, por herança, o benefício que também receberíamos se Adão escolhesse não pecar. O ponto-chave está no homem ainda não caído, não no homem já corrompido pelo pecado. Ainda, com relação ao pecado, se considerarmos que Cristo é homem como nós (não na natureza física, mas moral), então nos é possível também não pecar, o que está incorreto. Nós só venceremos o pecado se recebermos, pelo Santo Espírito, o caráter de Cristo. Se este fosse também o caráter de homem, não haveria, para nós, sucesso.

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  2. No texto anterior esqueci de mencionar que se considerei o Adão antes da queda.

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